quinta-feira, 8 de agosto de 2019

GUERRAS COMERCIAIS


 
(A sinistra lista de novos líderes políticos que por aí vai emergindo já se projetara na insegurança bélica e política a nível mundial e na perda de humanidade para com os desvalidos. Projeta-se agora na matéria das guerras comerciais e os famigerados “mercados” dão sinais de perturbação. Oportunidade para algumas reflexões em torno da guerra comercial entre os EUA e a China.)

Trump, Bolsonaro, Nethanyahu, Orbán e outros emergentes trouxeram aos cenários políticos mundiais mais indeterminação, frivolidade e seguramente um risco acrescido de belicismo por “dar cá aquela palha”. Ainda há curto tempo, em plena escalada no Golfo entre os EUA e o Irão se percebeu que poderia ter acontecido o pior, com o inenarrável Trump a emendar a mão em cima da hora. Bolsonaro e Nethanyahu, mais no plano interno do que no internacional, mas a influência do último nos EUA e na sua comunidade judia é preocupante, têm acrescentado significativas e relevantes características ao perfil deste novo tipo de lideranças.

Bolsonaro não hesitou em reescrever o papel da ciência para afastar os receios mundiais quanto aos efeitos da desflorestação na Amazónia para justificar o que por lá de trágico se vai passando, em termos de saque privado a um bem público. O Brasil deveria estar a receber do mundo uma retribuição pelo valor daquele recurso e, pelo contrário, nega a ciência e despede responsáveis rigorosos para continuar o festim da apropriação indevida. Mais recentemente ainda, a sua referência a que os criminosos devem morrer na rua como baratas lança-nos no que é a mais profunda origem da sua ligação com meios de aplicação da justiça que não correspondem ao sistema de valores do Ocidente.

Quanto a Nethanyahu, todo o seu comportamento recente vai no sentido de engendrar uma solução política de governo que lhe permita ficar a salvo das culpas que tem para espiar na justiça, matéria que poderá determinar a sua prisão e condenação.

Temos assim que em matéria de direitos humanos, segurança mundial e tolerância para com os migrantes mas desfavorecidos a emergência destas novas lideranças é trágica. Teoricamente, bastariam estas três dimensões da paz mundial para alertar consciências e nas oportunidades democráticas que se levantarem varrerem estes personagens da história recente. Mas isto não é certo. Há sempre bolsas de cidadãos e de capitalismo interessados em conviver com tais estranhas e imprevisíveis criaturas, pelo que a hipótese da sua reprodução no poder por mais tempo não é de enjeitar.

Mas em matéria de guerras comerciais nem o capitalismo mais manhoso fica indiferente, pois a história desse tipo de processos é conhecida e raríssimas vezes há um vencedor, ao passo que a devastação dos efeitos é ampla e facilmente percecionada por todos.

No cenário de guerra comercial entre os EUA e a China não há, por certo, inocentes. O regime chinês introduziu no comércio mundial uma relevante especificidade, pois dispõe de armas políticas internas que as economias ocidentais não consegue manejar. Essas armas derivam do cunho ditatorial do regime, apesar de todas as “liberdades” comerciais que vão sendo concedidas em regime de extrema seletividade. Por isso, é provável que Trump tenha subvalorizado o seu adversário comercial. Pelo que se vai conhecendo em termos de efeitos na economia americana, a guerra comercial de Trump não está a produzir efeitos tangíveis e há muito boa gente que admite que as próximas presidenciais irão muito provavelmente ocorrer em recessão, não se sabe, nunca se sabe, se similar à de 2008. Mas há uma matéria em que a administração Trump pisou uma perigosa linha vermelha com esta última decisão de aumentar de novo os impostos aduaneiros sobre as importações provenientes da China. Os analistas económicos mais sérios e prestigiados, alguns deles académicos como Lawrence Summers e Olivier Blanchard vieram rapidamente desmentir a seriedade da acusação americana de que a China era uma manipuladora da sua moeda. A acusação da administração americana não resiste a uma análise rigorosa dos factos. É, por exemplo, impressionante a forma como os chineses reduziram nos últimos tempos o seu excedente comercial e fizeram-no na sequência de negociações com as autoridades americanas que apontaram o excedente excessivo como uma fator de desequilíbrio mundial e penalizador de alguns grupos sociais nos EUA. Não há mesmo outro exemplo recente de redução de excedente comercial como o chinês, o que deita por terra os fundamentos americanos para a guerra comercial.

A perturbação dos mercados é neste momento evidente, reagindo negativamente a uma tentativa descabelada da administração Trump para influenciar em seu proveito o contexto eleitoral. Mas pode acontecer que o mesmo se transforme em ambiente recessivo, o que entre outras incertezas ditará a de saber como é que os Democratas poderão reagir a um contexto desse tipo.

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