domingo, 29 de dezembro de 2019

TWITTER ADDICTION



(Embora seja um utilizador muito moderado do Twitter este testemunho impressionou-me a ponto de achar que vale a pena transcrevê-lo para este blogue. O testemunho é de John Podhoretz, cronista do New York Post e que chegou a redigir discursos para os Presidentes Reagan e George H.W.Bush, por isso não é um testemunho qualquer.)

Citando John Podhoretz (link aqui):

“Porque é que abandonei o Twitter – coisa que também devem fazer

Já não coloco um post no Twitter há nove meses. O que estou a fazer? Estou ainda em recuperação. Nos últimos 10 anos, escrevi 180.000 tweets. Sim, disse 180.000. O que perfaz 18.000 por ano e 1.500 por mês.
Estava a colocar em média 50 tweets por dia – enquanto tinha um trabalho a tempo inteiro na edição de uma revista, com duas datas limite de publicação todas as semanas e com três crianças, casado com uma mulher que trabalha também a tempo inteiro.
Como é que isso era possível? Bem, escrevi sempre depressa. E durante uma longa parte da minha vida, senti-me como um frustrado e hipotético artista de “stand-up comedy”. Um tweet é algo basicamente de uma linha, pelo que se és um comentador compulsivo que nunca teve coragem para ficar na frente de uma parede de tijolos fazendo pedaços, acaba por ser a saída sonhada. O Twitter funcionou bem para mim de várias maneiras. Ao longo desta década, o meu registo de seguidores cresceu do zero até 141.000 pessoas. Os tweets angariaram audiência para os meus escritos e para os artigos no COMMENTARY, a revista de que sou editor.
Desenvolvi surpreendentemente relacionamentos significativos com escritores que desde sempre respeitei mas com que nunca me encontrei pessoalmente. Descobri jovens autores que deram notícia do seu próprio trabalho através de ligações no Twitter e que se tornaram valiosos colaboradores do COMMENTARY.
E era também um amaciador do meu ego. Ouvi de muitas pessoas em regra diariamente que gostavam do modo como alimentava o Twitter. As pessoas pediam-me em privado para retweetar as suas ligações porque a minha conta de seguidores era tão elevada. E é uma ferramenta de escrita e a restrição de 140 caracteres (presentemente 280) requer competência para dominar. Dominar uma qualquer competência é uma conquista agradável e eu dominei a competência de redigir no Twitter.
Mas mesmo assim 50 por dia. É de loucos. E é um sinal de como o Twitter pode enlouquecer um certo tipo de pessoas. A única substância além da comida calórica da qual dependi foi o tabaco e já deixei de fumar há 33 anos. Mas penso que é justo dizer que na última década, nos meus 50 anos, desenvolvi uma dependência relativamente ao Twitter.
Quando escrevia um tweet envolvido em emoções, especialmente quando respondia a alguma coisa com raiva, podia sentir o afluxo de dopamina. O tweet ultrapassava a emoção e trazia-me a momentânea e abençoada calma. O mesmo poderia dizer das lutas no Twitter, que são sedutoras para uma pessoa combativa que não tenha apenas confiança nas suas próprias perspetivas mas também na sua rápida perspicácia.
Com os altos vieram também os baixos. Uma vez escrevi “cala-te e canta” em resposta a um tweet de um célebre entertainer de cor que tinha dito alguma coisa de que eu não gostei acerca da guerra entre Israel e o território de Gaza. A sua mulher acusou-me então de ser racista – e subitamente enfrentei milhares de pessoas a dirigirem para mim a sua raiva.
O facto de eu ter tweetado essas palavras dá-nos uma ideia do que o Twitter pode provocar em utilizadores compulsivos – era uma resposta infantil e desagradável e, tenho vergonha de o dizer, era algo que tinha escrito com 53 anos de idade. E essa coisa demorou-me dez segundos a tweetar e dias a vivê-la.
É assim que acontece com o Twitter; os (ainda não acredito realmente nisto) 50 tweets por dia realmente não interessam. É antes o 3.401 ésimo tweet que interessa, o que se torna viral, que acaba por nos definir – e a característica de se tornar viral não é em regra algo que nos faça sentir orgulhosos.
Decidi abandonar o Twitter este ano depois de tweetar uma graçola sobre a atacar uma escola de jornalismo com uma bomba de neutrões. Acontece que só pessoas da minha idade ou mais velhas situaram a graça numa referência a uma controvérsia de há cerca de 35 anos que deu então ela própria origem a milhares de anedotas mordazes - porque a bomba de neutrões tinha a característica de ser concebida para matar pessoas e deixar intactos os edifícios.
Fui acusado de advogar o assassínio em massa.Uma vez mais fi-lo como fazendo parte de um padrão de comportamento compulsivo - o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos
– o tempo entre o pensamento e o tweet: 30 segundos, terminou com uma controvérsia ridícula que me efz lamentar ter algum dia começado a tweetar. Decidi então acabar. Ponto final. 
Nove meses depois, ainda leio o Twitter - a sua utilidade como fonte de notícias não tem paralelo - mas não participo de todo. E sim sinto a sua falta. Sinto a falta de apresentar o meu trabalho aos leitores. Sinto a falta de apresentar o trabalho da minha própria revista aos leitores. Lamento ter de deixar os "fazedores de uma linha" que me divertem e divertem os outros. 
Poderia encontrar um meio de participar simplesmente tweetando artigos e autores espirituosos. Sim podia. Mas não vejo como é que poderia evitar afundar-me de novo na lama. 
Há uma razão pela qual o Twitter marcou esta década da comunicação. É o meio mais interativo que o mundo alguma vez conheceu e é uma grande diversão. Mas o Twitter tem presentemente uma super-alma e a super-alma é venenosa. Ele retribui o mau comportamento retórico, privilegiando o ultraje em detrimento de todas as formas de razão e encoraja-nos a não nos compreendermos reciprocamente. É o diabo no nosso ombro. Ou, pelo menos, era o diabo sobre o meu."

Não sei se depois da leitura deste texto irei continuar a escrever com tanta rapidez e força de impulso. Já me arrependi de o fazer no e-mail e bem compreendo a angústia do jornalista americano que ocupa o post de hoje.

Bem fez o Eça de Queirós que talvez tenha escrito com rapidez o seu chiste contra Camilo Castelo Branco mas que nunca o enviou (referência a um delicioso artigo de Luís Miguel Queirós no Público (link aqui) sobre uma controvérsia que não aconteceu entre Eça e Camilo). Se Eça tivesse acesso ao Twitter talvez não tivesse resistido ao impulso e sabe-se lá que bela pugna não teríamos para a história.


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