Um artigo do catedrático de sociologia da Universidade Complutense de
Madrid Enrique Gil Calvo publicado hoje no El País e lido sob um nevoeiro intenso que nos transportou para as áreas mais
protegidas das esplanadas transportou-me para a consulta do Barómetro Global da Corrupção 2013, tentando encontrar nessa base de inquirição motivos de alguma
reflexão.
A tese algo forçada de Gil Calvo orienta-se para a utilização dos dados
nacionais de Espanha no referido barómetro para classificar a sociedade
espanhola como altamente corrupta ao nível das superestruturas políticas e
partidárias, embora próxima dos valores dos países do Norte ao nível dos
sistemas administrativos.
Vejamos os dados para tentar compreender a tese de Gil Calvo:
Percentagem (%) de
pessoas inquiridas que consideram corruptas ou extremamente corruptas as
seguintes instituições:
|
|||
Instituições
|
Espanha
|
Portugal
|
Finlândia
|
Partidos políticos
|
83
|
73
|
45
|
Parlamento
|
67
|
66
|
31
|
Militares
|
19
|
66
|
7
|
ONG
|
15
|
39
|
13
|
Media
|
41
|
41
|
35
|
Instituições religiosas
|
41
|
35
|
15
|
Business
|
43
|
51
|
42
|
Sistema Educativo
|
11
|
35
|
7
|
Justiça
|
51
|
66
|
9
|
Sistema saúde
|
14
|
36
|
17
|
Polícia
|
37
|
38
|
5
|
Funcionários públicos
|
42
|
46
|
25
|
Fonte: Transparency International - http://www.transparency.org/country
|
A tese de Gil Calvo sai um pouco tremida, pois se é verdade que os sistemas
educativo e de saúde apresentam percentagens de respostas, sobretudo em
Espanha, próximas do exemplo comparativo escolhido (Finlândia), os funcionários
públicos levam também por tabela e têm conotações de corrupção bem altas quando
comparadas com o referencial escandinavo.
Quanto a Portugal, o desespero é total. Se bem que os partidos políticos
estejam também à cabeça dos referentes corruptivos, embora com uma menor
percentagem de respostas, praticamente todas as restantes instituições estão
sob suspeita. Mesmo os sistemas educativo e de saúde apresentam taxas de
suspeição bem acima das espanholas. Embora com graus desiguais tudo está sob
suspeita, pelo que do Barómetro Global da Corrupção 2013 resulta que os
portugueses estão desconfiados de todas as instituições que os cercam, não
abririam por certo a porta das suas casas a representantes anónimos destas
instituições.
Quanto à tese de Gil Calvo de que a regra de ouro da competitividade conduz
à corrupção ela deixa algo a desejar. Os sistemas educativo e de saúde podem
corroborar a tese, mas situar os 42% de respostas respeitantes aos funcionários
públicos como comparáveis aos 25% da Finlândia tem que se lhe diga.
Os números portugueses sugerem que a suspeição de corrução está por cima da relação público-orivado, colocando a sociedade portuguesa sob um baixíssimo nível de confiança. Ora, sem confiança não há mercados que funcionem!
Os números portugueses sugerem que a suspeição de corrução está por cima da relação público-orivado, colocando a sociedade portuguesa sob um baixíssimo nível de confiança. Ora, sem confiança não há mercados que funcionem!
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