São quase pornográficas as maquias que vêm atingindo as transferências de jogadores de futebol, num mercado escassamente transparente e onde ganha crescente importância o papel dos agentes/empresários/representantes e a circulação/reciclagem interna do dinheiro, não esquecendo o cíclico contributo majorante dos novos “donos” dos clubes (quase sempre de origem russa ou árabe). No defeso que está em curso acabamos de assistir à maior loucura de sempre: a compra pelo Real Madrid do galês Gareth Bale ao Tottenham Hotspur pelo valor recorde de 99 milhões de euros.
Feitas estas obrigatórias considerações enquadradoras, já que não aspiram a qualquer moral, o certo é que também não deixa de ser indesmentível quanto o fenómeno futebolístico se vai tornando o fator mais marcante de convivência e diálogo entre cidadãos anónimos à escala global. Ainda recentemente o pude confirmar na Ásia que visitei, onde cartazes com jogadores do Manchester United, do Chelsea ou do Arsenal enchiam as ruas de várias cidades e onde um incontável número de crianças e adultos envergava diariamente equipamentos de seleções e clubes (Barça e Real, Inter e Milan, Arsenal e Liverpool, Brasil e Argentina, etc.).
Quanto ao que mais diretamente nos respeita enquanto portugueses, qual história, qual política, qual música, qual ciência, qual quê! Qualquer referência à qualidade nacional equivale “lá fora” – sobretudo em quase todos os locais não europeus e nos mais longínquos por que já passei – a que 90% dos interlocutores nos conotem imediata e exclusivamente a Cristiano Ronaldo e José Mourinho (ou, por vezes também, a Luís Figo e ao F.C.Porto, neste caso quando confrontados com uma segunda tentativa de interação assente numa demanda por clubes).
Diz o ditado que contra factos não há argumentos... – haverá muito mais que possa ser acrescentado perante a força avassaladora das evidências?
Sem comentários:
Enviar um comentário