domingo, 26 de outubro de 2025

O ESTADO SOCIAL POR MÃOS ALHEIAS

(Nuno Saraiva, https://www.publico.pt)

O “Público” de ontem tinha uma primeira página muito bem conseguida em que o cartunista Nuno Saraiva fazia jus àquela velha máxima que postula quanto uma imagem pode valer mais do que mil palavras. No caso, está em causa o crescente deslaçamento do nosso Estado Social por força da recusa persistente dos governantes nacionais em darem espaço a reais processos de descentralização que tomem em conta as necessidades diversas do território e por força de adicionais imposições financistas transformadas em dogma pelos governantes europeus e adotadas servilmente, não sem alguma diferenciação em termos de inteligência aplicativa e grau de mimetismo criativo, pelos obedientes lusitanos, de Costa (com Centeno, Leão e Medina) a Montenegro (com Sarmento). A Saúde tem sido, visivelmente, o setor mais atingido por tais práticas, com impacto manifesto e por vezes vergonhoso na vida do cidadão comum (os 15 partos levado a cabo pelos bombeiros da Moita são disso uma ilustração caricata, to say the least), embora outras áreas associadas a uma decisiva presença do Estado sofram igualmente de uma intolerável exponenciação de fragilidades (a Educação será talvez o caso mais dramático, até pelas consequências futuras que inevitavelmente decorrerão da sua debilidade e do seu mau funcionamento presentes, mas situações como a do Elevador da Glória ou das filas de imigrantes à porta da AIMA não deixam de ser reveladoras de abandalhamentos inaceitáveis). Tempos complexos que a palavra também capta magistralmente, como no parágrafo com que Helena Roseta nos brindava há dias na correspondência dos leitores daquele jornal: “Tanto descuido em procedimentos essenciais para a nossa vida quotidiana não é uma exceção em Portugal. Fica-me de tudo isto um sentimento doloroso e triste, um ‘golpe até ao osso’, ‘meu remorso de todos nós’, com escreveu Alexandre O’Neill.”

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