(Recebo com agrado a notícia de que Elisa Ferreira será a nova Comissária Europeia
indicada por Portugal e lanço-me na sugestiva comparação de duas notícias do Público
sobre o tema, a de domingo 25 assinada por Ana Sá Lopes e a de hoje proveniente
da Lusa. Seria interessante investigar
o que deu origem à notícia de 25, talvez ficássemos melhor informados sobre algum
jornalismo que se vai praticando por aí.)
Nunca escondi que não morri de amores pela
liderança atribuída pelo PS a Pedro Marques na lista para as eleições europeias,
por isso votei, sem êxito e lamento-o, em Rui Tavares. Gosto de ser claro
nestas coisas, a empatia na política é para mim crucial e o candidato Pedro Marques
era para mim o seu contrário, por muito respeitável que a sua ascensão social e
política se tenha revelado. Não ocultei também a minha intuição de que a eleição
de Ursula von der Leyen e a sua aposta na paridade de género para o Colégio de
Comissários Europeus tinha representado a morte na praia da ambição de Pedro
Marques de suceder a Carlos Moedas como membro desse Colégio por indicação de
Portugal. E ainda mais confiante fiquei na minha intuição quando compreendi que
Elisa Ferreira seria o outro nome proposto por António Costa.
Depois da sua valiosa experiência de forte e
criteriosa participação no Parlamento Europeu, só um (a) lunático (a) imaginaria
que Ursula von der Leyen trocaria um curriculum interno (o de Pedro Marques)
por um de manifesta dimensão internacional, bem mais em linha com o futuro que
se abre aos Portugueses mais preparados. Todos conhecem o meu pudor excessivo em
falar de gente com expressão política pública que me seja próximo e por isso frequentemente
me inibo de elogiar quando o mereceriam. Vou admitir neste caso uma exceção,
pois a Elisa merece-o em linha com as responsabilidades, desafios e batalhas em
que tem participado, desde os já longínquos tempos da Faculdade de Economia do
Porto e da sempre recordada OID para o vale do Ave (que tempos esses!) até à
sua intervenção política de governação, experiência europeia em Estrasburgo e
Banco de Portugal. Por isso, tudo está bem quando acaba bem e estou certo que a
Elisa encontrará a energia, coragem e motivação necessárias para uma presença que
faça a diferença no Colégio de Comissários, imaginando uma relação de forte proximidade
e cooperação com Ursula von der Leyen.
Mas voltando à notícia do Público de domingo
25, em que a autoria da Diretora-Adjunta a projeta para a primeira página do
jornal, escrevia-se mais ou menos que Pedro Marques tinha ganho uma nova força
na sua candidatura a Comissário Europeu, pois segundo a notícia António Costa
teria associado o nome de Elisa Ferreira à pasta das Finanças e essa estaria
naturalmente vedada a Portugal dada a posição de Mário Centeno no Eurogrupo. Claro
que não acredito em bruxas, mas que las hay não tenho dúvidas. A notícia de
domingo cheira assim a uma desesperada tentativa de marcar o nome de Pedro
Marques como a grande escolha de Costa, sabe-se lá com que intenções, se
atingir o próprio Costa com a escolha anunciada de Elisa, se fornecer um último
fôlego à candidatura moribunda de Marques, se por motivo de algum agravo face a
Elisa Ferreira. Um bom jornalismo ter-se-ia informado que o encontro de Ursula
von der Leyen com Pedro Marques e Elisa Ferreira não foi similar e mais do que
isso teria percebido que a diferença entre os dois candidatos estava na diferença
gama de pastas que ambos poderiam abraçar.
Mas a harmonia das coisas recompôs-se e
retomo assim a paz de espírito das minhas intuições.
E de novo, como tantas vezes o expressei
neste blogue, justifica-se o desabafo de Bradford DeLong relativo à imprensa
americana: Oh can’t we have a better press corp?
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