segunda-feira, 13 de outubro de 2025

NA RESSACA DAS AUTÁRQUICAS

 


(Apesar de algumas vitórias saborosas do PS, com particular destaque para Bragança, Coimbra, Faro e Viseu, e daqui expresso as minhas felicitações aos quatro candidatos vencedores, com duas mulheres de armas nessas vitórias, Ana Abrunhosa e Isabel Ferreira, a dinâmica de governação de Montenegro e companhia fizeram os ventos soprar para uma vitória global em toda a linha da AD, que lhe deve assegurar a presidência da Associação Nacional de Municípios. O faz-tudo e manipulador Ventura terá ontem percebido que tem de dar o litro nas Presidenciais de janeiro para manter a chama das legislativas. A sua expressão a norte é ainda pouco significativa e confirmam-se alguns dos seus bastiões a sul, mas o número de Câmaras alcançado é frustrante para a sua ambição. Na vitória global da AD, apesar do peso do PS nas capitais de distrito lhe assegurar uma cobertura territorial apreciável, emerge um fator inequívoco – o fator do grande voto urbano foi-lhe favorável, Lisboa, Porto, Sintra e Vila Nova de Gaia, embora não entrando em fortificações do PS como Matosinhos – que pode ter interpretações diversas, mas seguramente que o impacto das benesses da governação terá tido alguma influência. Pizarro é derrotado no Porto contrariando a sua insistência, mas a distribuição por freguesias na Cidade mostra uma estranha e preocupante dicotomia, o oeste da Cidade para a AD e o centro e leste para o PS, que talvez não seja indiferente ao discurso de Cidade de Pedro Duarte. Frustrantes são os votos perdidos à esquerda do PS, incluindo o semi-incumbente Filipe Araújo que com este resultado acabou com o movimento que levou Rui Moreira ao poder. Em Lisboa, como antecipava, a teimosia do bem preparado João Ferreira, que procura com a sua votação ganhar posição num enfraquecido PCP, acabou por inviabilizar uma vitória da esquerda. Jorge Sampaio se estivesse entre nós certamente zurziria nesta teimosia fatal para a esquerda, apesar do entusiasmo de Alexandra Leitão, Mariana Mortágua e Rui Tavares.)

Resumindo, poderá dizer-se que o PSD regressa ao seu estatuto de grande partido nacional, embora algo debilitado a sul, com a exceção da grande vitória em Beja, ganha a Associação Nacional de Municípios e adquire aqui algum elã para um novo ciclo de governação, onde as dificuldades orçamentais irão começar a emergir. O PS tem um tónico de recuperação de algumas forças e abre-se-lhe em Bragança, Coimbra, Faro e Viseu uma grande oportunidade de fazer melhor. CDU e CDS conseguem passar entre os pingos da chuva, apesar de algumas derrotas da primeira, permanecendo com algum capital local, não muito, mas suficiente para não desaparecer do mapa. Quanto ao Chega, Ventura terá percebido que não tem o eleitorado à sua mercê e que o salto que pretendia assegurar é demasiado para um só candidato. Esperem, por isso, uma campanha escabrosa e de ruído que baste nas Presidenciais de janeiro próximo, pois esse momento será no tempo eleitoral a derradeira oportunidade para manter a chama das últimas legislativas.

Como é hábito, nestas eleições confronto sempre os resultados com a minha pegada territorial. Em Vila Nova de Gaia, onde resido, fiquei consciente do revanchismo que Luís Filipe Menezes vai trazer ao executivo municipal a partir da sua declaração de vitória. Vamos assistir ao pior do populismo revanchista. Estejam atentos. A derrota do PS em Oliveira do Douro é histórica e dolorosa até porque o candidato Filinto Lima era do melhor que o PS poderia apresentar. Em Matosinhos, onde trabalho, o bastião do PS é seguro, sendo necessário começar a preparar uma alternativa a Luísa Salgueiro que fará o seu último mandato, mas o PS nestas coisas do planeamento é canhestro. No Porto, em que residem os meus netos nortenhos, o Bonfim continua PS, sociologicamente é um bálsamo para isto. Em Lisboa, em que residem os meus netos lisboetas, Alcântara, com uma excelente Junta de Freguesia, continua PS, o que significa que a atmosfera convivial do Jardim de Santo Amaro (ou Avelar Brotero) continua respirável. Em Caminha, apesar de uma vitória da AD de Liliana Silva, com Vila Praia de Âncora a decidir como o costume, em Seixas, o meu lugar de refúgio, o PS continua a dominar.

Por conseguinte, “mixed feelings”, mas atmosferas ainda largamente respiráveis. É o que se leva desta vida, em tempos tão conturbados.

 

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