(A relação entre Pedro Burmester e a Casa da
Música será eterna e compreensível. Por isso qualquer presença do pianista portuense na Guilhermina Suggia é
um acontecimento com uma carga afetiva indescritível. Ontem foi um desses
momentos.)
Foi na última que consegui bilhetes para o concerto de Pedro Burmester na
Casa da Música. Compreensivelmente, dois bilhetes restantes na segunda fila da
Suggia, naturalmente impedindo a visualização das mãos do pianista, embora em
parte refletidos no brilho do piano. Mas nunca tinha estado tão próximo do
palco e isso tem uma profunda consequência na sonoridade magnífica que emerge
daquele instrumento onde gente de muito renome já tocou (exceção feita ao
Krystian Zimerman que se faz acompanhar do seu próprio piano.
O programa representava muito para mim já que se anunciavam quatro Impromptus
de Schubert não o que eu levaria para uma ilha deserta se a isso fosse obrigado,
mas mesmo assim, juntamente com algumas sonatas, o que me delicia na obra de
Schubert. E não só. Uma sonata de Fernando Lopes Graça permitiria tornar-me
mais familiar com uma obra que desconheço em grande medida na sua diversidade. E
para terminar os 24 Prelúdios de Chopin seriam a cereja no cimo do bolo,
sobretudo pelo desafio que a abordagem conjunta representa, tamanha é a
diversidade dos Prelúdios.
O Pedro Burmester tem um estilo de desempenho inquieto junto do piano, quase
que em certos momentos entra pelo piano dentro, debruçado sobre o teclado,
agitado, parecendo que o banco se desloca à medida que caminha dos graves para
os agudos ou vice-versa. É curioso que do extremo da fila B parece que desaparece
do nosso espaço visual para emergir lentamente à medida que se afasta do teclado.
Como previa, a ligação entre o Pedro e a sala da Suggia sente-se a todo o
momento, num esforço titânico de evitar pigarros e tosses, de respeito profundo
por aquela entrega. E sobretudo uma combinação prodigiosa entre o lirismo dos Impromptus
e alguns Prelúdios e a agitação febril da sonata de Lopes Graça.
A Sala estava com um dos seus seus. Ainda imaginei que nos encore o Pedro
regressasse a alguns dos Impromptus de Schubert. Mas não. A escolha foi surpreendente
e vieram duas peças portuguesas, uma de Mário Laginha e outra de Bernardo
Sassetti.
Foi bonito pá.
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