segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A GRANDE ESTREIA DE URSULA



Está desde hoje em funções a nova Comissão Europeia (ontem era Domingo e só a Presidente mostrou a cara numa breve cerimónia evocativa dos dez anos do Tratado de Lisboa). E foi também ela própria que marcou a agenda mediática com entrevistas estratégicas a alguns jornais europeus de posicionamento mais à direita (o nosso “Público” foi a exceção) em que falou da União Europeia como força essencial no mundo de hoje e como força cuja ação vai fazer redobrar, dos seus grandes desafios (green deal e imigração, em especial) e do potencialmente destrutivo risco nacionalista que se vai instalando. Não referiu, nem tal lhe cabia referir, as divisões internas com que vai ter de lidar, mas o “Financial Times” desta manhã já lhe coloca a matéria em cima dos olhos ao indicar o primeiro grande momento de clivagem e escolha que se lhe vai deparar: as perspetivas financeiras de médio prazo, que o mesmo é dizer a questão orçamental europeia e respetivo financiamento (budget blues).


Continuamos a desconhecer realmente a verdadeira natureza e capacidade política de Ursula von der Leyen (UvdL), coisa que só o exercício de funções nos poderá revelar em toda a sua extensão. Mas, agora que tudo começa, sempre se poderá sublinhar que existem indícios de estarmos perante uma personagem determinada, focada e desejosa de levar a bom porto a complexa missão que lhe foi confiada depois de toda a trapalhada que foi montada depois das eleições europeias em torno dos spitzenkandidat.

Sendo que a senhora não só não veio do nada nem era uma assim tão ilustre desconhecida quanto se foi afirmando quando Merkel a fez sair da cartola (veja-se a sua presença na imagem, abaixo reproduzida, que capeava uma peça da “Politico” de abril de 2018 em que se especulava sobre a corrida presidencial europeia) como não eram mais do que cautelosas (just keeping a strategically low profile) as suas reações pouco palavrosas durante todo este longo período de indefinição quanto à designação do seu colégio (tendo acabado por significar, na prática, um mês de atraso no arranque de funções e o afastamento de três comissários por si escolhidos após indicação nacional). E até já tínhamos o episódio do corajoso corte de cabeça a Martin Selmayr (o homem forte de Juncker, então secretário-geral do executivo comunitário), na véspera da sua investidura, para sinalizar que UvdL não brinca em serviço e atira sem pedir licença quando assim melhor lhe parece. 

Ponhamos, então, o conta-quilómetros a zero e observemos o que nos irá trazendo o jogo do acelerador e do travão com UvdL ao volante...



(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

Sem comentários:

Enviar um comentário