(Os jornais de
hoje deram conta de informação relativa ao Boletim Estatístico do Banco de Portugal
de setembro colocando nuvens
sobre o incumprimento de crédito das empresas exportadoras. Os dados merecem
alguma atenção mas não necessariamente e apenas por más razões)
O stock de empréstimos concedidos às empresas
que preenchem o critério de classificação do Banco de Portugal (BP) de empresas
exportadoras tem oscilado nos últimos dois anos em torno dos 17.500 milhares de
euros. Nos dados agora publicados pelo BP regista-se a lenta mas sustentada
subida do peso dos empréstimos a empresas classificadas como exportadoras, atingindo
em agosto de 2016 a quota de 22,4% dos empréstimos concedidos a empresas privadas.
É um dado positivo a registar, tudo indicando que se trata, como referi, de um
aumento lento mas sustentado.
Porém, quando analisamos
o comportamento das taxas de variação anual desses empréstimos, o gráfico do BP
que abre este post documenta uma
descida desse ritmo de crescimento após 2014, o que contrasta, por exemplo, com
o comportamento das taxas de crescimento do crédito ao consumo das famílias. O
que exige algumas cautelas. Este tipo de comportamento comparativo não pode
reproduzir-se indefinidamente, pode justificar-se em períodos curtos de recuperação
do consumo, mas como indicador de alocação de recursos coloca imensas reservas.
Os jornais
de hoje deram relevo sobretudo ao facto do peso do crédito vencido nas empresas
exportadoras ter vindo a subir desde 2014 centrando-se em fins de agosto de
2016 em cerca de 7% do crédito concedido a esse tipo de empresas. Convém,
entretanto, não ignorar que o peso do incumprimento de crédito no total das
empresas privadas é bem superior aos 7% das exportadoras, mais propriamente 17,1%.
Portanto, “mixed feelings” acerca
destes dados. Imagino que o crescimento do rácio do crédito vencido nas
exportadoras possa dever-se sobretudo a problemas do tipo “Angola”. Se o for não
é preocupante, ainda que não possamos ignorar os efeitos da suspensão de
pagamentos em Angola. Por muito que isso possa impactar a economia portuguesa, sabemos
que o futuro da especialização nacional não está numa parte substancial das exportações
para o mercado angolano.
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