quarta-feira, 21 de agosto de 2019

VÁRIAS



(O verão está errático e os temas críticos de momento também, o que torna difícil nesta difícil adaptação aos ritmos de trabalhos após férias selecionar áreas de reflexão para desenvolvimento mais consistente. Retomo por isso alguns temas esperando que eles ganhem espessura para os acompanhar e desenvolver de modo mais consistente.)

O verão está tão errático como o Dr. Pardal Henriques e o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas. Ainda ontem o percebi viajando do Porto para Évora em trabalho e suportando diferenças de temperatura entre os 10 e os 15 graus centígrados. Já pela noite percebi em conformidade que a questão dos combustíveis tem condições para perdurar com instabilidade permanente e, cá para mim, o ministro Pedro Nuno Santos que assume as vestes do Grande Mediador/Negociador parece-me que está deixar-se apanhar na armadilha do Pardal (o que parece um contrassenso quando deveria ser o contrário), expondo-se como representante prático da ANTRAN e não como mediador. Penso que seria tempo do Governo dizer alguma coisa sobre as condições de trabalho daquele setor, para balancear a sua posição.

Vou em busca de algum tema para refletir mais estruturadamente e deparo com mais uma insistência de Simon Wren-Lewis no incontornável MAINLY MACRO sobre os custos incontroláveis de um BREXIT sem acordo, que obviamente vão adicionar-se aos que têm sido provocados na sociedade inglesa pela erradíssima gestão macroeconómica do governo conservador desde os tempos de Osborne e Cameron. Para Wren-Lewis existe algo de paradoxal a explicar: a evidência antecipável dos custos de uma saída com não acordo é clara e bem documentada, agravada recentemente com uma fuga de informação que prevê consequências relevantes a curto prazo em matéria de alguns abastecimentos, incluindo medicamentos, e não obstante tal clareza a saída desordenada continua a ter algum apoio na opinião pública.

A explicação proposta por Wren-Lewis corresponde à existência de uma falha de informação de gigantescas proporções, sobretudo identificada com a influência insidiosa de uma esmagadora parte da imprensa britânica, com relevo para os tabloides de circulação expressiva que já há muito adotaram, em relação ao BREXIT, uma política editorial não baseada na evidência ou nos factos mas antes na tentativa deliberada de ir segurando o eleitorado que suporta. um não acordo. Estas razões, embora predominantes, não devem esconder em meu entender eventuais falhas no modo como são apresentadas as evidências dos custos incontornáveis de uma saída desordenada. A ideia da falha de informação é sugestiva e merece acompanhamento, já que não é exclusiva dos enganos e trapaças em torno do BREXIT. Ela incidirá também, por exemplo, no modo como a situação económica e comercial dos EUA irá influenciar as próximas eleições americanas. Mas não ficará por aí e estender-se-á também a Portugal. Ainda, ontem, em Évora em apresentação na sessão pública da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central tive oportunidade de salientar a importância crucial que assumirá na região do Alentejo a existência de informação (baseada na ciência) independente sobre os reais impactos dos sistemas intensivos de regadio (a cultura do olival intensivo) em termos de sustentabilidade do solo e do uso do recurso água. Sem que essa condição seja preenchida, o risco de uma falha de informação na região é avultado e introduzirá ruído nefasto a uma preparação atempada do futuro da região em matéria de adaptação às mudanças climáticas. Outros casos poderiam ser aqui adicionados, como por exemplo o do real custo das energias renováveis, sobretudo a eólica, sobre a qual os cidadãos nacionais continuam sem informação independente e rigorosa.

Noutro plano, podemos falar da pretensa habilidade comercial de Trump que busca um acordo comercial com um Reino Unido fragilizado, sobretudo em contexto de hard BREXIT, enquanto que hostiliza comercialmente a Europa, procurando mais chama para o seu eleitorado que tem de ser mantido vivo à custa de trapaças desta natureza. Paul Krugman dedica um incisivo artigo de opinião a esta matéria, realçando a importância do comércio com a União Europeia para os Estados Unidos e zurzindo de novo neste tipo de política comercial conduzida sem qualquer fundamento de justificação de efeitos positivos. Mas o economista americano não perde a oportunidade para, uma vez mais, denunciar o atavismo e as vistas curtas da política macroeconómica alemã, incapaz de compreender que a Europa começa a viver uma crise estrutural de procura e que, nas condições atuais e previsíveis (veja-se um dos meus posts anteriores sobre as taxas de juro a dez anos que cheiram a deflação e a recessão), o endividamento de países com risco praticamente zero para alimentar a reflação da economia constituiria algo de apropriado. Não só porque a crise estrutural de procura assim o exige, mas também porque para aguentar o belicismo comercial de Trump é necessário afastar o espectro de uma recessão que para a combater vai exigir inúmeros e diversificados “fliques e flaques” ao Banco central Europeu.

Não haverá também por aqui uma falha de informação?

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