terça-feira, 6 de agosto de 2013

ISABEL



Em férias, em Seixas, estou condenado em termos de televisão ao vazio da nossa (de quem?) TV digital, uma das últimas “relvices” antes do dito sair do governo. O que vale é que o condomínio tem acesso à digital espanhola e aí uma abundante série de canais constrasta com a exiguidade da nossa gama de escolhas. E ainda bem porque me permite às segundas-feiras (21.30 hora portuguesa, embora por aqui as horas sejam cada vez mais espanholas) rever uma das minhas séries de estimação, que está agora em repetição na TVE 1, antes de se iniciar creio que em outubro uma segunda série de programas. A série em causa chama-se ISABEL (a Católica) e é uma série histórica que honra e dignifica o serviço público espanhol de televisão, retratando a difícil afirmação de Castela e simultaneamente a ascensão de Isabel e Fernando, Reis Católicos, ao poder, sobretudo centrada na chegada à maturidade da primeira.
A série é interessante porque nos permite rever momentos da história da Península Ibérica que o ensino da história do antigo regime nos ocultou e compreender toda a segunda metade do século XV. Nomes como Carrilho, arcebispo de Toledo, Pacheco marquês de Vilhena, Chacón mestre fiel de Isabel, Diego Mendoza e outros circulam pela intriga política da série, introduzindo-nos numa visão do poder da época que é fundamental para compreender a futura centralidade de Castela e por aí também o centralismo estrelar que ainda caracteriza o imaginário espanhol, apesar das autonomias.
A série é também um exemplo pedagógico do que a televisão pode fazer pela cultura popular, combinando qualidade e audiência.
E, por mera coincidência, no El País de hoje, um artigo de Xavier Vidal-Folch, na conhecidíssima coluna da “quarta página” do jornal chama a atenção para o golpe de mão que o governo PP, escondido no controlo das contas públicas e no discurso da eficiência económica, tem vindo a lançar numa despudorada ofensiva de recentralização. Depois de muitos governos PP terem pintado a manta em muitos governos autonómicos (Madrid, Valência, os mais sonantes), numa teia de interesses que vão todos direitinhos à fraude enorme do BANKIA, a cultura centralista do PP emerge como não podia deixar de ser, está no seu ADN mais profundo. Mas não há melhor exemplo como o espanhol para mostrar que a recentralização não é necessariamente sinónimo de eficiência e contenção. Barcenas que o diga …

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