(Um jantar imprevisto de amigos na modorra das férias cá
por cima, com debate político à mistura. Em declínio talvez, mas ainda uma referência para
os indefectíveis.)
A modorra e o ritual das férias têm destas
coisas, irrepetíveis, que nos fazem voltar aos lugares de sempre, mesmo que os
indicadores do “trendy” já tenham
passado por aqui a grande velocidade.
Quis a divina convergência das coisas boas
que no fim de tarde de ontem se juntassem o Manuel Correia Fernandes, a Ana
Fernandes, o Alberto Martins e a mulher Conceição (e irmãs do Manuel Correia
Fernandes), o eterno revolucionário e insatisfeito com este mundo Diomar Santos
e a mulher Eduarda. Primeiro em Seixas em minha casa, depois em Cristelo na
casa do Manuel e da Ana e finalmente no sempre fiável e simpático Gaivota para
um jantar de amigos, ao sabor único do tempo de férias, com brisa ou sem brisa,
com nortada ou sem nortada, entre os que vão resistindo ao declínio da procura
e ao ciclo demográfico que o determina.
Estamos habituados a que o espírito combativo
do Diomar Santos se imponha naturalmente num grupo de gente menos efusiva na
conversa como eu, o Alberto Martins e o Manuel Correia Fernandes, já que o
grupo feminino é mais equilibrado na vivacidade do discurso. Já não via o
Diomar há bastante tempo e ficamos a saber que tem em mãos um registo escrito
ainda em construção sobre a personagem e o pensamento políticos de Simon Bolívar,
o grande patrono da Venezuela e do que chegou a ser designado pela Grande Colômbia
(Venezuela, Colômbia e Equador). Com a instrução primária realizada ainda na
Venezuela, o Diomar é um entusiasta do bolivarismo, desconfia naturalmente dos
propósitos de Guaidó, acusa o toque da fraca qualidade da liderança de Maduro
mas ainda sustenta que a maioria sociológica na Venezuela é favorável ao
bolivarismo-chavismo. A sua pesquisa em torno da personagem e dos feitos de Bolívar
é um documento interessante que eu próprio gostaria de ver publicado e
reconheço que para se compreender a dimensão que o chavismo assumiu na Venezuela
o conhecimento da ascensão e queda de Bolívar é crucial para uma leitura
contextualizada dos acontecimentos.
Tenho dúvidas que como sustenta o Diomar a
maioria sociológica na Venezuela ainda seja pró Maduro com toda a imperfeição
que este representa em relação aos princípios do bolivarismo, mas quem sou para
me atrever a contestar essa posição. A informação que temos sobre a situação é
totalmente filtrada e a discussão ontem à mesa foi a de saber se o Governo
português poderia ter tido a posição firme que assumi sem apoiar explicitamente
Guaidó, como o fizeram outros países da União Europeia.
O que me parece ressaltar da longa e
acalorada conversa que tivemos foi a ideia de que o personagem Maduro é hoje um
remake desgraçado dos princípios do bolivarismo.
Claro que conversamos sobre outras coisas,
entre as quais a disputa António José Seguro versus António Costa e do que terá
resultado de penalizador para o primeiro da sua decisão em apontar Francisco
Assis para candidato do PS às Europeias de então que determinaram o tal
resultado do “poucochinho”. Mas isso são conversas mais pessoais e
confidenciais que não devem ser vertidas para este espaço.
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