sexta-feira, 10 de outubro de 2025

FALAR CLARO

 

(A crónica de Susana Peralta hoje publicada no jornal Público descreve bem o meu posicionamento quanto às eleições autárquicas e à necessidade de os eleitores mais conscientes combinarem a apreciação dos seus eleitores de proximidade com um juízo político mais alargado sobre o momento político em que o país se encontra. O pensamento de Peralta é expresso em relação às eleições de Lisboa e aí obviamente, embora não votando nesse círculo, creio que o fundamental é barrar o caminho a mais um mandato de ilusão, de imagens falseadas e de forte probabilidade de entendimentos com o Chega protagonizado por Carlos Moedas. Peralta fala objetivamente de voto útil na coligação de esquerda liderada por Alexandra Leitão do PS e é essa clareza que devemos assumir. Pode discutir-se se tal opção não representa uma fortíssima injustiça para com o candidato da CDU, João Ferreira, que é talvez o candidato mais bem preparado em termos de intervenção técnica possível, com cunho social, na Câmara Municipal de Lisboa. Mas impõe-se aqui clareza de raciocínio. João Ferreira, ao rejeitar a integração na coligação, através da qual poderia facilmente ter uma intervenção relevante na gestão da autarquia, está a sujeitar o eleitorado potencialmente atraído pelo projeto da CDU a uma decisão que não entra em linha de conta com o contexto político global do país. Será que o fundamental não é barrar o caminho a mais um mandato de ilusões de Moedas e a um mais que provável acordo com o Chega? Não poderia esse objetivo ser alcançado com a CDU na coligação e a negociação de um espaço de intervenção na mesma? Claro que podia e só o ego destemperado do candidato explica essa teimosia. Nestas condições, a opção do voto útil justifica-se ainda que ela possa conduzir a uma improvável, entendo eu, não eleição de João Ferreira.)

O mesmo raciocínio pode ser estendido ao Porto, onde, apesar da sobriedade e qualidade dos candidatos da CDU, do Bloco de Esquerda e do Livre, me parece que a candidatura de Manuel Pizarro, porventura não entusiasmante, me parece ser a mais válida para coartar um projeto de Cidade da AD e da Iniciativa Liberal que parece talhado mais para as amenidades da Foz e adjacências do que para a Cidade como um todo. A conceção de Cidade que Pedro Duarte trouxe para os debates, a da Iniciativa Liberal nem é percetível, não é seguramente a de uma Cidade moderna, mas antes o produto de um conservadorismo urbano, mascarado com questões de sustentabilidade, metidas a martelo no discurso. Votos em Nuno Cardoso e em Filipe Araújo pouco acrescentarão à exigência de suster o conservadorismo urbano.

Outros municípios haverá em que a qualidade e confiança em candidatos de proximidade poderão sobrepor-se a circunstâncias de voto útil. Mas mesmo nesses casos e por mais que os candidatos do Chega apareçam disfarçados de meninas ou meninos de capuchinho vermelho, não pode esquecer-se a exigência de barrar ao Chega a implantação territorial que pretende alcançar, como alavanca de tomada futura do poder.

Não deixam de ser eleições autárquicas. Eu sei e é necessário honrar a descentralização. Mas o contexto em que estas eleições autárquicas irão ser realizadas é único no passado recente. E, por isso, o racional do eleitor mediano não pode ignorar o circunstancialismo do voto útil.

 

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