(A crise
financeira de 2007-2008 teve vários protagonistas e um deles foi o vazio
regulatório da chamada banca sombra, já referenciada nas crises asiáticas
cambiais dos fins dos anos 90. Quase uma década passada, não há sinais
consistentes de que o problema tenha sido resolvido)
O estudo aprofundado da instabilidade financeira mundial
provocada pelas crises cambiais dos fins dos anos 90, com epicentro na crise do
bath tailandês, e o abalo da crise financeira de 2007-2008 permitiram chamar a
atenção para o protagonismo da chamada “shadow
banking” (banca sombra). Banca sombra pode ser expeditamente caracterizada
como instituições financeiras que não são reguladas como banca mas que exercem
funções de captação de poupanças e de oferta de recursos financeiros à
economia. Nas investigações realizadas, a banca sombra foi apontada como tendo
uma intervenção significativa na amplificação dos efeitos da crise, aparecendo
no centro do “moral hazard” (risco moral) da crise financeira. A banca sombra
tendeu a reforçar a massa de investimentos especulativos apoiados, foi
responsável pela intensa sofisticação dos produtos financeiros e precipitou a
retirada. Foi assim nas crises cambiais asiáticas, dando guarida a um sistema
financeiro pouco confiável desses países e esteve no centro do furacão
especulativo precipitado com a falência do Lehman Brothers. Da imensa
literatura que passou pelos meus olhos sobre esta matéria, destaco os estudos
de Krugman sobre as crises cambiais asiáticas, posteriormente estendidos aos
acontecimentos nos EUA da segunda metade dos anos 80 e a obra do ex-secretário
de Estado do Tesouro americano, Timothy Geitner, “Stress Test: reflections on financial crisis”.
Uma regularidade das análises então encontradas foi o
grande vazio regulatório que pesa sobre a banca sombra. Por outras palavras,
estamos perante um equívoco quando pensamos que o sistema bancário é hoje o
coração do sistema financeiro mundial e que as suas fontes de instabilidade
estão acantonadas nos bancos e nos seus problemas. Na altura, muita ação foi
prometida sobre a regulação desta banca que não é banca. O que a informação
disponível sugere é que talvez ao nível da banca se tenha avançado mas a regulação
da sombra tem que se lhe diga. A realidade tendeu a sofisticar-se. Via Timothy
Taylor (para sempre conhecido através do seu papel de editor do grande Journal of Economic Perspectives) do
estimável Conversable Economist, tive
acesso a uma Economic Letter do Federal Reserve Bank de Dallas na qual encontrei
uma das mais sistemáticas caracterizações da banca sombra. Não só essa
caracterização identifica os diferentes tipos de instituições que sofisticam o
universo do shadow banking, como
analisa os canais e mecanismos através dos quais se articulam com o sistema
bancário. A informação é preciosa e mostra como o desenvolvimento do sistema
financeiro atingiu níveis de sofisticação situados para além do escrutínio
democrático e dos próprios reguladores. Os ensinamentos de 2007-2008 parecem
não estar ativos. A sofisticação alonga-se e não necessariamente por razões de
complexidade de proteção e segurança face a uma crise similar à de 2007-2008
que possa ocorrer, não importa onde vá estar o seu epicentro possível.
A simples progressão da banca sombra, medida pelo stock
das suas responsabilidades, quando comparada com a dos bancos explica o seu
maior contributo para a instabilidade financeira sistémica. É visível no gráfico
que abre este post a relativa estabilidade do stock de responsabilidades da
banca americana quando a das instituições que corporizam a banca sombra o seu
volume e variação respondem por si. Por isso, quando a política monetária
pretende utilizar o sistema bancário como elemento de transmissão das orientações
que pretende ver concretizadas na economia real está a tentar influenciar apenas
uma parte que já não é dominante do sistema financeiro.
É mais uma dimensão da financeirização das economias de
mercado e os mecanismos regulatórios estão ainda longe de poder controlar toda
essa complexidade e sofisticação.
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