(A crónica de José Tolentino Mendonça na
Revista do Expresso é uma interpelação pertinente não só aos crentes, mas
também aos não crentes. Vale a pena pensar sobre ela.)
Um pequeno excerto:
“(…) Para quem o quiser escutar profundamente,
o Natal é atravessado por um dramatismo que nos abala, pois nos retira do
féerico entretenimento das perguntas penúltimas e nos coloca perante as
perguntas últimas (essas que nos encontram sempre sem defesa …”
Aceitemos ou não que o Natal pode escancarar uma grande solidão, como o
sugere JTM, sou dos que se sente mexido e interpelado pelo Natal, demos ou não
atenção aos apelos do consumo. Enternece-me o ritual dos grandes reencontros de
família, ainda que associando a tais reencontros a sensação de perda pelos que
nos vão deixando, compensada pela chegada e crescimento dos mais novos e pelos
caminhos para novos rituais que se vão formando.
E, em épocas como esta que convidam ao recolhimento, lá uma vez mais somos
confrontados com a fragilidade de algumas das nossas infraestruturas,
seguramente não preparadas para a severidade aleatória de picos climáticos. E
também uma vez mais assistiremos ao rosário de expiação de culpas, incúria de manutenção,
desvios de recursos e debilitação do investimento público, resiliência e sangue
frio de populações, aqui e ali alguma descoordenação, aproveitamento mediático,
como isto tudo é recorrente.
Do interior ao litoral, a região Centro do país parece apostada em transformar-se
no palco de todas as tragédias, efetivas ou à beira de se revelarem em efeitos
mais, questão que me toca pois tenho trabalhado de perto com os serviços de
planeamento da CCDR Centro.
Imagino que o Natal este ano no Baixo Mondego seja mais incerto e precário
e por isso a minha modesta solidariedade para com esta região do país.
E Feliz Natal a todos que vão tendo a pachorra de ir passando por este espaço
de reflexão.
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