(In extremis, salvo por dois derradeiros
bilhetes para o Coro da Guilhermina Suggia na Casa da Música, eis como o Concerto
de Natal me proporcionou uma outra visão da sala e da própria Orquestra
Sinfónica do Porto Casa da Música. Uma elegantíssima
direção de Michael Sanderling projetou-me na ambiência do que é inequivocamente
uma capital europeia em termos musicais.)
Cada vez mais indisciplinado na compra atempada de bilhetes, dois últimos
lugares para o espaço do coro, onde nunca tinha estado, salvaram a situação e
ainda bem, porque teria bem penalizador perder o concerto de Natal de 2019.
O programa era atraente porque era totalmente novidade para a minha ainda
pobre formação musical em termos de peças para orquestra (no piano é um pouco
melhor). Na primeira parte, os Prelúdios corais para o Natal de Samuel Barber,
de que tinha ouvido outras peças, constituindo com Aaron Copland a minha parca
experiência de ouvido de clássica americana, partilhavam a sessão com excertos
da ópera Hänse und Gretel do compositor alemão, próximo de Wagner, Engelbert
Humperdinck. A segunda parte anunciava a Sinfonia nº 3 (que na prática é a
quinta) em Dó menor de Camille Saint-Saëns, designada de “Orgão”.
Um excelente programa com uma direção de rara elegância de Sanderling, com
uma grande comunhão com a Sinfónica do Porto que se vai aprimorando, cada vez
mais confiante, o que faz elevar as expectativas para a integral das Sinfonias
de Beethoven que consta do programa para 2020, já com o primeiro concerto a 1
de fevereiro.
A sinfonia de Saint-Saëns esteve ao nível do que melhor se tocou na Suggia, sendo particularmente
impactante a inclusão do órgão na composição da orquestra, com momentos de rara
beleza no contraponto entre o órgão (solista Jonathan Ayerst) e o piano
(solistas Luis Filipe Sá e Raquel Cunha) na segunda parte da obra.
A perspetiva da sala e da própria orquestra, vista do Coro, corresponde a
uma outra leitura da sala da Música. Não iria jurar que o desempenho do som é o
mesmo, mas a proximidade ao contexto performativo da Orquestra é suficientemente
compensador.
Um concerto de Natal que dignifica a Casa.
Gente avisada é outra coisa, pelo que pelo sim pelo não os bilhetes para a
integral das nove sinfonias de Beethoven já cá cantam. Que a saúde e a
disposição não me abandonem.
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