quarta-feira, 15 de outubro de 2025

DEIXEM-SE DE TRETAS!

Não é bonito o que parece estar a acontecer no Partido Socialista! Já tinha tido algumas perceções difusas nesse sentido mas a prestação de ontem à noite de Duarte Cordeiro no “Now” deixou-me esclarecido quanto ao que se poderá estar a preparar por parte de uma fação partidária que compactuou sem tergiversações com a instável e radicalizada liderança de Pedro Nuno Santos (PNS) e se mostra agora crítica da alegada falta de estratégia de José Luís Carneiro (JLC). Ao que vou sabendo, os protagonistas deste desmando são vários e apresentam-se largamente concentrados em termos geográficos (sulistas, elitistas e pouco liberais?), com José António Vieira da Silva e sua filha Mariana, por um lado, e Pedro Adão e Silva (um não filiado com largas responsabilidades colaboracionistas), por outro, a surgirem como oposicionistas destacados pela sua proeminência público-mediática e a declinarem a sua influência no seio de um aparelho de caciques distritais sempre disposto a virar casacas entre patifarias de vária espécie.

 

Com efeito, estamos perante gente que assistiu impavidamente a escolhas esdrúxulas de PNS, quer em matéria de tática política (já não falando do chumbo do OE que gerou toda a complicação subsequente e que foi a causa de todos os males de maio, e especificidades locais devidamente descontadas, sublinhe-se a inconsistência de uma aliança com toda a esquerda sem o PCP em Lisboa, de uma coligação mais limitada em Sines ou de um “orgulhosamente” sós no Porto, em Gaia e em Cascais...) quer quanto a nomes designados para encabeçar listas relevantes (João Paulo Correia em Gaia, Manuel Pizarro no Porto, António Braga em Braga, Alberto Souto em Aveiro, Ricardo Costa em Guimarães, José Manuel Ribeiro na Maia ou mesmo Alexandra Leitão e Ana Mendes Godinho em Lisboa e Sintra...), para não referir diversos casos mal geridos como os de Aljezur, Belmonte, Condeixa-a-Nova, Soure e Vila Nova de Poiares, entre outros.

 

Claro que importa não esconder as circunstâncias que limitam JLC, assim como a sua atitude natural e quase envergonhada de moderação à outrance. Sendo que, ao invés do que eram as expectativas dominantes, o secretário-geral do PS, não sendo um ás da política como Soares ou Sampaio (a altura da fasquia levanta sempre estas dificuldades nos socialistas!), tem estado genericamente bem, não cometendo erros de monta e adquirindo esforçada e paulatinamente as rotinas e a ronha necessárias para levar a sua carta a Garcia (os resultados das Autárquicas não deixaram de ser promissores e reveladores de que existem soluções na área socialista – Bragança e Coimbra, Faro e Viseu, são disso diferentes ilustrações cabais), exigindo-se-lhe agora a entrada numa nova fase de liderança mais centrada na reflexão interna ao partido, na abertura deste ao exterior e na sua indispensável e vital reconfiguração estratégica (é assustador o peso das dependências dos socialistas em relação a muitas das componentes mais envelhecidas, conservadoras e obsoletas da nossa sociedade). JLC precisa de tranquilidade e de tempo, portanto, não de deslealdade e ruído – o comportamento de Fernando Medina é, a este nível, o mais exemplar a que tenho vindo a assistir, seja porque está mais de fora do que os restantes camaradas seja porque é mais sofisticado e menos imediatista na expressão dos seus sentimentos políticos; e também António Mendonça Mendes tem dado sinais de algum empenho no sentido de ser mais parte da solução do que do problema.

 

Confesso que não conheço os termos exatos da alternativa que alguns parecem querer encarnar. O que não posso desconhecer é a crise que subitamente se apoderou das opções de esquerda pura e dura, com o Bloco a ser a face visível desse novíssimo espantalho. E, assim sendo, o que julgo pertinente é que se cerrem fileiras no Largo do Rato em torno de JLC – seja para possibilitar uma verdadeira e partilhada renovação da social-democracia em Portugal e uma afirmação da sua capacidade de disputa do poder, seja para abrir espaço a saídas defensivas de bloco central tornadas imprescindíveis perante um alastramento do populismo e da extrema-direita, hipóteses que não julgo serem de todo mutuamente exclusivas.

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