domingo, 22 de dezembro de 2019

A ESPANHA EM APUROS

(Javier Muñoz para o El Español)


 (Enquanto Pedro Sánchez parece em rota vertiginosa para uma descida aos infernos negociando com a Esquerra Republicana, num jogo de todos os riscos para a referência que a história de Espanha poderá reservar-lhe, e não será elogiosa, a decisão do Tribunal Europeu do Luxemburgo de considerar que Oriol Junqueras e Puigdemont deveriam ter ocupado os seus lugares de deputados europeus eleitos coloca o Estado espanhol e a sua política relativa à Catalunha em significativos apuros. De facto, a lei eleitoral espanhola não considera que a prisão preventiva de alguém impeça a sua apresentação a sufrágio eleitoral.)

A situação política espanhola enferniza-se à medida que Pedro Sánchez se vai diluindo no ácido sulfúrico de negociações para a investidura com a Esquerra Republicana, o que constitui uma verdadeira partida do destino político que coube aos socialistas enfrentar. Entre tantos outros cenários políticos de negociação que a sorte dos votos poderia ter determinado, lá teria que emergir aquele que é inequivocamente o mais explosivo de todos, ou seja o de ter de negociar a investidura com a fonte de todas as interrogações e principais clivagens que hoje atravessam a sociedade espanhola, o nacionalismo catalão.

Não me atrevo a futurar sobre o sentido e resultado de tais negociações, tamanha tem sido a sua variabilidade desde que foram iniciadas. O problema catalão atravessa toda a situação política, diria mesmo que a ocupa integralmente, pois passou a ser a fonte do posicionamento relativo de todas as forças políticas. E é no meio deste gigantesco impasse que rebenta a bomba da decisão do Tribunal de Justiça Europeu que considera que Junqueras e Puigdemont deveriam ter tomado posse como deputados europeus, fruto da sua eleição nas últimas eleições europeias. A Lei Eleitoral Espanhola não nega a candidatura a indivíduos que se encontram em prisão preventiva e, por isso, se o Estado espanhol aceitar, como em princípio decorre dos seus compromissos internacionais, Puigdemont terá assento em Estrasburgo e Junqueras teria que ser libertado provisoriamente para poder assumir idêntica posição. Claro que isso não impediria uma eventual retirada da imunidade parlamentar acaso isso fosse objeto de votação positiva no Parlamento Europeu. O que teria a não despicienda consequência que Puigdemont e Junqueras não necessitariam de assumir compromissos ou juramentos perante a Constituição Espanhola para assumir o seu lugar no Parlamento Europeu.

Isso explica que a negociação com a Esquerra Republicana esteja hoje aparentemente dependente de uma tomada de posição do Serviço Jurídico do Estado (a Abocacía del Estado), uma espécie de órgão consultivo do Estado espanhol que o assiste juridicamente. Segundo rezam os jornais espanhóis de hoje, bastaria que a Abocacía del Estado aceitasse a decisão do Tribunal de Justiça Europeu e se pronunciasse sobre a possibilidade da liberdade provisória para Junqueras para reatar negociações, já que estando Puigdemont em Bruxelas e sem necessidade de regressar obrigado a Espanha poderá tomar posse no Parlamento Europeu a questão central da sentença respeita a Junqueras.

Imagina-se o lio gigantesco em que a Espanha está metida. Daí que sem surpresa duas coisas: a primeira, consiste na evidência de sondagens que afirmam que uma terceira eleição para resolver o problema da investidura só reforçaria a posição do VOX que assiste de bancada e continua a morder nos calcanhares de todos os adversários; a segunda, que as forças mais diretamente ligadas ao mundo dos negócios em Espanha defenda presentemente que Sánchez deveria aceitar a proposta de Inés Arrimadas, a nova líder do CIUDADANOS, para aceitar um pacto a três (PSOE, PP e CIUDADANOS). O editorial do Diretor do El Español representa como ninguém esse pensamento e vinculação (link aqui).

Só falta perguntar: o que mais estará para acontecer à titubeante democracia espanhola?

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