domingo, 15 de dezembro de 2019

PEDRO BURMESTER



 (A relação entre Pedro Burmester e a Casa da Música será eterna e compreensível. Por isso qualquer presença do pianista portuense na Guilhermina Suggia é um acontecimento com uma carga afetiva indescritível. Ontem foi um desses momentos.)

Foi na última que consegui bilhetes para o concerto de Pedro Burmester na Casa da Música. Compreensivelmente, dois bilhetes restantes na segunda fila da Suggia, naturalmente impedindo a visualização das mãos do pianista, embora em parte refletidos no brilho do piano. Mas nunca tinha estado tão próximo do palco e isso tem uma profunda consequência na sonoridade magnífica que emerge daquele instrumento onde gente de muito renome já tocou (exceção feita ao Krystian Zimerman que se faz acompanhar do seu próprio piano.

O programa representava muito para mim já que se anunciavam quatro Impromptus de Schubert não o que eu levaria para uma ilha deserta se a isso fosse obrigado, mas mesmo assim, juntamente com algumas sonatas, o que me delicia na obra de Schubert. E não só. Uma sonata de Fernando Lopes Graça permitiria tornar-me mais familiar com uma obra que desconheço em grande medida na sua diversidade. E para terminar os 24 Prelúdios de Chopin seriam a cereja no cimo do bolo, sobretudo pelo desafio que a abordagem conjunta representa, tamanha é a diversidade dos Prelúdios.

O Pedro Burmester tem um estilo de desempenho inquieto junto do piano, quase que em certos momentos entra pelo piano dentro, debruçado sobre o teclado, agitado, parecendo que o banco se desloca à medida que caminha dos graves para os agudos ou vice-versa. É curioso que do extremo da fila B parece que desaparece do nosso espaço visual para emergir lentamente à medida que se afasta do teclado.

Como previa, a ligação entre o Pedro e a sala da Suggia sente-se a todo o momento, num esforço titânico de evitar pigarros e tosses, de respeito profundo por aquela entrega. E sobretudo uma combinação prodigiosa entre o lirismo dos Impromptus e alguns Prelúdios e a agitação febril da sonata de Lopes Graça.

A Sala estava com um dos seus seus. Ainda imaginei que nos encore o Pedro regressasse a alguns dos Impromptus de Schubert. Mas não. A escolha foi surpreendente e vieram duas peças portuguesas, uma de Mário Laginha e outra de Bernardo Sassetti.

Foi bonito pá.

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