A publicação dos dados das Estatísticas do Emprego INE respeitantes ao 2º trimestre veio trazer ao debate político mesmo em férias alguma animação. A
razão para tal animação é simples: estamos perante um trimestre com leituras
diferenciadas possíveis, pois os dados revelam melhoria face ao trimestre
anterior embora em relação ao trimestre homólogo continuem a revelar uma
trajetória de degradação. Daí as aparentemente desencontradas interpretações
que os números suscitaram. Mas se na oposição à esquerda a tónica é
antecipadamente conhecida (tratar-se-ia de reflexos de alguma sazonalidade),
nos círculos da maioria não pode deixar de ser registada a contenção das
interpretações, sobretudo dos ministros afetos ao CDS, Mota Soares e Pires de
Lima, um sinal evidente dos cuidados que os centristas e populares estão a
conceder à sua quota parte da governação.
Sem conhecer com mais pormenor os dados da evolução do PIB no trimestre
correspondente é difícil perceber se os resultados do emprego/desemprego
iniciarão alguma trajetória sustentada de recuperação ou se, pelo contrário,
refletem sobretudo, como a oposição à esquerda reivindica, aspetos de
sazonalidade. Diria que os aspetos da sazonalidade devem estar presentes, mas
parece-me prematuro limitar a interpretação a esse aspeto. O que é fundamental é
perceber se os ganhos de emprego observados em relação ao 1º trimestre têm origem
em atividades transacionáveis que não o turismo ou se são o resultado do surto
de desenvolvimento turístico em curso, visível a olho nu ou nas estatísticas de
visitantes.
Do ponto de vista dos fluxos observados entre situações face ao mercado de
trabalho, parece registar-se alguma melhoria: a percentagem de população em
idade ativa que sai da inatividade para o emprego ou para o desemprego (4,59%)
supera ligeiramente a mesma percentagem que sai do emprego e do desemprego em
direção a essa mesma inatividade (3,21%), o que parece sugerir que a inativação
de uma percentagem de população está em queda.
Por outro lado, o aumento de emprego observado em relação ao trimestre
anterior tem origem nos seguintes grupos de população: “aumento no número de
mulheres empregadas; aumento no número de empregadas/os com 45 e mais anos;
aumento no número de empregadas/os com nível de escolaridade completo correspondente
ao ensino secundário e pós-secundário; aumento no número de empregadas/os nos
setores da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (com particular
expressão nas regiões Norte e Centro) e dos serviços (com particular expressão
nas atividades administrativas e dos serviços de apoio, nas atividades de alojamento,
restauração e similares e nas atividades de comércio por grosso e a retalho);
aumento no número de trabalhadores/as por conta de outrem e por conta própria; aumento
no número de empregadas/os a tempo completo”.
Os dados do INE parecem, assim, confirmar que o tão badalado ressurgimento
agrícola e o turismo (alojamento e restauração) e comércio associado estão na
origem da recuperação do emprego, não se registando evidências de que os
transacionáveis (excluindo o turismo) estejam a contribuir decisivamente para a
evolução registada.
A notícia do Dinheiro Vivo, citada pelo Diário Notícias (em termos de período
homólogo) (“Portugal só cria empregos nos salários inferiores a 310 euros”),
exige análise adicional e fica para um outro post.
Como reflexão final, não parece ser este o debate certo e central a que nos
devemos dedicar. A questão fundamental é a de saber como vamos resolver o
problema do desemprego estrutural. Admito que a taxa de desemprego possa vir a
acusar uma trajetória de descida lenta, mas importa discutir como vamos reduzir
os 10 a 12% de desemprego estrutural que é estimada por alguns economistas como
o governador do Banco de Portugal. Esse sim é o verdadeiro problema.
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