domingo, 25 de agosto de 2019

A FRENTE PROTECIONISTA E AS TRASEIRAS CHINESAS


Sobretudo em matérias de macroeconomia em economia aberta e de comércio e investimento internacional, embora também em outros domínios científicos relevantes, é muito importante o trabalho de investigação aplicada, embora também de alguma outra mais pura e ortodoxa, que é feito no PIIE (Peterson Institute for International Economics), atualmente dirigido por Adam S. Posen e contando com o contributo enquanto senior fellows de grandes nomes como Olivier Blanchard, Chad P. Bown, Monica de Bolle, Caroline Freund, Simon Johnson, Jacob Funk Kirkegaard, Nicholas R. Lardy, Maurice Obstfeld, Arvind Subramanian, Nicolas Véron e Jeromin Zettelmeyer, entre outros.

No quadro de uma economia mundial a viver uma espiral de perigosidade acelerada por via da guerra comercial entre os EUA e a China, embora não só, são incontornáveis as análises assertivas e os dados empíricos objetivos fornecidos pelo PIIE para retratar o que se nos vai sucessivamente deparando e prospetivando. É o caso, por exemplo, dos elementos recentemente divulgados por Chad P. Bown sobre a enorme e incomparável dimensão das tarifas com que os EUA vão brindando as importações chinesas, levando a que se preveja para perto do final do ano uma extensão a cerca de 97% da cobertura protecionista contra produtos provenientes da China e um nível médio daquelas tarifas superior a 21%.

Dito isto, o que é muito para se avaliar o real peso da agressão protecionista em curso, um outro investigador (Nicholas R. Lardy) veio relativizar este facto no tocante à sua significância para a queda do crescimento económico chinês que vem igualmente sendo observada (6,2% em base anual na avaliação mais recente). Sob este elucidativo título: China’s growth is slowing, but not because of the trade war (veja-se o terceiro gráfico abaixo). Algo que, afinal, várias outras publicações de referência já vinham igualmente sinalizando, seja esse o caso da “The Economist” – registando um crescimento chinês no ponto mais baixo das últimas três décadas e acrescentando um sugestivo get used to it, quer porque a dívida acumulada é bastante marcante e a contenção dos riscos financeiros associados a estímulos gigantescos como os outrora verificados se tornou entretanto uma questão de segurança nacional quer porque é muito clara a vontade governamental de conservar o seu já de si limitado poder de fogo orçamental para a hipótese de a guerra comercial ganhar uma expressão mais feia – ou do “Financial Times” – reportando a mesma evidência mas sublinhando lateralmente que tal abrandamento não inibe alguns elementos de contraponto (China’s slowdown masks its scale and resilience), adiantando que os maiores problemas (structural frailties) da economia chinesa são de origem doméstica (preços dos ativos, sobretudo habitação; dívida dos governos locais, largamente associada a projetos de limitada utilidade; endividamento ao consumo das famílias) e que o maior obstáculo ao crescimento chinês deriva da dívida para retirar a mesma consigne (“inundar novamente a economia com crédito seria como beber vinagre para saciar a sede”). Sem esquecer o facto essencial de a segunda maior economia do mundo ainda estar constituída na maior fonte global de crescimento.

(Chad P. Bown, https://www.piie.com)

(Chad P. Bown, https://www.piie.com)

(Nicholas R. Lardy, https://www.piie.com)

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