quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O CAOS DO PSOE

(El País)


(Não contava que os meus bad feelings sobre o futuro do PSOE se precipitassem tão depressa. O editorial do El País de hoje diz mais ou menos isto “salvemos o PSOE”.  Tudo isto mesmo sem estarem confirmadas as terceiras eleições em Espanha)

O que se vai passando por estes dias no PSOE é um pouco do mais cru e tosco que se possa imaginar poder acontecer em matéria de luta pelo poder interno de um partido. Recordemos a sequência dos acontecimentos. Apesar de não ser realista admitir que consiga formar um governo à esquerda com os acelerados do PODEMOS, o líder do PSOE, Pedro Sánchez, tem-se mantido firme no que ele diz ser uma lealdade profunda para com as bases militantes do partido, rejeitando o apoio, mesmo que por abstenção, à hipótese de Rajoy governar. Há, porém, sinais, de que entre a base eleitoral do PSOE, francamente mais extensa do que a militante, essa não é a posição maioritária. Essa base eleitoral pretenderia que Sánchez negociasse a abstenção e que confinasse Rajoy a determinados limites. Nessa onda de rejeição, Sánchez bateu-se duramente pelo apoio aos seus candidatos nas eleições regionais e com essa presença no terreno eleitoral, indo à luta, comprometeu-se antecipadamente com os resultados. O PSOE teve nas duas regiões uma derrota profunda: não impediu o avanço das forças inorgânicas do PODEMOS, sendo por elas ultrapassado em número de votos e não evitou a maioria absoluta do PP na Galiza e o empate com o PSOE no País Basco. Duro revés para quem foi à luta.

Uns dias depois Sánchez, faz a jogada tradicional de surpreender adversários internos potenciais, propondo primárias em outubro e congresso em novembro, tudo isto a tempo (em passo acelerado claro está) das eventuais terceiras eleições em dezembro. A parte contrária, com protagonistas diversificados, retaliou promovendo a demissão em bloco de 17 membros da Comissão Executiva, admitindo com isso que tal queda em bloco iria provocar a queda da liderança. Mas a minha experiência de observador atento destas matérias confirma que se há matéria obscura (naturalmente et pour cause) do direito é a do direito estatutário dos partidos. A confusão é sempre caótica quando surgem questões desta natureza. Resultado: a Comissão de Ética e de Resolução de Conflitos não tem tido condições para reunir e apesar da sua presidente dizer que quem manda é ela, mensagem transmitida claro a partir das redes sociais, normalmente tweetando, a verdade é que por agora paira a seguinte interrogação: Sánchez está ou não com os seus plenos poderes? Os líderes regionais, e há para todos os gostos, também designados de barões, estão ao rubro nas suas pretensões e mostram também um outro efeito das autonomias regionais, cacofonia mais ou menos caótica de pronunciamentos a favor e contra de Sánchez. Até o sempre relevante Felipe González veio a terreiro invocar conversas pessoais com Sánchez que teria presumidamente manifestado a sua intenção de se abster na investidura de Rajoy.

Imagino que o estático e inábil Rajoy estará a rebolar-se de riso, o que o compensa dos sucessivos salpicos de corrupção que vão emergindo como cogumelos a partir do PP, pensando que tal como os mercados lhe trouxeram em mãos uma situação macroeconómica favorável, também o PSOE irá desagregar-se por ele próprio, tendo apenas que preocupar-se com os acelerados do PODEMOS.

O Rei, entretanto, já terá confessado na intimidade à Olívia Palito Letízia que não esperaria reinar com tanta confusão, em pleno caos diria eu. O seu pai, no entanto, já terá pensado que mais valerá uma caçada furtiva do que aturar e mergulhar em tão grande lio.

Imagino que grande parte dos espanhóis estarão atónitos. E a maioria sociológica do PP dialogará com os seus botões dizendo que se calhar não será tão complicado como isso renovar essa profunda maioria.

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