A Margarida (21 meses) e o Francisco (2 meses) já passaram pela praça de
Caminha, sugerindo que talvez uma nova geração possa manter o ritual das férias
de verão, sabe-se lá o que a vida e o mercado de trabalho lhes reservam.
Comprar o peixe num mercado algo decrépito mas que nos continua a oferecer
robalo, sargo, dourada e rodovalho a preços e qualidade que por essa Europa fora
seriam seguramente imbatíveis, cozinhá-lo no tempo “único”de férias, jantar em
paz, gozar uma noite de equilíbrio temperatura e ambiente dificilmente replicáveis
numas férias galaico-minhotas, tudo isto integra um ritual de férias que espero
continuado de geração em geração. Tudo isto faz parte de uma prática que nos
vai amarrando à vida e neste contexto ainda tempo e concentração para dedicar
algum tempo à monumental biografia de Keynes de autoria de Skidelsky completada
pelo mergulho em alguns dos Collected
Writings daquele. Mergulho orientado para um período fundamental do mundo
ocidental, a primeira metade dos anos 40 e a longa batalha diplomática para a
construção de um novo sistema monetário internacional para a recuperação do pós
guerra. A batalha das ideias entre Keynes e Harry Dexter White, Reino Unido
versus EUA, com a picante revelação para mim, bem documentada na biografia de
Skidelsky, de que White teria relações menos claras com a espionagem soviética
da época. E a coerência de Keynes de sempre reservar o ónus da resolução dos desequilíbrios
aos credores e não aos devedores, nunca perdendo de vista que uma coisa era a
punição política e militar de uma Alemanha perdedora outra coisa bem diferente
era a imperiosa necessidade de envolver essa mesma Alemanha dotando-a de condições
financeiras para a sua recuperação económica. A lucidez é hoje de facto um
recurso muito escasso.
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