quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A BANCA SOMBRA AINDA ANDA POR AÍ ...


(A crise financeira de 2007-2008 teve vários protagonistas e um deles foi o vazio regulatório da chamada banca sombra, já referenciada nas crises asiáticas cambiais dos fins dos anos 90.  Quase uma década passada, não há sinais consistentes de que o problema tenha sido resolvido)

O estudo aprofundado da instabilidade financeira mundial provocada pelas crises cambiais dos fins dos anos 90, com epicentro na crise do bath tailandês, e o abalo da crise financeira de 2007-2008 permitiram chamar a atenção para o protagonismo da chamada “shadow banking” (banca sombra). Banca sombra pode ser expeditamente caracterizada como instituições financeiras que não são reguladas como banca mas que exercem funções de captação de poupanças e de oferta de recursos financeiros à economia. Nas investigações realizadas, a banca sombra foi apontada como tendo uma intervenção significativa na amplificação dos efeitos da crise, aparecendo no centro do “moral hazard” (risco moral) da crise financeira. A banca sombra tendeu a reforçar a massa de investimentos especulativos apoiados, foi responsável pela intensa sofisticação dos produtos financeiros e precipitou a retirada. Foi assim nas crises cambiais asiáticas, dando guarida a um sistema financeiro pouco confiável desses países e esteve no centro do furacão especulativo precipitado com a falência do Lehman Brothers. Da imensa literatura que passou pelos meus olhos sobre esta matéria, destaco os estudos de Krugman sobre as crises cambiais asiáticas, posteriormente estendidos aos acontecimentos nos EUA da segunda metade dos anos 80 e a obra do ex-secretário de Estado do Tesouro americano, Timothy Geitner, “Stress Test: reflections on financial crisis”.

Uma regularidade das análises então encontradas foi o grande vazio regulatório que pesa sobre a banca sombra. Por outras palavras, estamos perante um equívoco quando pensamos que o sistema bancário é hoje o coração do sistema financeiro mundial e que as suas fontes de instabilidade estão acantonadas nos bancos e nos seus problemas. Na altura, muita ação foi prometida sobre a regulação desta banca que não é banca. O que a informação disponível sugere é que talvez ao nível da banca se tenha avançado mas a regulação da sombra tem que se lhe diga. A realidade tendeu a sofisticar-se. Via Timothy Taylor (para sempre conhecido através do seu papel de editor do grande Journal of Economic Perspectives) do estimável Conversable Economist, tive acesso a uma Economic Letter do Federal Reserve Bank de Dallas na qual encontrei uma das mais sistemáticas caracterizações da banca sombra. Não só essa caracterização identifica os diferentes tipos de instituições que sofisticam o universo do shadow banking, como analisa os canais e mecanismos através dos quais se articulam com o sistema bancário. A informação é preciosa e mostra como o desenvolvimento do sistema financeiro atingiu níveis de sofisticação situados para além do escrutínio democrático e dos próprios reguladores. Os ensinamentos de 2007-2008 parecem não estar ativos. A sofisticação alonga-se e não necessariamente por razões de complexidade de proteção e segurança face a uma crise similar à de 2007-2008 que possa ocorrer, não importa onde vá estar o seu epicentro possível.

A simples progressão da banca sombra, medida pelo stock das suas responsabilidades, quando comparada com a dos bancos explica o seu maior contributo para a instabilidade financeira sistémica. É visível no gráfico que abre este post a relativa estabilidade do stock de responsabilidades da banca americana quando a das instituições que corporizam a banca sombra o seu volume e variação respondem por si. Por isso, quando a política monetária pretende utilizar o sistema bancário como elemento de transmissão das orientações que pretende ver concretizadas na economia real está a tentar influenciar apenas uma parte que já não é dominante do sistema financeiro.

É mais uma dimensão da financeirização das economias de mercado e os mecanismos regulatórios estão ainda longe de poder controlar toda essa complexidade e sofisticação.




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