(Voz de Galicia)
(Só daqui a um futuro que poderá ser mais ou
menos próximo saberemos se a COP25 de Madrid constituiu efetivamente um
fracasso ou se, pelo contrário, acrescentou algo de relevante a um compromisso
global climático. Face às interrogações de última hora não poso deixar de
refletir sobre o que significa o avanço de uma política global sem eleitorado
que a pressione.)
Imagino que os mais entusiastas e militantes que deram o litro e uma parte considerável
do tempo das suas vidas para alcançar resultados mais visíveis na conferência
de Madrid se sintam desiludidos. Alguns estarão a pensar neste momento que só
lá iremos com algum radicalismo ambientalista e estarão por certo a magicar por
que vias poderão lá chegar, estabelecendo contactos com tais movimentos mais
radicais. Outros estarão a tentar lidar com a característica de psicologia
coletiva que o patrono deste blogue, Albert O. Hirschman tão bem categorizou, a
deceção. Não sabemos se os reformistas convictos serão ou não, neste momento, minoritários.
O que sabemos com segurança é que minoritários ou não estarão porfiadamente a
preparar novos rounds.
Tenho para mim que sem eleitorados nacionais que pressionem com eficácia e
convicção persistente os respetivos Governos, principalmente aqueles que são
verdadeiros elefantes nas lojas de porcelana mais fina, a defesa dos putativos
interesses nacionais continuará a proteger interesses adquiridos, os interesses
de quem faz parte do problema e não da solução. Esse é o drama dos compromissos
globais que muito dificilmente poderão resultar de um somatório de eleitorados
nacionais, já que o problema da emergência climática não se coloca com a mesma
premência e visibilidade a todos os eleitorados das democracias deste mundo.
Por isso, ao avanço de cada passo em direção a um compromisso global mais
virtuoso seremos sempre colocados perante a questão de saber se é fracasso ou se
é, pelo contrário, uma manifestação da inevitabilidade que se vai
transformando, ainda assim, de encruzilhada em encruzilhada até a um desastre
final.
E entre as razões pelas quais os eleitorados nacionais não são tão consistentemente
pressionantes contam-se pelo menos duas que gostaria de aqui explicitar.
Uma das razões é a muito frequente inconsistência das posições
governamentais em tomadas de posição em conferências desta natureza face à
gestão da política e das escolhas que no âmbito desta última se colocam.
A outra razão prende-se com o facto de estarmos a falar de mudanças de
largo espectro, que não interpelam apenas empresas mas também cidadãos e
famílias. E isto de mudar tem que se lhe diga sobretudo no âmbito de transições
para a descarbonização, fiscalidade associada e sentimento de equidade face aos
sacrifícios de tais reformas. Convenhamos que a entrada de Macrion por este
tema com uma falseada e enganosa política fiscal, que privilegiava os ricos,
não é a melhor maneira de começar. Por isso me referirei proximamente à
importante entrevista de Elisa Ferreira ao Público que vale a pena ser lida e
mais do que isso discutida mais em pormenor.
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