Tive a intuição de que a
morte de António Borges provocaria um intenso debate sobre o que terá
significado a sua presença e influência na vida política nacional. Também penso
que se debateram pouco as suas ideias e muito mais os cargos, ambições e
similares. João Miguel Tavares entra por um caminho perigoso quando ensaia comparações
que não lembraria ao diabo entre o eco na comunicação social do desaparecimento
do economista e do também economista Miguel Portas. Sabe-se ao que vem.
Pretende mostrar que a esquerda se arroga de uma superioridade moral, zurzindo
em artigos de Pedro Tadeu e de Baptista Bastos e à maneira como se referiram à
morte de António Borges.
Contundente como sempre,
Vasco Pulido Valente opta por zurzir nos economistas, embora com uma visão
distorcida da economia como ciência. Cito, porque é tema a que vale a pena regressar:
“Isto à primeira vista não se percebe. Mas, se
pensarmos no ascendente que a profissão de economista tomou em Portugal, é logo
claro que António Borges era uma personagem importantíssima de um pequeno grupo
que se julga destinado a governar Portugal e que atribui a desgraça para que o
país pouco a pouco resvalou ao simples facto de os políticos há 30 anos se
recusarem a seguir as suas receitas. De um lado, a ignorância triunfante dos
partidos. Do outro, a infalível sabedoria de uns tantos privilegiados, que se
educaram em Princeton ou em Harvard, em Stanford ou em Yale. E o extraordinário
é que a generalidade da classe média acredita nesta visão do mundo. Basta ver o
deslocado respeito que recebeu a mediocridade de Vítor Gaspar; e a absurda
imputação a António Borges dos males da Pátria, para que ele não metera nem
prego, nem estopa.
De qualquer maneira, o antagonismo entre esquerda
e direita a propósito deste episódio serviu para mostrar uma coisa muito
simples: que a economia não é uma ciência. Ninguém abriu a boca senão para se
aliviar de argumentos puramente ideológicos, contra ou a favor de uma doutrina
ou para elogiar António Borges como se elogia um militante de uma Igreja ou um
velho e seguro revolucionário. E mesmo na direita e no centro moderado se
reconheciam a olho nu as fracturas de escola. Os senhores da economia reclamam
para ela o estatuto da medicina, por exemplo, mas quando se põem a perorar é
para se agredirem ou para tentar impor as verdades de fé, que eles próprios não
compreendem muito bem.”
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