quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ESTE AGOSTO EM ITÁLIA


A Europa está à beira de um momento tristemente histórico: o da inédita chegada da extrema-direita assumida ao poder num dos seus Estados membros e, pior, num dos grandes e que contam e num histórico fundador da União. A história de como assim é e do que foi preciso que acontecesse para que assim fosse é por demais conhecida na multivariedade dos elementos de causalidade subjacentes. Direi apenas que os nefastos e desanimadores efeitos sobre a vida dos cidadãos decorrentes do paradoxal comportamento da economia italiana (entre um crescimento anémico e uma dívida assustadora, para sintetizar de modo breve), em termos estruturais, e a desastrosa gestão europeia da crise dos migrantes, nos anos mais imediatos, contarão seguramente como alguns dos indiscutíveis.

Pelo meio, também tinha acontecido uma mudança do espetro político, começada a desenhar lá atrás com as implosões dos democratas-cristãos e dos socialistas às mãos de um mix perfeito entre corrupção e judicialismo, tendo a mesma sido seguidamente recheada de episódios taticamente lamentáveis (especialmente com Matteo Renzi) e de inconsequências/instabilidades que se foram tornando intoleráveis (especialmente com os governos independentes, de que Mario Monti foi o protagonista mais relevante) e culminaram na “brincadeira” do “Movimento 5 Estrelas” de Beppe Grillo (agora encabeçado pelo apagado Luigi Di Maio). Até que, do meio do nevoeiro, surgiu Matteo Salvini a encabeçar a “Liga Norte” com um discurso duro e implacável e a ser capaz de ganhar expressão de modo fulgurante e talvez imparável nos tempos mais próximos.

(cartoons de Pierre Kroll, http://www.lesoir.be Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

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