sábado, 17 de agosto de 2013

DE NOVO O TC ...



A presença do “grande” estratega das lutas partidárias Marco, também António Costa de seu nome, fez-se sentir no Pontal e no calçadão de Quarteira. O tempo urge, pois a ida a votos aproxima-se a passos largos, o fim de setembro já espreita e há que aproveitar a benesse dos dados do 2º trimestre para aligeirar o ambiente e criar nas hostes do PSD alguma margem de confiança para iludir dois anos de governação que a destruiu, de dentro para dentro do partido e de fora para dentro do mesmo, não esquecendo os que são de dentro mas que têm procurado passar desapercebidos. Os mais pessimistas não se cansarão de dizer “será que ainda dá?”, mas Marco não desistirá nunca e tentará que os militantes nem sequer coloquem essa questão.
Até aí tudo bem, são as regras do jogo eleitoral. Mas o problema é que os intérpretes não mudam assim tão repentinamente e há uma coisa chamada Tribunal Constitucional (TC) pelo meio. A tese das forças de bloqueio tem origem no PSD e por isso os jornais de hoje, a começar pelo Expresso, começam a adiantar cenários sobre o eventual comportamento do TC face aos pedidos de constitucionalidade que vão começar a suceder-se, primeiro sobre as questões da famigerada lei de requalificação na função pública, depois com o ataque despudorado ao princípio da confiança nas pensões. A fundamentação invocada por Cavado para submeter a referida lei à apreciação de constitucionalidade por parte do TC, invocando o não respeito pelo princípio do despedimento com justa causa, é fortemente ofensiva face à posição do Governo e anuncia matéria quente. Para além disso, o já mencionado Expresso debruça-se sobre o caso mais bicudo da convergência entre as pensões da CGA e da Segurança Social (tenho de confessar aqui o meu conflito de interesses, pois posso ser duplamente penalizado, sofrendo cortes na pensão pública e atrasando condições de reforma do meu trabalho privado), citando, o que é de espantar, fontes do próprio governo.
Reitero aqui que a posição do TC em matéria de contribuição extraordinária de solidariedade sobre as pensões foi, no seu último acórdão, bastante heterodoxa. O seu parecer para aceitar a contribuição extraordinária em 2013 baseou-se fundamentalmente no facto de se tratar de uma receita consignada ao próprio sistema de pensões (não se tratando, por isso, de um imposto) e de se ter centrado na sustentabilidade do sistema colocada em risco pela situação excecional vivida em termos de diminuição de receitas e agravamento de despesas.
O que parece lamentável é a ligação entre as duas coisas: as melhorias do 2º trimestre, coisas de empresários e de trabalhadores e não de governo, e a pressão despudorada de Passos Coelho sobre o TC. Pelo que se foi sabendo, o TC parece imune a pressões desta natureza e o facto de ter conseguido manter o último acórdão que tanto irritou Vítor Gaspar em perfeito sigilo, confundindo tudo e todos, sugere boas condições de funcionamento interno.
Mais lamentável ainda é o reaparecimento na imprensa da velha questão das regalias de aposentação dos membros do Tribunal Constitucional precisamente neste mesmo momento em que é feita a referida pressão sobre este órgão. Se a maioria tem dúvidas sobre as condições de remuneração e aposentação que enquadram os juízes do TC, e é legítimo que as possa ter, que transforme essa questão em matéria legislativa e a discuta nos lugares próprios, designadamente na próxima sessão parlamentar. Mas associar essa matéria ao período de decisões que o TC vai ter de concretizar no período anterior á preparação do orçamento 2014 e fazê-lo reavivando matérias em que alguns órgãos de comunicação social se têm excedido como é o caso do semanário SOL é fazer descer a política bastante baixo. Atacar por via da desconfiança pública dos cidadãos os corpos da magistratura não conduz seguramente a bons resultados, como o mostraram à evidência as iniciativas do 1º governo de Sócrates para corrigir algumas mordomias de juízes.
Estou a imaginar em determinados cenários que podem ocorrer as tentativas da maioria, sobretudo do PSD, em fazer ressurgir o tema do bloqueio constitucional. Se assim acontecer, é sinal de impotência política declarada e não me admiraria nada que essa seja uma saída que passa pela cabeça do estratega Marco para salvar a face e preparar novos combates eleitorais.

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