Não é pelo facto de ser sido objeto neste blogue de inúmeras críticas, e
penso que bem fundamentadas, que a morte de António Borges não mereça ser,
mesmo espaço, lamentada. António Borges é um caso estranho de desconformidade
entre prestígio internacional reconhecido e indiscutível e mau alinhamento com
o país. Essa desconformidade era mais um problema das ideias económicas que
professava do que propriamente uma questão pessoal de superioridade ou altivez
em relação ao país. Borges tinha dificuldade em entender que a transformação económica
é apenas um elemento de uma transformação mais geral e essa mostrou uma grande dificuldade
em entendê-la, já num período muito difícil da sua vida, com a sua alucinada
defesa do episódio burlesco da TSU, tirando aos trabalhadores para dar ao
capital.
Da sua passagem por este país, fica sobretudo a imagem da sua espantosa
resistência ao avanço da morte e isso é suficiente para merecer o respeito de
todos.
Mas perdoem-me que, hoje, cite aqui um outro desaparecimento, esse sim
identificado com uma personalidade que marcou indelevelmente a minha formação
cultural, histórica e económica. Só hoje dei pela morte de um enorme
historiador económico, David S. Landes, uma referência obrigatória para
qualquer economista do longo prazo e que necessite de um referencial histórico
sobre períodos determinados da dinâmica de longo prazo do capitalismo, como por
exemplo a revolução industrial. The
Unbound Prometheus: Technological Change and Industrial Development in Western
Europe from 1750 to the Present e The
Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor foram e
continuam a ser referências permanentemente revisitadas da minha atividade. Bradford DeLong dedica-lhe hoje uma homenagem pedagógica notável.
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