Passava eu os olhos pelas capas dos jornais desta manhã quando me vi iluminado pela ideia de quanto elas eram reveladoras do atual estado do País em termos económicos, sociais e políticos. E logo me recordei de uma entrevista de vida recentemente concedida por Rui Vilar ao “Jornal de Negócios” em que, da forma elegante que se lhe conhece, não criticava a evidência de estarmos em perda no enfrentamento urgente dos problemas de ordem estrutural que de há muito e crescentemente nos afetam mas preferia simplesmente recorrer a uma proxy consistindo em afirmar que “o País baniu completamente os exercícios de Planeamento”. Efetivamente, a economia nas palavras utilizadas e o evitar de hipérboles sempre acintosas constitui, no tocante ao modo de estar no seio de uma coletividade, um elemento de diferenciação positiva que só está ao alcance dos mais lúcidos...
Para sinalizar o essencial, a nossa incapacidade organizacional e estratégica, Rui Vilar não necessita de tocar diretamente nas nossas inércias – como a continuada dependência do turismo, a atração pelos ganhos conjunturais do imobiliário ou a indiferença perante a necessária valorização dos transacionáveis – nem nas nossas maldições de estimação, mais ideológicas do que reais, em matérias como a da legislação laboral ou a da diabolização da imigração. E também não precisa de descer ao concreto do nosso quotidiano, entre medidas chamativas mas tendentes a desestabilizar as contas públicas, opções de política assentes em palpites e modas ou concentrações territoriais impróprias de sociedades capazes de interrogar o real sentido e alcance do tipo de desafios que têm pela frente para assim lhes responderem com as opções mais adequadas e conformes. E os tais exercícios de Planeamento – nascidos nos Planos de Fomento e desenvolvidos nos tempos áureos do investimento público e das Grandes Opções do Plano – bem falta fazem para nos assegurarem o regresso de dinâmicas de reflexão e aprendizagem coletiva que chegaram a ter expressão saliente no seio de uma sociedade portuguesa marcada por uma transformação conscientemente monitorada.


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