quinta-feira, 15 de agosto de 2019

E SE FALÁSSEMOS OUTRA VEZ DE ESTAGNAÇÃO SECULAR?

(Reeditado de um post de 2015)


(Os tempos de hoje parecem querer dar razão a Lawrence Summers e ao seu conceito de estagnação SECULAR. Breves notas em torno de um tweet do economista de Harvard, espantem-se, sobrinho de Paul Samuelson e de Kenneth Arrow.)

Um dos últimos tweets de Lawrence Summers diz-nos o seguinte:

“Que melhor evidência da estagnação secular poderíamos ter do que os títulos do Tesouro a trinta anos estarem a descer abaixo dos 2% e termos os TIPS (Treasury Inflation-Protected Security) a 10 anos negativos por todo o mundo industrial?”

O conceito de estagnação secular foi reabilitado por Summers a partir dos contributos seminais de Alvin Hansen nos anos 30 para descrever as condições estruturais que emergiram após a grande recessão de 2008. A ele dediquei vários e diferenciados posts (por exemplo, aqui e aqui) neste espaço de reflexão, pois sempre me pareceu que o retorno ao “estrutural” proposto por Summers é dos contributos mais inteligentes dos economistas contemporâneos em que o sobrinho de Samuelson e de Arrow (há gente que parte muito á frente!) se integra com brilho.

Do ponto de vista empírico, o conceito de estagnação secular enfrentou óbvias dificuldades de afirmação, sobretudo porque emergiu com a economia americana a crescer prolongadamente, embora num quadro de recuperação relativamente agónica dos acontecimentos de 2008. Para além disso, a eleição de Trump introduziu demasiado ruído para que o conteúdo estrutural do referido conceito fosse devidamente compreendido nas suas mais profundas implicações. É que os conceitos estruturais têm de se haver com a projeção da conjuntura e esta nos últimos tempos pareceu esconder as raízes de problemas que levaram Summers a recunhar o conceito. Este foi sempre o problema dos economistas mais preocupados com o tempo longo do que com a conjuntura. A perceção dos fenómenos estruturais, para além de exigir uma incorporação teórica claramente superior à da perceção da conjuntura, exige séries longas e os cidadãos e analistas embrenham-se nos dados conjunturais e sentem uma enorme dificuldade em libertar-se dessa camisa-de-forças.

Mas nos últimos tempos a conjuntura tornou-se menos sorridente, CNN dixit:

The Dow fell 800 points today. Former Treasury Secretary @LHSummers
 calls it "the most dangerous moment, in terms of recession, since the 2008 financial crisis," and says any current economic strength is not because of the President, but in spite of him.”

Como é óbvio, um contexto internacional como o de hoje, que vive claramente sobre uma ameaça estrutural, exigiria lideranças com outra compreensão das coisas, já que a única forma de condicionar positivamente a estagnação secular aponta para ações concertadas de relançamento da procura a nível mundial. O belicismo comercial parvo e idiota com visões curtas eleitorais é exatamente o oposto do que a economia mundial necessita neste momento.

Sem comentários:

Enviar um comentário