terça-feira, 27 de agosto de 2019

A NOTÍCIA




(Recebo com agrado a notícia de que Elisa Ferreira será a nova Comissária Europeia indicada por Portugal e lanço-me na sugestiva comparação de duas notícias do Público sobre o tema, a de domingo 25 assinada por Ana Sá Lopes e a de hoje proveniente da Lusa. Seria interessante investigar o que deu origem à notícia de 25, talvez ficássemos melhor informados sobre algum jornalismo que se vai praticando por aí.)

Nunca escondi que não morri de amores pela liderança atribuída pelo PS a Pedro Marques na lista para as eleições europeias, por isso votei, sem êxito e lamento-o, em Rui Tavares. Gosto de ser claro nestas coisas, a empatia na política é para mim crucial e o candidato Pedro Marques era para mim o seu contrário, por muito respeitável que a sua ascensão social e política se tenha revelado. Não ocultei também a minha intuição de que a eleição de Ursula von der Leyen e a sua aposta na paridade de género para o Colégio de Comissários Europeus tinha representado a morte na praia da ambição de Pedro Marques de suceder a Carlos Moedas como membro desse Colégio por indicação de Portugal. E ainda mais confiante fiquei na minha intuição quando compreendi que Elisa Ferreira seria o outro nome proposto por António Costa.

Depois da sua valiosa experiência de forte e criteriosa participação no Parlamento Europeu, só um (a) lunático (a) imaginaria que Ursula von der Leyen trocaria um curriculum interno (o de Pedro Marques) por um de manifesta dimensão internacional, bem mais em linha com o futuro que se abre aos Portugueses mais preparados. Todos conhecem o meu pudor excessivo em falar de gente com expressão política pública que me seja próximo e por isso frequentemente me inibo de elogiar quando o mereceriam. Vou admitir neste caso uma exceção, pois a Elisa merece-o em linha com as responsabilidades, desafios e batalhas em que tem participado, desde os já longínquos tempos da Faculdade de Economia do Porto e da sempre recordada OID para o vale do Ave (que tempos esses!) até à sua intervenção política de governação, experiência europeia em Estrasburgo e Banco de Portugal. Por isso, tudo está bem quando acaba bem e estou certo que a Elisa encontrará a energia, coragem e motivação necessárias para uma presença que faça a diferença no Colégio de Comissários, imaginando uma relação de forte proximidade e cooperação com Ursula von der Leyen.

Mas voltando à notícia do Público de domingo 25, em que a autoria da Diretora-Adjunta a projeta para a primeira página do jornal, escrevia-se mais ou menos que Pedro Marques tinha ganho uma nova força na sua candidatura a Comissário Europeu, pois segundo a notícia António Costa teria associado o nome de Elisa Ferreira à pasta das Finanças e essa estaria naturalmente vedada a Portugal dada a posição de Mário Centeno no Eurogrupo. Claro que não acredito em bruxas, mas que las hay não tenho dúvidas. A notícia de domingo cheira assim a uma desesperada tentativa de marcar o nome de Pedro Marques como a grande escolha de Costa, sabe-se lá com que intenções, se atingir o próprio Costa com a escolha anunciada de Elisa, se fornecer um último fôlego à candidatura moribunda de Marques, se por motivo de algum agravo face a Elisa Ferreira. Um bom jornalismo ter-se-ia informado que o encontro de Ursula von der Leyen com Pedro Marques e Elisa Ferreira não foi similar e mais do que isso teria percebido que a diferença entre os dois candidatos estava na diferença gama de pastas que ambos poderiam abraçar.

Mas a harmonia das coisas recompôs-se e retomo assim a paz de espírito das minhas intuições.

E de novo, como tantas vezes o expressei neste blogue, justifica-se o desabafo de Bradford DeLong relativo à imprensa americana: Oh can’t we have a better press corp?

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