(Embora seja um utilizador muito moderado do
Twitter este testemunho impressionou-me a ponto de achar que vale a pena
transcrevê-lo para este blogue. O testemunho é de John Podhoretz, cronista do New York Post e que chegou a
redigir discursos para os Presidentes Reagan e George H.W.Bush, por isso não é
um testemunho qualquer.)
Citando John Podhoretz (link aqui):
“Porque é
que abandonei o Twitter – coisa que também devem fazer
Já não coloco um post no Twitter há
nove meses. O que estou a fazer? Estou ainda em recuperação. Nos últimos 10
anos, escrevi 180.000 tweets. Sim, disse 180.000. O que perfaz 18.000 por ano e
1.500 por mês.
Estava a colocar em média 50 tweets por dia
– enquanto tinha um trabalho a tempo inteiro na edição de uma revista, com duas
datas limite de publicação todas as semanas e com três crianças, casado com uma
mulher que trabalha também a tempo inteiro.
Como é que isso era possível? Bem, escrevi
sempre depressa. E durante uma longa parte da minha vida, senti-me como um
frustrado e hipotético artista de “stand-up comedy”. Um tweet é algo
basicamente de uma linha, pelo que se és um comentador compulsivo que nunca
teve coragem para ficar na frente de uma parede de tijolos fazendo pedaços,
acaba por ser a saída sonhada. O Twitter funcionou bem para mim de várias
maneiras. Ao longo desta década, o meu registo de seguidores cresceu do zero
até 141.000 pessoas. Os tweets angariaram audiência para os meus escritos e
para os artigos no COMMENTARY, a revista de que sou editor.
Desenvolvi surpreendentemente relacionamentos
significativos com escritores que desde sempre respeitei mas com que nunca me
encontrei pessoalmente. Descobri jovens autores que deram notícia do seu
próprio trabalho através de ligações no Twitter e que se tornaram valiosos colaboradores
do COMMENTARY.
E era também um amaciador do meu ego. Ouvi
de muitas pessoas em regra diariamente que gostavam do modo como alimentava o
Twitter. As pessoas pediam-me em privado para retweetar as suas ligações porque
a minha conta de seguidores era tão elevada. E é uma ferramenta de escrita e a
restrição de 140 caracteres (presentemente 280) requer competência para dominar.
Dominar uma qualquer competência é uma conquista agradável e eu dominei a
competência de redigir no Twitter.
Mas mesmo assim 50 por dia. É de loucos. E é
um sinal de como o Twitter pode enlouquecer um certo tipo de pessoas. A única
substância além da comida calórica da qual dependi foi o tabaco e já deixei de
fumar há 33 anos. Mas penso que é justo dizer que na última década, nos meus 50
anos, desenvolvi uma dependência relativamente ao Twitter.
Quando escrevia um tweet envolvido em
emoções, especialmente quando respondia a alguma coisa com raiva, podia sentir
o afluxo de dopamina. O tweet ultrapassava a emoção e trazia-me a momentânea e
abençoada calma. O mesmo poderia dizer das lutas no Twitter, que são sedutoras
para uma pessoa combativa que não tenha apenas confiança nas suas próprias
perspetivas mas também na sua rápida perspicácia.
Com os altos vieram também os baixos. Uma
vez escrevi “cala-te e canta” em resposta a um tweet de um célebre entertainer
de cor que tinha dito alguma coisa de que eu não gostei acerca da guerra entre
Israel e o território de Gaza. A sua mulher acusou-me então de ser racista – e subitamente
enfrentei milhares de pessoas a dirigirem para mim a sua raiva.
O facto de eu ter tweetado essas palavras dá-nos
uma ideia do que o Twitter pode provocar em utilizadores compulsivos – era uma
resposta infantil e desagradável e, tenho vergonha de o dizer, era algo que
tinha escrito com 53 anos de idade. E essa coisa demorou-me dez segundos a
tweetar e dias a vivê-la.
É assim que acontece com o Twitter; os
(ainda não acredito realmente nisto) 50 tweets por dia realmente não
interessam. É antes o 3.401 ésimo tweet que interessa, o que se torna viral,
que acaba por nos definir – e a característica de se tornar viral não é em
regra algo que nos faça sentir orgulhosos.
Decidi abandonar o Twitter este ano depois
de tweetar uma graçola sobre a atacar uma escola de jornalismo com uma bomba de
neutrões. Acontece que só pessoas da minha idade ou mais velhas situaram a
graça numa referência a uma controvérsia de há cerca de 35 anos que deu então ela
própria origem a milhares de anedotas mordazes - porque a bomba de neutrões
tinha a característica de ser concebida para matar pessoas e deixar intactos os
edifícios.
Fui acusado de advogar o assassínio em massa.Uma vez mais fi-lo como fazendo parte de um padrão de comportamento compulsivo - o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos
– o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos, terminou com uma controvérsia ridícula que me efz lamentar ter algum dia começado a tweetar. Decidi então acabar. Ponto final.
Nove meses depois, ainda leio o Twitter - a sua utilidade como fonte de notícias não tem paralelo - mas não participo de todo. E sim sinto a sua falta. Sinto a falta de apresentar o meu trabalho aos leitores. Sinto a falta de apresentar o trabalho da minha própria revista aos leitores. Lamento ter de deixar os "fazedores de uma linha" que me divertem e divertem os outros.
Poderia encontrar um meio de participar simplesmente tweetando artigos e autores espirituosos. Sim podia. Mas não vejo como é que poderia evitar afundar-me de novo na lama.
Há uma razão pela qual o Twitter marcou esta década da comunicação. É o meio mais interativo que o mundo alguma vez conheceu e é uma grande diversão. Mas o Twitter tem presentemente uma super-alma e a super-alma é venenosa. Ele retribui o mau comportamento retórico, privilegiando o ultraje em detrimento de todas as formas de razão e encoraja-nos a não nos compreendermos reciprocamente. É o diabo no nosso ombro. Ou, pelo menos, era o diabo sobre o meu."
Fui acusado de advogar o assassínio em massa.Uma vez mais fi-lo como fazendo parte de um padrão de comportamento compulsivo - o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos
– o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos, terminou com uma controvérsia ridícula que me efz lamentar ter algum dia começado a tweetar. Decidi então acabar. Ponto final.
Nove meses depois, ainda leio o Twitter - a sua utilidade como fonte de notícias não tem paralelo - mas não participo de todo. E sim sinto a sua falta. Sinto a falta de apresentar o meu trabalho aos leitores. Sinto a falta de apresentar o trabalho da minha própria revista aos leitores. Lamento ter de deixar os "fazedores de uma linha" que me divertem e divertem os outros.
Poderia encontrar um meio de participar simplesmente tweetando artigos e autores espirituosos. Sim podia. Mas não vejo como é que poderia evitar afundar-me de novo na lama.
Há uma razão pela qual o Twitter marcou esta década da comunicação. É o meio mais interativo que o mundo alguma vez conheceu e é uma grande diversão. Mas o Twitter tem presentemente uma super-alma e a super-alma é venenosa. Ele retribui o mau comportamento retórico, privilegiando o ultraje em detrimento de todas as formas de razão e encoraja-nos a não nos compreendermos reciprocamente. É o diabo no nosso ombro. Ou, pelo menos, era o diabo sobre o meu."
Não sei se depois da leitura deste texto irei continuar a escrever com tanta rapidez e força de impulso. Já me arrependi de o fazer no e-mail e bem compreendo a angústia do jornalista americano que ocupa o post de hoje.
Bem fez o Eça de Queirós que talvez tenha escrito com
rapidez o seu chiste contra Camilo Castelo Branco mas que nunca o enviou (referência
a um delicioso artigo de Luís Miguel Queirós no Público (link aqui) sobre uma
controvérsia que não aconteceu entre Eça e Camilo). Se Eça tivesse acesso ao
Twitter talvez não tivesse resistido ao impulso e sabe-se lá que bela pugna não
teríamos para a história.
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