Um curto mas contundente artigo de Pedro Adão e Silva no Expresso de hoje
sugere este post e põe a nu uma das características desta governação, sobretudo
a que emerge associada ao PSD. Trata-se do reconhecimento hoje já óbvio de que
a base de recrutamento da grande maioria dos elementos do governo está no
sistema financeiro.
Ora temos aqui mais uma originalidade portuguesa. Regra geral discutem-se
normas de incompatibilidades ou simplesmente cautelares para regular a entrada
ou o regresso ao setor privado de ex-membros do governo. É assim que se passa
na grande generalidade das democracias ocidentais. O que temos aqui é uma outra
regulação bem diferente e que consistirá mais tarde ou mais cedo na imposição
de regras para o controlo da chegada à governação de gente vinda desse setor
privado, vinda do setor financeiro. Na verdade, o folhetim Joaquim Pais Jorge
mostra que há uma cortina bem opaca nesta dança de posições entre o setor
financeiro e a governação e que o panorama global deve ser bem mais complexo do
que este simples caso parece insinuar.
É um facto que as ramificações da crise financeira de 2008 em Portugal
equivalem a modalidades desportivas amadoras quando confrontadas com a maior sofisticação
das profissionais. Mas é tudo uma questão de escala. BPN e BPP são excrescências
nacionais que de qualquer modo viriam um dia à tona, acontecendo tão só que o
eclodir da crise precipitou a sua derrocada. Mas manter na esfera da governação
gente que circulou pelas margens da sofisticação financeira mais duvidosa como
se nada tivesse acontecido não é de bom tom e enterra não só a presente
governação mas também a do consulado Sócrates. Não me admiraria que, face aos
mais recentes desenvolvimentos, a comissão de inquérito parlamentar optasse por
assumir a regra dos aterros tóxicos: mexer o menos possível e blindar o melhor
que se sabe o acesso a tais aterros. Aparentemente, o CDS olha de longe estes
desenvolvimentos ou será que com mais cavadelas também surgirão minhocas menos
recomendáveis também para essas bandas?
P.S. Rehn e seus comparsas resolveram virar-se para os nossos amigos espanhóis,
colocando mais um problema a um Rajoy em férias aqui na Galiza. Agora seria a
economia espanhola a necessitar de uma descida de salários linear de 10% para
relançar o crescimento da economia espanhola. Sendo também um problema de
recrutamento (o dos Comissários Europeus), não se poderá, entretanto, exterminá-los?
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