(Reeditado de um post de 2015)
(Os tempos de hoje parecem querer dar razão a Lawrence
Summers e ao seu conceito de estagnação SECULAR. Breves notas em torno de um tweet do economista
de Harvard, espantem-se, sobrinho de Paul Samuelson e de Kenneth Arrow.)
Um dos últimos tweets de Lawrence Summers diz-nos
o seguinte:
“Que melhor
evidência da estagnação secular poderíamos ter do que os títulos do Tesouro a
trinta anos estarem a descer abaixo dos 2% e termos os TIPS (Treasury
Inflation-Protected Security) a 10 anos negativos por todo o mundo industrial?”
O conceito de estagnação secular foi
reabilitado por Summers a partir dos contributos seminais de Alvin Hansen nos
anos 30 para descrever as condições estruturais que emergiram após a grande
recessão de 2008. A ele dediquei vários e diferenciados posts (por exemplo, aqui e aqui) neste espaço de
reflexão, pois sempre me pareceu que o retorno ao “estrutural” proposto por Summers
é dos contributos mais inteligentes dos economistas contemporâneos em que o sobrinho
de Samuelson e de Arrow (há gente que parte muito á frente!) se integra com
brilho.
Do ponto de vista empírico, o conceito de
estagnação secular enfrentou óbvias dificuldades de afirmação, sobretudo porque
emergiu com a economia americana a crescer prolongadamente, embora num quadro
de recuperação relativamente agónica dos acontecimentos de 2008. Para além
disso, a eleição de Trump introduziu demasiado ruído para que o conteúdo
estrutural do referido conceito fosse devidamente compreendido nas suas mais
profundas implicações. É que os conceitos estruturais têm de se haver com a
projeção da conjuntura e esta nos últimos tempos pareceu esconder as raízes de
problemas que levaram Summers a recunhar o conceito. Este foi sempre o problema
dos economistas mais preocupados com o tempo longo do que com a conjuntura. A
perceção dos fenómenos estruturais, para além de exigir uma incorporação teórica
claramente superior à da perceção da conjuntura, exige séries longas e os cidadãos
e analistas embrenham-se nos dados conjunturais e sentem uma enorme dificuldade
em libertar-se dessa camisa-de-forças.
Mas nos últimos tempos a conjuntura tornou-se
menos sorridente, CNN dixit:
“The Dow fell 800 points today. Former Treasury Secretary
@LHSummers
calls it "the most dangerous
moment, in terms of recession, since the 2008 financial crisis," and says
any current economic strength is not because of the President, but in spite of
him.”
Como é óbvio, um contexto internacional como
o de hoje, que vive claramente sobre uma ameaça estrutural, exigiria lideranças
com outra compreensão das coisas, já que a única forma de condicionar
positivamente a estagnação secular aponta para ações concertadas de relançamento
da procura a nível mundial. O belicismo comercial parvo e idiota com visões
curtas eleitorais é exatamente o oposto do que a economia mundial necessita neste momento.
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