segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

FRACASSO OU INEVITABILIDADE?

(Voz de Galicia)


 (Só daqui a um futuro que poderá ser mais ou menos próximo saberemos se a COP25 de Madrid constituiu efetivamente um fracasso ou se, pelo contrário, acrescentou algo de relevante a um compromisso global climático. Face às interrogações de última hora não poso deixar de refletir sobre o que significa o avanço de uma política global sem eleitorado que a pressione.)

Imagino que os mais entusiastas e militantes que deram o litro e uma parte considerável do tempo das suas vidas para alcançar resultados mais visíveis na conferência de Madrid se sintam desiludidos. Alguns estarão a pensar neste momento que só lá iremos com algum radicalismo ambientalista e estarão por certo a magicar por que vias poderão lá chegar, estabelecendo contactos com tais movimentos mais radicais. Outros estarão a tentar lidar com a característica de psicologia coletiva que o patrono deste blogue, Albert O. Hirschman tão bem categorizou, a deceção. Não sabemos se os reformistas convictos serão ou não, neste momento, minoritários. O que sabemos com segurança é que minoritários ou não estarão porfiadamente a preparar novos rounds.

Tenho para mim que sem eleitorados nacionais que pressionem com eficácia e convicção persistente os respetivos Governos, principalmente aqueles que são verdadeiros elefantes nas lojas de porcelana mais fina, a defesa dos putativos interesses nacionais continuará a proteger interesses adquiridos, os interesses de quem faz parte do problema e não da solução. Esse é o drama dos compromissos globais que muito dificilmente poderão resultar de um somatório de eleitorados nacionais, já que o problema da emergência climática não se coloca com a mesma premência e visibilidade a todos os eleitorados das democracias deste mundo.

Por isso, ao avanço de cada passo em direção a um compromisso global mais virtuoso seremos sempre colocados perante a questão de saber se é fracasso ou se é, pelo contrário, uma manifestação da inevitabilidade que se vai transformando, ainda assim, de encruzilhada em encruzilhada até a um desastre final.

E entre as razões pelas quais os eleitorados nacionais não são tão consistentemente pressionantes contam-se pelo menos duas que gostaria de aqui explicitar.

Uma das razões é a muito frequente inconsistência das posições governamentais em tomadas de posição em conferências desta natureza face à gestão da política e das escolhas que no âmbito desta última se colocam.

A outra razão prende-se com o facto de estarmos a falar de mudanças de largo espectro, que não interpelam apenas empresas mas também cidadãos e famílias. E isto de mudar tem que se lhe diga sobretudo no âmbito de transições para a descarbonização, fiscalidade associada e sentimento de equidade face aos sacrifícios de tais reformas. Convenhamos que a entrada de Macrion por este tema com uma falseada e enganosa política fiscal, que privilegiava os ricos, não é a melhor maneira de começar. Por isso me referirei proximamente à importante entrevista de Elisa Ferreira ao Público que vale a pena ser lida e mais do que isso discutida mais em pormenor.

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