(El País)
(Não contava que
os meus bad feelings sobre o futuro do PSOE se precipitassem tão depressa. O
editorial do El País de hoje diz mais ou menos isto “salvemos o PSOE”. Tudo isto mesmo sem estarem confirmadas as terceiras eleições em
Espanha)
O que se vai passando
por estes dias no PSOE é um pouco do mais cru e tosco que se possa imaginar
poder acontecer em matéria de luta pelo poder interno de um partido. Recordemos
a sequência dos acontecimentos. Apesar de não ser realista admitir que consiga
formar um governo à esquerda com os acelerados do PODEMOS, o líder do PSOE,
Pedro Sánchez, tem-se mantido firme no que ele diz ser uma lealdade profunda
para com as bases militantes do partido, rejeitando o apoio, mesmo que por
abstenção, à hipótese de Rajoy governar. Há, porém, sinais, de que entre a base
eleitoral do PSOE, francamente mais extensa do que a militante, essa não é a
posição maioritária. Essa base eleitoral pretenderia que Sánchez negociasse a abstenção
e que confinasse Rajoy a determinados limites. Nessa onda de rejeição, Sánchez
bateu-se duramente pelo apoio aos seus candidatos nas eleições regionais e com
essa presença no terreno eleitoral, indo à luta, comprometeu-se antecipadamente
com os resultados. O PSOE teve nas duas regiões uma derrota profunda: não
impediu o avanço das forças inorgânicas do PODEMOS, sendo por elas ultrapassado
em número de votos e não evitou a maioria absoluta do PP na Galiza e o empate
com o PSOE no País Basco. Duro revés para quem foi à luta.
Uns dias depois Sánchez,
faz a jogada tradicional de surpreender adversários internos potenciais,
propondo primárias em outubro e congresso em novembro, tudo isto a tempo (em
passo acelerado claro está) das eventuais terceiras eleições em dezembro. A
parte contrária, com protagonistas diversificados, retaliou promovendo a
demissão em bloco de 17 membros da Comissão Executiva, admitindo com isso que
tal queda em bloco iria provocar a queda da liderança. Mas a minha experiência
de observador atento destas matérias confirma que se há matéria obscura
(naturalmente et pour cause) do direito é a do direito estatutário dos
partidos. A confusão é sempre caótica quando surgem questões desta natureza.
Resultado: a Comissão de Ética e de Resolução de Conflitos não tem tido condições
para reunir e apesar da sua presidente dizer que quem manda é ela, mensagem
transmitida claro a partir das redes sociais, normalmente tweetando, a verdade
é que por agora paira a seguinte interrogação: Sánchez está ou não com os seus
plenos poderes? Os líderes regionais, e há para todos os gostos, também
designados de barões, estão ao rubro nas suas pretensões e mostram também um
outro efeito das autonomias regionais, cacofonia mais ou menos caótica de
pronunciamentos a favor e contra de Sánchez. Até o sempre relevante Felipe
González veio a terreiro invocar conversas pessoais com Sánchez que teria
presumidamente manifestado a sua intenção de se abster na investidura de Rajoy.
Imagino que o estático e
inábil Rajoy estará a rebolar-se de riso, o que o compensa dos sucessivos
salpicos de corrupção que vão emergindo como cogumelos a partir do PP, pensando
que tal como os mercados lhe trouxeram em mãos uma situação macroeconómica
favorável, também o PSOE irá desagregar-se por ele próprio, tendo apenas que
preocupar-se com os acelerados do PODEMOS.
O Rei, entretanto, já
terá confessado na intimidade à Olívia Palito Letízia que não esperaria reinar
com tanta confusão, em pleno caos diria eu. O seu pai, no entanto, já terá pensado
que mais valerá uma caçada furtiva do que aturar e mergulhar em tão grande lio.
Imagino que grande parte
dos espanhóis estarão atónitos. E a maioria sociológica do PP dialogará com os
seus botões dizendo que se calhar não será tão complicado como isso renovar
essa profunda maioria.
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