sexta-feira, 16 de agosto de 2019

SÓ NÃO SE SABIA ERA QUANDO...


Sim, eu estou perfeitamente consciente de que já é futebol a mais neste período mais recente deste singelo espaço. Prometo parar. Mas o facto é que não deixa de ser intelectualmente fascinante, apesar de também dramático e trágico, o acompanhamento da destruição por dentro de um projeto que levou mais de trinta anos a pôr de pé, primeiro, e a consolidar, depois – sendo que uma análise atenta do fenómeno tem de ter subjacente uma exploração dos seculares e já clássicos ensinamentos em torno da ascensão e queda dos impérios ou das hegemonias de toda a espécie e seus declínios mais ou menos súbitos ou mais ou menos desordenados.

Falo do meu FC Porto e da desgraça que lhe aconteceu na passada Terça-Feira 13. Uma desgraça anunciada, é certo, mas uma desgraça que as crenças dos mais cegamente clubistas sempre iam procurando negar ou protelar. Claro que a derrota perante um modesto Krasnodar na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões não foi mais do que um resultado péssimo de um jogo em que tudo correu mal, mas ela é de algum modo um ponto de chegada simbólico a uma nova e terrível situação financeira e desportiva com que a equipa dirigente da SAD se vai ter de defrontar sem que para tal se tenha preparado ou precavido e sendo que a mesma estava de há muito no horizonte das possibilidades mais realistas.

Não irei aqui perorar em torno dos erros e omissões que de há anos se vêm sucedendo em crescendo ali para as nossas bandas. Até porque seria fastidioso, auto mutilante e inútil. Fico-me pela espuma destes dias mais recentes que tiveram no centro o garrote do fair-play financeiro imposto pela UEFA, a guerra dos emails com o Benfica e os Tribunais e a débacle desportiva depois de um avanço perdido de sete pontos na liga passada e, em particular, da gritante manifestação de impotência tática por parte de Sérgio Conceição no jogo em casa com o Benfica. E, na sequência, uma época (esta) mal planeada com permanentes contratações badaladas e não concretizadas – o caso do guarda-redes foi épico, apesar de a Divina Providência ter acabado por ajudar com o surgimento de Marchesín – e jogadores novos a chegarem às pinguinhas, para já não falar dos inconcebivelmente saídos a custo zero (casos de Herrera e Brahimi) ou dos três milhões pagos por um regressado que saíra a custo zero (Marcano). Tudo num quadro em que Sérgio Conceição foi reforçando poderes – incluindo em áreas que não lhe podem ser entregues e em que não tem manifestamente competência nem inteligência e estabilidade emocional para tomar conta.

Para ilustrar à saciedade a incapacidade do treinador, veja-se tão-só o modo como abordou estes três jogos da época: na Rússia, jogou com os que vinham de trás (ainda arriscando minimamente, e bem, com o jovem Romário Baró), mantendo o sistema e privilegiando os equilíbrios e automatismos adquiridos; no Gil, facilitou e pôs-se a inventar (Bruno Costa e Zé Luís em vez de Marega, acumulando depois com os jovens e ainda inadaptados Luis Díaz e Fábio Silva em desespero); na segunda mão com o Krasnodar, resolveu responder à derrota com uma larga mudança do escalonamento de jogadores, incluindo um defesa-direito argentino manifestamente inadaptado (Saravia), o japonês Nakajima que vinha descartando e, com a lesão de Sérgio Oliveira, um médio colombiano (Uribe) chegado há uma semana e totalmente desfasado do resto da equipa. E o pior, que raiou os limites do degradante, foi aquele final com os jogadores a serem obrigados a uma volta ao campo sob assobios – como se fossem eles os maiores culpados! – e o treinador covardemente escondido entre os demais responsáveis do futebol portista. Do nunca visto e a roçar uma imensa vergonha no seio da massa adepta!

Dito tudo isto, como se vê num misto de tristeza profunda e de revolta incontida, nada justifica as reações descontroladas e selvagens, como os assobios no estádio ou as vandalizações de paredes. Como nada adianta, num outro registo, voltar a construir castelos no ar facilmente destrutíveis por um pequeno vento adverso. Há apenas que pedir à gestão da SAD que labore nas soluções possíveis a curto prazo, todas necessariamente más embora algumas piores do que outras, e esperar pacientemente pelas oportunidades de mudanças estruturais que aí possam acabar por surgir, com a pouco consoladora certeza de que não há mal que sempre dure. E, obviamente, numa lógica incondicionalmente pautada pela máxima que nunca poderá deixar de nos unir: FC Porto sempre!

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