(A sinistra lista de novos líderes políticos que por aí
vai emergindo já se projetara na insegurança bélica e política a nível mundial
e na perda de humanidade para com os desvalidos. Projeta-se agora na matéria
das guerras comerciais e os famigerados “mercados” dão sinais de perturbação. Oportunidade para algumas reflexões em torno da
guerra comercial entre os EUA e a China.)
Trump, Bolsonaro, Nethanyahu, Orbán e outros
emergentes trouxeram aos cenários políticos mundiais mais indeterminação,
frivolidade e seguramente um risco acrescido de belicismo por “dar cá aquela
palha”. Ainda há curto tempo, em plena escalada no Golfo entre os EUA e o Irão
se percebeu que poderia ter acontecido o pior, com o inenarrável Trump a
emendar a mão em cima da hora. Bolsonaro e Nethanyahu, mais no plano interno do
que no internacional, mas a influência do último nos EUA e na sua comunidade
judia é preocupante, têm acrescentado significativas e relevantes características
ao perfil deste novo tipo de lideranças.
Bolsonaro não hesitou em reescrever o papel
da ciência para afastar os receios mundiais quanto aos efeitos da desflorestação
na Amazónia para justificar o que por lá de trágico se vai passando, em termos
de saque privado a um bem público. O Brasil deveria estar a receber do mundo
uma retribuição pelo valor daquele recurso e, pelo contrário, nega a ciência e
despede responsáveis rigorosos para continuar o festim da apropriação indevida.
Mais recentemente ainda, a sua referência a que os criminosos devem morrer na rua
como baratas lança-nos no que é a mais profunda origem da sua ligação com meios
de aplicação da justiça que não correspondem ao sistema de valores do Ocidente.
Quanto a Nethanyahu, todo o seu comportamento
recente vai no sentido de engendrar uma solução política de governo que lhe
permita ficar a salvo das culpas que tem para espiar na justiça, matéria que
poderá determinar a sua prisão e condenação.
Temos assim que em matéria de direitos
humanos, segurança mundial e tolerância para com os migrantes mas
desfavorecidos a emergência destas novas lideranças é trágica. Teoricamente,
bastariam estas três dimensões da paz mundial para alertar consciências e nas
oportunidades democráticas que se levantarem varrerem estes personagens da história
recente. Mas isto não é certo. Há sempre bolsas de cidadãos e de capitalismo
interessados em conviver com tais estranhas e imprevisíveis criaturas, pelo que
a hipótese da sua reprodução no poder por mais tempo não é de enjeitar.
Mas em matéria de guerras comerciais nem o
capitalismo mais manhoso fica indiferente, pois a história desse tipo de
processos é conhecida e raríssimas vezes há um vencedor, ao passo que a
devastação dos efeitos é ampla e facilmente percecionada por todos.
No cenário de guerra comercial entre os EUA e
a China não há, por certo, inocentes. O regime chinês introduziu no comércio
mundial uma relevante especificidade, pois dispõe de armas políticas internas
que as economias ocidentais não consegue manejar. Essas armas derivam do cunho
ditatorial do regime, apesar de todas as “liberdades” comerciais que vão sendo
concedidas em regime de extrema seletividade. Por isso, é provável que Trump
tenha subvalorizado o seu adversário comercial. Pelo que se vai conhecendo em
termos de efeitos na economia americana, a guerra comercial de Trump não está a
produzir efeitos tangíveis e há muito boa gente que admite que as próximas
presidenciais irão muito provavelmente ocorrer em recessão, não se sabe, nunca
se sabe, se similar à de 2008. Mas há uma matéria em que a administração Trump
pisou uma perigosa linha vermelha com esta última decisão de aumentar de novo
os impostos aduaneiros sobre as importações provenientes da China. Os analistas
económicos mais sérios e prestigiados, alguns deles académicos como Lawrence
Summers e Olivier Blanchard vieram rapidamente desmentir a seriedade da acusação
americana de que a China era uma manipuladora da sua moeda. A acusação da administração
americana não resiste a uma análise rigorosa dos factos. É, por exemplo,
impressionante a forma como os chineses reduziram nos últimos tempos o seu
excedente comercial e fizeram-no na sequência de negociações com as autoridades
americanas que apontaram o excedente excessivo como uma fator de desequilíbrio
mundial e penalizador de alguns grupos sociais nos EUA. Não há mesmo outro
exemplo recente de redução de excedente comercial como o chinês, o que deita
por terra os fundamentos americanos para a guerra comercial.
A perturbação dos mercados é neste momento
evidente, reagindo negativamente a uma tentativa descabelada da administração
Trump para influenciar em seu proveito o contexto eleitoral. Mas pode acontecer
que o mesmo se transforme em ambiente recessivo, o que entre outras incertezas
ditará a de saber como é que os Democratas poderão reagir a um contexto desse
tipo.
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