(Fixem o nome e o
local, Northvolt e Vasteras na Suécia. Aí está prestes a entrar
em produção a moderna fábrica de baterias para carros elétricos que, segundo o
Financial Times anuncia a retoma da ideia de política industrial na Europa.)
Hoje
de manhã nas magníficas instalações do I3S à Asprela, que me recorda velhos
tempos na Faculdade de Economia do Porto, com o acolhimento afável do seu
Diretor, o meu amigo Professor Mário Barbosa, aquele que eu considero uma das
mentes simultaneamente mais brilhantes e modestas da sua geração em matéria de
investigação científica na região e no país, discutiu-se a Estratégia de
Especialização Inteligente do Norte e os seus efeitos na transformação
económica regional.
A
minha intervenção e o tom geral da sessão, que envolveu entre outros o meu
colega de blogue e Presidente da CCDRN e o Ministro da Ciência e Ensino
Superior Manuel Heitor (muito vidrado na questão da qualidade do emprego),
ficam para o post de amanhã para ter tempo de reflexão sobre a sessão de
hoje.
Enquanto
discutíamos a estratégia regional de inovação e o que podemos esperar dela em
termos de mudança estrutural e desenvolvimento económico para a região, entrou
no radar de preparação da minha intervenção um oportuno BIG READ do Financial
Times (link aqui) focado na questão baterias para veículos elétricos, entendida como uma
aposta europeia e, mais do que isso, como uma profunda alteração do modo como a
União Europeia olha a política industrial.
Sabemos
que durante largo tempo, aquele em que o Diretório europeu se deixou seduzir
pelos ventos do neoliberalismo, a União Europeia arrepiou mais caminho na
defesa dos mercados livres do que em pensar a sua política industrial para
afirmar a sua posição competitiva na economia global. Foram tempos de grande
distração (há quem diga que venenosa e ao serviço de interesses inconfessáveis).
Mas, aqui d’el rei, quando o protecionismo americano perdeu o seu pudor e foi
possível concluir que os chineses não são para brincadeiras quando se trata de
defender a sua posição no mundo, a União Europeia e os seus principais motores,
Alemanha e França, compreenderam que o seu afã para marcar uma posição na
construção de veículos elétricos colidia com a perceção de que a posição europeia
na cadeia de valor do veículo elétrico deixava muito a desejar. Um dado
objetivo advém do reconhecimento de que as baterias representam algo em torno
dos 40% do valor do produto e a União Europeia apresentava uma total dependência
de importações asiáticas, japonesas ou coreanas.
Dizem
as más línguas que a necessidade de dar corda aos sapatos da União foi
recentemente revigorada pelo anúncio de que a TESLA iria construir uma fábrica
em Berlim para esse efeito.
O Financial
Times dá conta do esforço gigantesco em curso de em Vasteras ultimar a fábrica
para início de produção em fins do ano corrente e o jornal britânico associa à
decisão a mudança de paradigma que a União Europeia estará disposta a assumir
em termos de política industrial. É tempo de deixar de brincar à concorrência e
à pureza do mercado e enfrentar o animal com decisão, envolvendo uma aliança
europeia para a criação de um ecossistema inovador e competitivo de produção de
baterias. O jornal britânico dá conta (não os especificando) de registos de que
existem 10 países europeus com capacidade de em 2030 gerar a disponibilização
de 30% do volume de lítio necessário para a construção das referidas baterias.
Lítio? Obviamente e por isso as antenas movimentam-se para o dossier em Portugal
sobre tal matéria.
Pela
minha parte interessa-me sobretudo o que vai significar um ecossistema inovador
e competitivo para a produção de baterias na União Europeia e de que modo a
opção, finalmente assumida, de acionar instrumentos de política industrial vai
ser traduzida em termos de opções e oportunidades ao nível dos 28. E o plano de
investimento da Northvolt abrange a construção de uma nova unidade, mais a
norte, em Skelleftea, cuja capacidade de produção excederá a da Tesla no Nevada,
EUA.
Financiamentos
e ajudas de estado vão inevitavelmente perfilar-se para estar à altura dos
desafios e necessidades que a opção implica. Não é tempo de brincadeiras de
concorrência, mas será fundamental como é que uma aposta europeia deste calibre
se vai desdobrar por países e regiões que tenham unhas e recursos para
participar no processo. O domínio “Indústrias da Mobilidade e Ambiente” da RIS
3 Norte vai ter aqui material para a sua revisão.
E, entretanto,
fiquei a perceber melhor o nervoso miudinho em torno do lítio.
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