(Os maus pressentimentos confirmaram-se. As
eleições de 12 de dezembro no Reino Unido acabaram por representar um segundo
referendo, mas não necessariamente aquele que estão a pensar. Porquê então falar do segundo referendo ontem concluído?)
Uma vitória arrasadora de Boris Johnson e uma derrota incisiva para tudo o
que possa ser associado a uma visão progressista para o futuro do Reino Unido. Para
lá da maioria confortável dos conservadores e com exceção da subida do partido
nacionalista da Escócia de Nicola Sturgeon nada de positivo se avista para uma
visão mais progressista do futuro do Reino Unido e dos seus reais problemas
ocultos no patine de um império que já não existe.
Alguém dizia no Twitter que sim senhor as eleições foram um segundo
referendo mas não do Brexit, mas de rejeição da claríssima impopularidade de
Corbyn. E de facto a queda avassaladora do Labour foi evidente não só em
territórios do LEAVE, mas também do REMAIN. Por isso, os resultados do triunfo
de Johnson são, primeiro, a rejeição de Corbyn, segundo, uma avaliação negativa
do seu programa próprio de quem se candidata a uma vitória mas que efetivamente
aponta para uma percentagem bem menor de eleitorado e só em último lugar a
confirmação do BREXIT, ou antes a necessidade de concluir algo de cuja
incerteza permanece nos seus principais temas.
Isto não significa que a ascensão de Johnson não deva ser analisada como o
resultado de um pragmatismo exclusivamente centrado numa única ideia, conseguir
a concretização do BREXIT e nada mais do que isso.
Bem pôde Simon Wren-Lewis ter pregado sobre as virtualidades do voto
tático, mas como já o escrevi em post anterior um eleitorado que alinha com as
patranhas contínuas de Johnson e dos tabloides britânicos mais asquerosos não
tem sensibilidade para votos táticos, como os resultados de ontem o mostram com
clarividência extrema. E se os LIB DEM poderiam teoricamente ser uma esperança
também acabaram por ser varridos na mesma onda.
Tendo em conta a quarentena temporal a que o Labour irá ficar submetido até
recuperar a confiança do eleitorado que voou para os lados dos Conservadores e
a ausência absoluta de qualquer centelha progressista no eleitorado britânico,
a matéria evolutiva do Reino Unido fica circunscrita durante longo tempo ao
modo como Johnson orientará internamente a máquina conservadora. Há quem bondosamente
pense que Johnson poderá voltar ao estilo do seu primeiro mandato na Câmara de Londres
numa espécie de recuo no tempo. A questão da Escócia e da Irlanda do Norte constituirão
as matérias chave dessa conflitualidade, sendo também importante avaliar o modo
como o novo governo conservador vai gerir os custos internos do BREXIT
negociado.
Quanto a Corbyn perder-se-á nas memórias da história relendo quem sabe as
obras de Lenine e outros camaradas.
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