quarta-feira, 8 de outubro de 2025

O QUE DIZ A ARITMÉTICA ELEITORAL SOBRE O POPULISMO TERRITORIAL APÓS OUTUBRO 12?

(Felipe Hernández, “Caín”, http://www.larazon.es) 

Encerro as minhas elucubrações em torno dos possíveis resultados eleitorais de 12 de outubro com uma nota aplicada à previsível extensão da representatividade nacional do Chega que deles advirá. Com efeito, já quase não existem comentadores e analistas que não o vaticinem, assim tendendo a sustentar a ideia de que, o que quer que ocorra em termos concretos, será a extrema-direita a maior ganhadora da auscultação democrática em causa.

 

Volto a recorrer, neste exercício final, à estrita informação decorrente da aritmética eleitoral pura e dura, deixando cair as considerações políticas gerais, coligacionais, locais, factuais e pessoais que, definitivamente, comandarão as escolhas dos cidadãos e as sentenças que determinantemente deles advirão. O racional associado a este derradeiro ensaio tem como pressupostos o de que o Chega ainda não atingiu o seu limite máximo em termos de crescimento, o de que a redução das abstenções é uma fonte decisiva do respetivo incremento de votos e o de que importa procurar perspetivar a medida em que a margem potencial de subida remanescente a partir do peso adquirido, da sua evolução entre 2021 e 2025, da variação ocorrida nas abstenções durante esse período e do peso relativo destas em cada um dos anos.

 

A consequência desta experiência sintetiza-se, primariamente, no seguinte dado geral: o risco de o Chega ter significativa expressão eleitoral nas eleições em curso, seja através de conquistas de presidências de Câmara ou de vereações importantes, ronda os 47% de concelhos; a quase inexistência de um risco dessa natureza andará por 20% dos municípios nacionais; as situações híbridas, mas de risco possível mas controlado, abrangerá em torno de um terço das autarquias existentes. Risco grande, portanto, talvez mesmo excessivo no tocante a uma implantação territorial já razoavelmente conseguida por parte da extrema-direita, mas ainda um risco não tão avassalador quanto prognosticam os mais pessimistas e defensores de que teremos um mapa de Portugal quase integralmente coberto pela presença no terreno de Ventura e seus pares; também porque a identificação de um risco deste tipo acaba sempre por desembocar num percentual não desprezível de concretizações falhadas.

 

Vejamos então os mapas que obtive e deixo à avaliação dos mais entendidos em matéria de Ciência Política e da sua aplicabilidade à atual política nacional e local, embora querendo também registar algumas considerações que julgo pertinentes. No tocante às situações de Risco Baixíssimo, Baixo ou Muito Baixo: (i) 11 dos 15 municípios com grau praticamente inexistente de risco (a verde mais carregado no mapa abaixo) localizam-se na Região Autónoma dos Açores, estando os restantes 4 sediados em Trás-os-Montes e Alto Douro (Vinhais, Vimioso, Miranda do Douro e Ribeira de Pena); (ii) são 5 os concelhos em que o Chega venceu nas últimas Legislativas e que aqui surgem identificados de Risco Baixo (Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal e Vila Franca de Xira) e que assim se somam aos 15 que caem em zona de algum risco mas não elevado (Alenquer, Almeirim, Azambuja, Barrancos, Benavente, Entroncamento, Lagos, Loulé, Marinha Grande, Moita, Montijo, Olhão, Portimão, Salvaterra de Magos e Vila Nova da Barquinha); (iii) os casos restantes concentram-se a Norte do País e mais no Interior do que no Litoral, apesar de alguma incidência ser também observada na Grande Lisboa e na Península de Setúbal.

(Elaboração própria a partir de https://www.cne.pt)

(Elaboração própria a partir de https://www.cne.pt) 

Quanto às situações de Risco Alto, Muito Alto ou Altíssimo: (i) de entre os 60 concelhos em que o Chega venceu nas últimas Legislativas, são 37 os que aqui aparecem identificados como de risco altíssimo (a vermelho mais carregado no mapa acima), muito deles de relativamente escassa dimensão demográfica e socioeconómica (Aljezur, Almodôvar, Alpiarça, Alter do Chão, Alvito, Campo Maior, Chamusca, Constância, Fronteira, Sobral de Monte Agraço, Sousel, Estremoz, Ferreira do Alentejo, Golegã, Lagoa, Monforte, Moura, Mourão, Odemira, Ponte de Sôr, Reguengos de Monsaraz, Vendas Novas, Viana do Alentejo, Vidigueira e Vila do Bispo) mas incluindo uma dúzia bem mais relevante (Abrantes, Albufeira, Beja, Castro Marim, Elvas, Nazaré, Peniche, Silves, Sines, Sintra, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa); (ii) despontam alguns municípios a Norte como podendo vir a tornar-se pioneiros em termos de afirmação local do Chega (mormente 12: Amares, Barcelos, Felgueiras, Lamego, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes, Ponte de Lima, Póvoa de Lanhoso, Trofa, Vila do Conde e Vizela); (iii) o Interior Norte parece vir a tornar-se o último bastião de resistência à penetração da extrema-direita, contrariamente a uma presença em crescendo na Beira Baixa, Vale do Tejo e Alentejo, a uma comparência marcante no Algarve (apesar de menor do que seria expectável à luz da varridela ocorrida na Região em 18 de maio) e à conquista potencial, e que seria retumbante, de um dos grandes concelhos do País (Sintra).

 

Eis, portanto, o meu contributo pessoal para que o leitor melhor possa acompanhar a noite eleitoral e, sobretudo, aquilatar do grau em que o País real está efetivamente rendido ou amorfo em relação ao discurso fácil, demagógico e mentiroso do Chega.

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