terça-feira, 3 de dezembro de 2019

UM BREVE OLHAR GEOPOLÍTICO



São reconhecidamente imperdíveis os textos de Martin Wolf (MW) no “Financial Times”. Mesmo que nem sempre com ele concordemos, o que acontece cada vez menos frequentemente, o material que fornece e a reflexão que lhe associa são food for thought para todo e qualquer que se interesse pela dimensão económica, social e política do mundo que nos rodeia.

Na semana passada, o seu “Unsettling precedents for today’s world” vai à História para ler o presente e perscrutar o futuro, partindo das atuais fricções entre os EUA e a China (“o maior conflito geopolítico do nosso tempo”) e recuando temporalmente na busca de um precedente. Refere ele três grandes fases de potencial e diverso ensinamento nos últimos 120 anos – a guerra fria (1948-1989), o período entre guerras e os anos 1870-1914 –, referenciando especificamente a visível vitória ocidental do pós-2ª Guerra Mundial (sob o impulso do desenvolvimento económico e do progresso tecnológico, vulgo “os trinta gloriosos”), os anos 30 (“uma lição sobre o que acontece quando as elites falham e os grandes países caem nas mãos de loucos poderosos”) e o balanceamento dos pesos relativos das grandes potências entre os finais do século XIX e a 1ª Guerra Mundial (perda de relevância da China e do Reino Unido, este que tinha sido a potência dominante desde a Primeira Revolução Industrial, em favor dos EUA e da Alemanha). Quanto aos dias de hoje, os gráficos de abertura deste post dizem o essencial, designadamente quanto a quarenta anos de afirmação chinesa.

Ainda assim, confesso que não localizo bem a “mistura” das três fases a que MW reporta os nossos dias – a não ser na ideia de um modelo chinês pouco comparável aos que garantiram as condições básicas das anteriores lideranças globais, sobretudo porque inédito no seu autoritarismo e eficácia, que importaria conter no quadro de uma gestão democrática e estratégica que apontasse para uma “visão de soma positiva” e que não encontra tomador nas derivas erráticas de Trump e seu crescente número de apaniguados.

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