Algumas impressões mais de uma passagem recente pela Indochina. Onde os guias turísticos com que me deparei (Tini, Kim, Khoa, Jong, Anh, Pom e Chuta) me ensinaram muitas razões da História e as gentes anónimas me ajudaram a reconhecer e sentir a imensidão das diferenças civilizacionais e culturais. Onde adquiri um acrescido respeito pelos valores da filosofia budista, largamente predominante na zona. Onde reencontrei a persistente pujança local dos sentimentos patrióticos e nacionalistas. Onde comprovei as especificidades vietnamitas, incluindo a sua escrita com carateres latinos. Onde Ho Chi Minh City permanece imutavelmente Saigão, por muita que seja a veneração do povo pelo revolucionário e estadista. Onde se me tornaram claras a desproporção dos estragos humanos provocados pela “guerra americana” (58 mil mortos do lado americano contra pelo menos 2,5 milhões do lado vietnamita) e a propagação e as sequelas da mesma nos países limítrofes e na região. Onde percebi porque os cambojanos não apreciam os vizinhos vietnamitas (uma coisa que tem o seu quê de Portugal-Espanha mas assumindo dimensões que extravasam o nosso tipo de rivalidade). Onde compreendi o irreversível estatuto de potência regional de que o Vietname já goza, na sequência de um modelo follow China que envolve quase 90 milhões de almas e uma estratégia de industrialização contemplando seis setores prioritários (eletrónica, maquinaria agrícola, transformação de produtos agrícolas e do mar, construção naval, poupança ambiental e energética, indústria automóvel e de componentes) e fortemente apoiada pelo Japão. Onde entendi melhor o caráter explosivo, embora ainda relativamente contido, da situação político-social de uma Tailândia à beira de poder optar por uma viragem pró-republicana (contra a atual aliança objetiva entre a realeza e os militares). Onde observei a associação completa que as pessoas comuns fazem entre política e corrupção. Onde atestei a clareza com que as mesmas separam a instância política – dita socialista, nem por isso ou anti – e os seus meandros (don’t care) da evolução da economia (open door) e dos seus interesses próprios (more business).
Mas, por esses dias, também se manifestaram algumas coincidências felizes. Como, desde logo, e no plano dos registos mais tipicamente cor-de-rosa: aterrar em Bangkok no dia em que os jornais locais anunciavam em parangonas o 61º aniversário do impopular príncipe herdeiro da Tailândia, ser em todo o lado alertado para o 60º aniversário do estranho rei do Camboja – Norodom Sihamoni, o filho bailarino e solteirão do lendário “rei-pai”, Norodom Sihanouk – e regressar no dia em que a rainha Sirikit – a consorte do rei Rama IX da Tailândia – era incessantemente saudada por estar a completar 81 anos de idade. Mas ainda, e no plano mais especificamente político, assistir ao vivo às multifacetadas vicissitudes associadas à “quinta eleição” no Reino do Camboja e ao seu surpreendente (e, ainda assim, muito contestável e contestado) resultado. Tema que ficará para um próximo post…
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