Em férias, em Seixas, estou condenado em termos de televisão ao vazio da
nossa (de quem?) TV digital, uma das últimas “relvices” antes do dito sair do governo. O que vale é que o condomínio
tem acesso à digital espanhola e aí uma abundante série de canais constrasta
com a exiguidade da nossa gama de escolhas. E ainda bem porque me permite às
segundas-feiras (21.30 hora portuguesa, embora por aqui as horas sejam cada vez
mais espanholas) rever uma das minhas séries de estimação, que está agora em
repetição na TVE 1, antes de se iniciar creio que em outubro uma segunda série
de programas. A série em causa chama-se ISABEL (a Católica) e é uma série histórica
que honra e dignifica o serviço público espanhol de televisão, retratando a difícil
afirmação de Castela e simultaneamente a ascensão de Isabel e Fernando, Reis
Católicos, ao poder, sobretudo centrada na chegada à maturidade da primeira.
A série é interessante porque nos permite rever momentos da história da Península
Ibérica que o ensino da história do antigo regime nos ocultou e compreender
toda a segunda metade do século XV. Nomes como Carrilho, arcebispo de Toledo,
Pacheco marquês de Vilhena, Chacón mestre fiel de Isabel, Diego Mendoza e
outros circulam pela intriga política da série, introduzindo-nos numa visão do
poder da época que é fundamental para compreender a futura centralidade de Castela
e por aí também o centralismo estrelar que ainda caracteriza o imaginário
espanhol, apesar das autonomias.
A série é também um exemplo pedagógico do que a televisão pode fazer pela
cultura popular, combinando qualidade e audiência.
E, por mera coincidência, no El País
de hoje, um artigo de Xavier Vidal-Folch, na conhecidíssima coluna da “quarta página”
do jornal chama a atenção para o golpe de mão que o governo PP, escondido no controlo
das contas públicas e no discurso da eficiência económica, tem vindo a lançar
numa despudorada ofensiva de recentralização. Depois de muitos governos PP
terem pintado a manta em muitos governos autonómicos (Madrid, Valência, os mais
sonantes), numa teia de interesses que vão todos direitinhos à fraude enorme do
BANKIA, a cultura centralista do PP emerge como não podia deixar de ser, está
no seu ADN mais profundo. Mas não há melhor exemplo como o espanhol para mostrar
que a recentralização não é necessariamente sinónimo de eficiência e contenção.
Barcenas que o diga …
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