terça-feira, 14 de outubro de 2025

AINDA O NOBEL DE ECONOMIA


 

(Na minha crónica de ontem sobre a atribuição do Nobel de Economia a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt insisti especialmente nos contributos de Aghion e Howitt, deixando descobertas referências a Mokyr. Aliás, o modo como de atribuição do prémio monetário, que consistiu em 50% para Mokyr e 50% a repartir entre Aghion e Howitt permite compreender a importância de se dedicar alguma autonomia de comentário à obra de Mokyr. A minha insistência de ontem em Aghion e Howitt deve-se ao facto de pretender relevar a importância do conceito de destruição criadora, cuja formalização enquanto teoria do crescimento se deve precisamente a Aghion e Howitt. O contributo de Joel Mokyr não é menos importante, embora aconteça no domínio da história económica e dentro desta a análises essencialmente qualitativas da história da evolução tecnológica, o que não significa de todo que Mokyr não domine, antes pelo contrário, a história quantitativa. Mas é importante assinalar que a academia sueca tenha atribuído 50% do prémio a um historiador da evolução tecnológica. Mas é uma atribuição justa e explico a razão desta minha afirmação. A construção de narrativas históricas consistentes e rigorosas sobre a evolução tecnológica revestiu-se de importância crucial para a construção da teoria evolucionista da inovação. Foi a construção dessas narrativas que permitiu chegar à conclusão de que a explicação que o mainstream da economia alicerçado na concorrência perfeita oferecia da inovação era lacunar, não dando conta da importância dos fenómenos cumulativos de produção de conhecimento e aprendizagem de produção. O que os modelos de Aghion e Howitt fizeram foi formalizar o conteúdo analítico dessas narrativas, cuja densidade de evidência é fundamental para compreender a aderência à realidade das novas teorias. A importância dos historiadores económicos da inovação veio suprir o até então predomínio das narrativas meramente tecnológicas, construídas por engenheiros e tecnólogos. Joel Mokyr está entre esses contributos de importância agora definitivamente reconhecida.)

A Joel Mokyr deve-se essencialmente a construção de uma narrativa da progressão tecnológica alicerçada na relevância das ideias e na acumulação de conhecimento transformável em valor económico. Deve-se a Mokyr a ideia de que existem invenções não explicadas por fatores económicos, cuja extensão em formas concretas de inovação exige todo um outro conjunto de evidências, com particular relevância para a combinação de diferentes tipos de conhecimento, científico e prático. Mokyr é dos primeiros a compreender nas suas narrativas que a organização do conhecimento é essencial e não será por acaso que hoje, também em Portugal, se estudam os diferentes modelos de governança possível para articular conhecimento científico e inovação, centros de investigação e empresas. Aconselharia a muita gente ilustre que barafusta com a reorganização da FCT em Agência de Ciência e Inovação a ler a obra de Mokyr e as suas narrativas para compreender que a questão essencial está na combinação de diferentes tipos de conhecimento.

Reconhecer que a atribuição de um Nobel permite dar notoriedade a estas ideias, por vezes mal compreendidas pelos protagonistas da investigação fundamental, bastaria para regozijar-nos com esta atribuição.

 

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