(O verão está errático e os temas críticos de momento
também, o que torna difícil nesta difícil adaptação aos ritmos de trabalhos
após férias selecionar áreas de reflexão para desenvolvimento mais consistente.
Retomo por isso alguns temas
esperando que eles ganhem espessura para os acompanhar e desenvolver de modo
mais consistente.)
O verão está tão errático como o Dr. Pardal
Henriques e o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas. Ainda ontem o
percebi viajando do Porto para Évora em trabalho e suportando diferenças de
temperatura entre os 10 e os 15 graus centígrados. Já pela noite percebi em
conformidade que a questão dos combustíveis tem condições para perdurar com
instabilidade permanente e, cá para mim, o ministro Pedro Nuno Santos que
assume as vestes do Grande Mediador/Negociador parece-me que está deixar-se
apanhar na armadilha do Pardal (o que parece um contrassenso quando deveria ser
o contrário), expondo-se como representante prático da ANTRAN e não como
mediador. Penso que seria tempo do Governo dizer alguma coisa sobre as
condições de trabalho daquele setor, para balancear a sua posição.
Vou em busca de algum tema para refletir mais
estruturadamente e deparo com mais uma insistência de Simon Wren-Lewis
no incontornável MAINLY MACRO sobre os custos incontroláveis de um BREXIT sem
acordo, que obviamente vão adicionar-se aos que têm sido provocados na
sociedade inglesa pela erradíssima gestão macroeconómica do governo conservador
desde os tempos de Osborne e Cameron. Para Wren-Lewis existe algo de paradoxal
a explicar: a evidência antecipável dos custos de uma saída com não acordo é
clara e bem documentada, agravada recentemente com uma fuga de informação que
prevê consequências relevantes a curto prazo em matéria de alguns
abastecimentos, incluindo medicamentos, e não obstante tal clareza a saída
desordenada continua a ter algum apoio na opinião pública.
A explicação proposta por Wren-Lewis
corresponde à existência de uma falha de informação de gigantescas proporções,
sobretudo identificada com a influência insidiosa de uma esmagadora parte da
imprensa britânica, com relevo para os tabloides de circulação expressiva que
já há muito adotaram, em relação ao BREXIT, uma política editorial não baseada
na evidência ou nos factos mas antes na tentativa deliberada de ir segurando o
eleitorado que suporta. um não acordo. Estas razões, embora predominantes, não
devem esconder em meu entender eventuais falhas no modo como são apresentadas
as evidências dos custos incontornáveis de uma saída desordenada. A ideia da falha de informação é sugestiva e merece
acompanhamento, já que não é exclusiva dos enganos e trapaças em torno do
BREXIT. Ela incidirá também, por exemplo, no modo como a situação económica e
comercial dos EUA irá influenciar as próximas eleições americanas. Mas não
ficará por aí e estender-se-á também a Portugal. Ainda, ontem, em Évora em
apresentação na sessão pública da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central
tive oportunidade de salientar a importância crucial que assumirá na região do
Alentejo a existência de informação (baseada na ciência) independente sobre os
reais impactos dos sistemas intensivos de regadio (a cultura do olival
intensivo) em termos de sustentabilidade do solo e do uso do recurso água. Sem
que essa condição seja preenchida, o risco de uma falha de informação na região
é avultado e introduzirá ruído nefasto a uma preparação atempada do futuro da
região em matéria de adaptação às mudanças climáticas. Outros casos poderiam ser
aqui adicionados, como por exemplo o do real custo das energias renováveis,
sobretudo a eólica, sobre a qual os cidadãos nacionais continuam sem informação
independente e rigorosa.
Noutro plano, podemos falar da pretensa habilidade
comercial de Trump que busca um acordo comercial com um Reino Unido fragilizado,
sobretudo em contexto de hard BREXIT, enquanto que hostiliza comercialmente a
Europa, procurando mais chama para o seu eleitorado que tem de ser mantido vivo
à custa de trapaças desta natureza. Paul Krugman dedica um incisivo artigo de
opinião a esta matéria, realçando a importância do comércio com a União
Europeia para os Estados Unidos e zurzindo de novo neste tipo de política comercial
conduzida sem qualquer fundamento de justificação de efeitos positivos. Mas o
economista americano não perde a oportunidade para, uma vez mais, denunciar o
atavismo e as vistas curtas da política macroeconómica alemã, incapaz de
compreender que a Europa começa a viver uma crise estrutural de procura e que,
nas condições atuais e previsíveis (veja-se um dos meus posts anteriores sobre
as taxas de juro a dez anos que cheiram a deflação e a recessão), o
endividamento de países com risco praticamente zero para alimentar a reflação da
economia constituiria algo de apropriado. Não só porque a crise estrutural de
procura assim o exige, mas também porque para aguentar o belicismo comercial de
Trump é necessário afastar o espectro de uma recessão que para a combater vai
exigir inúmeros e diversificados “fliques e flaques” ao Banco central Europeu.
Não haverá também por aqui uma falha de
informação?
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