domingo, 22 de dezembro de 2019

O CONCERTO DE NATAL



 (In extremis, salvo por dois derradeiros bilhetes para o Coro da Guilhermina Suggia na Casa da Música, eis como o Concerto de Natal me proporcionou uma outra visão da sala e da própria Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Uma elegantíssima direção de Michael Sanderling projetou-me na ambiência do que é inequivocamente uma capital europeia em termos musicais.)

Cada vez mais indisciplinado na compra atempada de bilhetes, dois últimos lugares para o espaço do coro, onde nunca tinha estado, salvaram a situação e ainda bem, porque teria bem penalizador perder o concerto de Natal de 2019.

O programa era atraente porque era totalmente novidade para a minha ainda pobre formação musical em termos de peças para orquestra (no piano é um pouco melhor). Na primeira parte, os Prelúdios corais para o Natal de Samuel Barber, de que tinha ouvido outras peças, constituindo com Aaron Copland a minha parca experiência de ouvido de clássica americana, partilhavam a sessão com excertos da ópera Hänse und Gretel do compositor alemão, próximo de Wagner, Engelbert Humperdinck. A segunda parte anunciava a Sinfonia nº 3 (que na prática é a quinta) em Dó menor de Camille Saint-Saëns, designada de “Orgão”.

Um excelente programa com uma direção de rara elegância de Sanderling, com uma grande comunhão com a Sinfónica do Porto que se vai aprimorando, cada vez mais confiante, o que faz elevar as expectativas para a integral das Sinfonias de Beethoven que consta do programa para 2020, já com o primeiro concerto a 1 de fevereiro.

A sinfonia de Saint-Saëns esteve ao nível do que melhor se tocou na Suggia, sendo particularmente impactante a inclusão do órgão na composição da orquestra, com momentos de rara beleza no contraponto entre o órgão (solista Jonathan Ayerst) e o piano (solistas Luis Filipe Sá e Raquel Cunha) na segunda parte da obra.

A perspetiva da sala e da própria orquestra, vista do Coro, corresponde a uma outra leitura da sala da Música. Não iria jurar que o desempenho do som é o mesmo, mas a proximidade ao contexto performativo da Orquestra é suficientemente compensador.

Um concerto de Natal que dignifica a Casa.

Gente avisada é outra coisa, pelo que pelo sim pelo não os bilhetes para a integral das nove sinfonias de Beethoven já cá cantam. Que a saúde e a disposição não me abandonem.

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