(Apesar da modorra algarvia do último fôlego de férias de 2025, estou perplexo, preocupado e revoltado com o silêncio fúnebre que se instalou entre as instituições democráticas deste país, nelas incluindo toda a comunicação social, sobre a vigilância orquestrada pelo Ministério Público, logo com a anuência de um juiz, devassando a vida do Juiz Ivo Rosa para responder a uma denúncia anónima, tão conveniente em termos processos e de timing. O país democrático assiste impávido e sereno a esta violação flagrante do estado de Direito, devassando a vida do Juiz durante três anos, para depois aguardar destruição dada a completa ausência de evidência para colocar Ivo Rosa em situação de inferioridade posicional. Ficamos a saber com espanto e preocupação que o Ministério Público usa estes métodos para combater os que o criticam e decidem em oposição às suas teses por vezes mirabolantes. É da mais pura intimidação que se trata, arrasando tudo o que é sagrado nas regras do estado de Direito, juízes a perseguir juízes em função de agendas cada vez mais controversas. E o que mais preocupa em tudo isto é o adormecimento total e suspeito das instituições que deveriam denunciar com veemência esta prática, a começar pelo Presidente da República, tão propenso a falar por tudo e por nada e silencioso em relação a esta verdadeira afronta às regras do Estado democrático. O silêncio da comunicação social é estrondoso, louve-se nesse sentido os painelistas do Eixo do Mal a denunciar, ontem, com veemência a situação.)
Podemos interpretar este exasperante silêncio ou como prova de medo e cobardia, o autoritarismo precisa dos dois como tónico para a sua afirmação, ou como sinal de entorpecimento, evidenciando muito provavelmente que uma onda autoritária no país será acolhida com encolheres de ombros. Benignamente acredito que é a segunda realidade que temos pela frente, já que ela vem anunciada desde há algum tempo, está já enraizada em muita gente e em muitas instituições, considerando que defender a democracia dos autoritarismos corporativos e de toda a espécie é uma valente chatice.
A dúvida consiste em saber que dimensão tem a agenda no interior do próprio Ministério Público. A falta de escrutínio existente leva a colocar essa interrogação, acreditando que a instituição tem uma massa importante de servidores que está alheia a toda esta deriva persecutória de quem ousa pensar e decidir por outras vias, expondo as múltiplas inconsistências da prática da instituição. O silêncio do Procurador-Geral da República é ainda mais ensurdecedor. Mas o dos partidos políticos não é menos vergonhoso. Começamos a perceber que a democracia pode cair, não de madura, mas de adormecimento e alheamento face ao que importa realmente discutir.

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