(Com a devida vénia ao Fernando Campos)
(Acabo de ver a entrevista de Mário Centeno à cada vez
mais elegante e profissional Ana Lourenço e, contrariando o que poderia pensar
no início da legislatura, hoje não tenho dúvidas de que o ministro das Finanças
pode ser considerada a principal mais-valia que este governo transporta para o
ato eleitoral de 6 de outubro. Uma evidência mais para demonstrar algo que penso já há muito tempo: não menosprezem
a aprendizagem dos agentes políticos em plena governação.)
Recordo que, em plena formação do governo da
geringonça e no seguimento da plataforma de preparação primeiro do programa do
PS, depois do Governo, ninguém questionou a competência técnica de Mário
Centeno. Mesmo sabendo que Centeno é um economista com prestígio académico internacional
inequívoco na área da economia do trabalho e não nas finanças, a sua exposição
pública no processo de preparação do programa do governo com adaptação do
modelo macro com que o PS se apresentou às eleições permitiu clarificar que não
seria por falta de competência técnica que o ministério das Finanças abriria
brechas.
A questão que se levantava na altura e eu próprio
alinhava com essas reticências era a de saber se Centeno tinha estaleca para suportar
o desgaste que o cargo de ministro das Finanças representa, sobretudo num país
em que a cada cavadela aparecia uma minhoca mais problemática em matéria de
situação da banca. É curioso notar que a própria presença física de Centeno se
foi alterando à medida que a governação da geringonça ia avançando. Dos tempos
em que Centeno parecia um aluno no meio de mestres até à segurança dos últimos
tempos, bem visível na entrevista de hoje. Talvez a passagem a presidente do
Eurogrupo tenha sido o clique de autoconfiança que o ministro precisava para se
impor definitivamente no seio do governo e na presença mediática.
Podemos questionar a estratégia orçamental de
Centeno, a perspetiva férrea de controlo da despesa pública construindo o que
futuramente pode vir a ser designado como a arte das cativações e o défice de
investimento público que só agora e para o próximo horizonte de programação irá
ser superado. Podemos questionar tudo isso. Mas alguém consegue imaginar o
governo de Costa sem a presença tutelar e temperadora de Mário Centeno e de um
ministério das Finanças como o que foi observado nesta legislatura?
Mário Centeno entra assim para a minha
galeria de casos notáveis de aprendizagem política, como mais um exemplo da
reflexividade prática que uma boa inteligência pode capitalizar em termos de
aprendizagem. António Costa terá compreendido bem cedo a importância dessa presença
tutelar. O que também vai bem com a sua intuição política. Na política nacional,
para todas as Mortáguas e Catarinas deste mundo tem de existir um Centeno no apogeu
das suas capacidades e competências. Para nossa segurança e conforto.
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