domingo, 25 de agosto de 2013

ÓBITOS



Não é pelo facto de ser sido objeto neste blogue de inúmeras críticas, e penso que bem fundamentadas, que a morte de António Borges não mereça ser, mesmo espaço, lamentada. António Borges é um caso estranho de desconformidade entre prestígio internacional reconhecido e indiscutível e mau alinhamento com o país. Essa desconformidade era mais um problema das ideias económicas que professava do que propriamente uma questão pessoal de superioridade ou altivez em relação ao país. Borges tinha dificuldade em entender que a transformação económica é apenas um elemento de uma transformação mais geral e essa mostrou uma grande dificuldade em entendê-la, já num período muito difícil da sua vida, com a sua alucinada defesa do episódio burlesco da TSU, tirando aos trabalhadores para dar ao capital.
Da sua passagem por este país, fica sobretudo a imagem da sua espantosa resistência ao avanço da morte e isso é suficiente para merecer o respeito de todos.
Mas perdoem-me que, hoje, cite aqui um outro desaparecimento, esse sim identificado com uma personalidade que marcou indelevelmente a minha formação cultural, histórica e económica. Só hoje dei pela morte de um enorme historiador económico, David S. Landes, uma referência obrigatória para qualquer economista do longo prazo e que necessite de um referencial histórico sobre períodos determinados da dinâmica de longo prazo do capitalismo, como por exemplo a revolução industrial. The Unbound Prometheus: Technological Change and Industrial Development in Western Europe from 1750 to the Present e The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor foram e continuam a ser referências permanentemente revisitadas da minha atividade. Bradford DeLong dedica-lhe hoje uma homenagem pedagógica notável.

Sem comentários:

Enviar um comentário