(A iniciativa do pianista radicado em Nova Iorque Nuno Marques
e a própria Orquestra de Jazz de Matosinhos mereciam uma outra recetividade ao
concerto inaugural realizado na prestigiada Guilhermina Suggia. Mas para os que responderam à chamada resta a
consolação de que presenciámos um excelente espetáculo)
Tenho de confessar que o Porto Pianofest me dizia pouco até que o trabalho
laborioso do Paulo Alves Guerra no Império dos Sentidos da Antena 2 entre as 7
e as 10da manhã me alertou para a iniciativa e a conversa com o seu mentor o
pianista Nuno Marques me convenceu de que o Porto tinha à sua disposição um
festival que pode ser um caso sério na Cidade. Uma breve conversa com o amigo
Augusto Santos Silva ministro dos Negócios Estrangeiros antes do espetáculo
mais me convenceu que havia no festival audácia a jorros.
O concerto inaugural prometia. A Orquestra de Jazz de Matosinhos está uma
formação pujante que respira confiança e a sua cooperação com o pianista e compositor
João Paulo Esteves da Silva anunciava a revisita do disco “Bela senão sem” o que
era por si só motivo suficiente para ir à Casa da Música.
Pois a sala estava bastante aquém das minhas expectativas mas daí resultou uma
combinação imprevisível, um concerto bastante intimista apesar da força
orquestral das peças e da afirmação da OJM. Essa combinação foi também
fortemente potenciada pela própria inspiração e sensibilidade de João Paulo Esteves
da Silva sobre a qual o diretor da OJM Pedro Guedes construiu excelentes
arranjos.
Gostei muito da “Canção Açoriana” que não radica no universo musical açoriano
mas que JPES considera inspirada pela ambiência das ilhas, também do Fado Chão e
o fecho do concerto com Certeza e a virtuosidade e força de toda a OJM a vir ao
de cima deixou-nos água na boca.
Resta dizer que o Porto Pianofest continua por mais alguns dias, embora daqui
de Seixas seja obrigado a passar, e o arranque não oficial do Festival concretizou-se
com uma maratona de piano na mítica Estação de S. Bento, tanto mais mítica
quanto mais aumenta vertiginosamente o número de turistas que por lá vai
passando.
O país está a compor-se e a descentralização cultural coloca-nos num
panorama cultural bem mais rico do que o afunilamento lá pela capital, embora
esteja certo que em matéria de alocação de recursos públicos essa não será a realidade.
Hoje, cá pelo Teatro Municipal de Caminha, o Valadares, passa A Regra de
Jogo de Jean Renoir. Bem-aventurada seja a descentralização que não se faz por
decreto.
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