sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

NOS 75 ANOS DO MONDE



Para mim, o Monde será sempre especial. Durante a minha estada em Paris, nos anos 80, viciei-me na sua leitura a um tal ponto que a respetiva compra (ao início da tarde e com data do dia seguinte) se tornou parte inalienável do meu parco orçamento mensal. Pois o jornal celebrou ontem 75 anos (a sua primeira edição data de 19 de dezembro de 1944), estando a preparar a sua mudança (já em janeiro e abarcando todo o grupo editorial) para um edifício novo, grandioso e arquitetonicamente arrojado (chamam-lhe bâtiment-pont e elogiam-lhe muito a originalidade da fachada, uma “segunda pele” composta por vinte mil painéis de vidro com diferentes graus de transparência), desenhado por uma agência norueguesa (Snohetta) e situado na “Avenida Pierre-Mendès-France”, perto da “Gare de Austerlitz” (em pleno 13ème, i.e., no coração da “Rive Gauche). Sem dúvida uma razão mais para voltar a Paris, pese embora o passadismo de o meu Monde ficar para sempre associado à “Rue des Italiens”, onde a aventura começou e as instalações ainda permaneciam naquele meu tempo (tendo depois passado por três outras localizações nos últimos trinta anos – vejam-se os mapas abaixo).

Aqui fica o meu reconhecimento quase anónimo ao “Le Monde”, hoje dirigido por Jérôme Fenoglio – os “meus diretores” foram, sucessivamente, Jacques Fauvet, Claude Julien, André Laurens e André Fontaine, à época à frente de um jornal que se caraterizava por não ter cor e raramente ter qualquer imagem (ainda guardo a edição do dia seguinte ao histórico 10 mai de Mitterrand), tendo-se-lhes seguido outros notáveis, como Jacques Lesourne e Jean-Marie Colombani – e cuja edição quotidiana continuo a frequentar religiosamente – em encontros permanentes com Marie de Vergès nos temas europeus, Arnaud Leparmentier nos assuntos norte-americanos ou Frédérick Lemaître nas matérias chinesas, entre convívios com tantos outros profissionais de enormíssima qualidade e sem esquecer o incontornável cartunista Jean Plantu), num ritual que não só já não tem solução como desejo ardentemente que não a tenha.

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