segunda-feira, 12 de agosto de 2013

SUL, CRISE E CORRUPÇÃO



Um artigo do catedrático de sociologia da Universidade Complutense de Madrid Enrique Gil Calvo publicado hoje no El País e lido sob um nevoeiro intenso que nos transportou para as áreas mais protegidas das esplanadas transportou-me para a consulta do Barómetro Global da Corrupção 2013, tentando encontrar nessa base de inquirição motivos de alguma reflexão.
A tese algo forçada de Gil Calvo orienta-se para a utilização dos dados nacionais de Espanha no referido barómetro para classificar a sociedade espanhola como altamente corrupta ao nível das superestruturas políticas e partidárias, embora próxima dos valores dos países do Norte ao nível dos sistemas administrativos.
Vejamos os dados para tentar compreender a tese de Gil Calvo:

Percentagem (%) de pessoas inquiridas que consideram corruptas ou extremamente corruptas as seguintes instituições:
Instituições
Espanha
Portugal
Finlândia
Partidos políticos
83
73
45
Parlamento
67
66
31
Militares
19
66
7
ONG
15
39
13
Media
41
41
35
Instituições religiosas
41
35
15
Business
43
51
42
Sistema Educativo
11
35
7
Justiça
51
66
9
Sistema saúde
14
36
17
Polícia
37
38
5
Funcionários públicos
42
46
25
Fonte: Transparency International - http://www.transparency.org/country
A tese de Gil Calvo sai um pouco tremida, pois se é verdade que os sistemas educativo e de saúde apresentam percentagens de respostas, sobretudo em Espanha, próximas do exemplo comparativo escolhido (Finlândia), os funcionários públicos levam também por tabela e têm conotações de corrupção bem altas quando comparadas com o referencial escandinavo.
Quanto a Portugal, o desespero é total. Se bem que os partidos políticos estejam também à cabeça dos referentes corruptivos, embora com uma menor percentagem de respostas, praticamente todas as restantes instituições estão sob suspeita. Mesmo os sistemas educativo e de saúde apresentam taxas de suspeição bem acima das espanholas. Embora com graus desiguais tudo está sob suspeita, pelo que do Barómetro Global da Corrupção 2013 resulta que os portugueses estão desconfiados de todas as instituições que os cercam, não abririam por certo a porta das suas casas a representantes anónimos destas instituições.
Quanto à tese de Gil Calvo de que a regra de ouro da competitividade conduz à corrupção ela deixa algo a desejar. Os sistemas educativo e de saúde podem corroborar a tese, mas situar os 42% de respostas respeitantes aos funcionários públicos como comparáveis aos 25% da Finlândia tem que se lhe diga.
Os números portugueses sugerem que a suspeição de corrução está por cima da relação público-orivado, colocando a sociedade portuguesa sob um baixíssimo nível de confiança. Ora, sem confiança não há mercados que funcionem!

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