sexta-feira, 30 de agosto de 2019

APRENDIZAGEM POLÍTICA

(Com a devida vénia ao Fernando Campos)


(Acabo de ver a entrevista de Mário Centeno à cada vez mais elegante e profissional Ana Lourenço e, contrariando o que poderia pensar no início da legislatura, hoje não tenho dúvidas de que o ministro das Finanças pode ser considerada a principal mais-valia que este governo transporta para o ato eleitoral de 6 de outubro. Uma evidência mais para demonstrar algo que penso já há muito tempo: não menosprezem a aprendizagem dos agentes políticos em plena governação.)

Recordo que, em plena formação do governo da geringonça e no seguimento da plataforma de preparação primeiro do programa do PS, depois do Governo, ninguém questionou a competência técnica de Mário Centeno. Mesmo sabendo que Centeno é um economista com prestígio académico internacional inequívoco na área da economia do trabalho e não nas finanças, a sua exposição pública no processo de preparação do programa do governo com adaptação do modelo macro com que o PS se apresentou às eleições permitiu clarificar que não seria por falta de competência técnica que o ministério das Finanças abriria brechas.

A questão que se levantava na altura e eu próprio alinhava com essas reticências era a de saber se Centeno tinha estaleca para suportar o desgaste que o cargo de ministro das Finanças representa, sobretudo num país em que a cada cavadela aparecia uma minhoca mais problemática em matéria de situação da banca. É curioso notar que a própria presença física de Centeno se foi alterando à medida que a governação da geringonça ia avançando. Dos tempos em que Centeno parecia um aluno no meio de mestres até à segurança dos últimos tempos, bem visível na entrevista de hoje. Talvez a passagem a presidente do Eurogrupo tenha sido o clique de autoconfiança que o ministro precisava para se impor definitivamente no seio do governo e na presença mediática.

Podemos questionar a estratégia orçamental de Centeno, a perspetiva férrea de controlo da despesa pública construindo o que futuramente pode vir a ser designado como a arte das cativações e o défice de investimento público que só agora e para o próximo horizonte de programação irá ser superado. Podemos questionar tudo isso. Mas alguém consegue imaginar o governo de Costa sem a presença tutelar e temperadora de Mário Centeno e de um ministério das Finanças como o que foi observado nesta legislatura?

Mário Centeno entra assim para a minha galeria de casos notáveis de aprendizagem política, como mais um exemplo da reflexividade prática que uma boa inteligência pode capitalizar em termos de aprendizagem. António Costa terá compreendido bem cedo a importância dessa presença tutelar. O que também vai bem com a sua intuição política. Na política nacional, para todas as Mortáguas e Catarinas deste mundo tem de existir um Centeno no apogeu das suas capacidades e competências. Para nossa segurança e conforto.

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