segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

BORIS OU A ARTE DE BEM ENGANAR O ELEITORADO


 (Ganhou, está ganho e os britânicos que se amanhem com as suas decisões por mais estapafúrdias que se apresentem. Mas interessa perceber o fenómeno, pois Boris representa mais uma variedade do populismo que assola as democracias ocidentais, cada vez mais difícil de generalizar, teorizando.)

Entre o pensamento que tem emergido tentando explicar tão massiva votação em mais um mentiroso inveterado vale a pena aqui citar Simon Wren-Lewis, no seu blogue MAINLY MACRO, sobre o qual não podem ser assacados pedidos de explicação por não ter em devido tempo sublinhado as limitações de Jeremy Corbyn para unir em termos de estratégia de voto os REMAINERS. De facto, permitir e dar o flanco a que a imprensa pró BREXIT pudesse em fogo lento e continuado disseminar os traços de marxista, não patriota e racista em Corbyn e, simultaneamente, não ter uma posição clara sobre o BREXIT é obra a que dificilmente outro candidato ostentaria com mais ou menos orgulho.

Tudo isso hoje fica claro. E como bem compreendo Wren-Lewis quando afirma que “é tempo agora para um pensamento mais profundo sobre como regressar à luz e assegurar que nunca mais possamos deslizar para um mundo da pós-verdade” (link aqui).

Mas isso não significa que ignoremos a arte de bem enganar o eleitorado que os Conservadores praticaram com mestria, obviamente com a cumplicidade e compadrio de uma imprensa complacente.

O momento-chave dessa arte de bem passar a perna ao eleitorado e da complacência da imprensa fiel ou do tipo “não incomodar quem está no poder” aconteceu quando Boris Johnson conseguiu arrancar um acordo com a União Europeia. Um acordo que era bem pior e bastante mais equívoco do que aquele conseguido por Theresa May e que Boris Johnson se esforçou continuamente por estilhaçar.

Mas onde emerge com total clareza e plenitude a tal arte de bem enganar o eleitorado? Consiste nesta preciosidade: conseguir uma votação massiva junto de um eleitorado sob o lema de ser o melhor para concretizar o BREXIT segundo um acordo que é igual ou pior aquele que ele próprio sempre recusou e considerou um desastre de grandes proporções.

Não é isto a verdadeira arte de bem enganar?

Ou será que o dono do impagável Dilyn se prepara para passar a perna à própria União Europeia?

A arte de bem enganar pode seguir dentro de momentos. Estejamos atentos.

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