(A solidez
confiante dos alemães começa a ter os seus rombos, a começar pela desonestidade
de um dos expoentes da sua indústria automóvel, passando pela situação difícil
dos seus bancos de poupança e
agora com o trambolhão das últimas semanas das cotações do Deutsche Bank a
situação parece complicar-se)
O ministro Schäuble, a quem o meu amigo Professor
Leonardo Costa (Universidade Católica – Porto) dedicou no Social Europe um delicioso artigo (ver link aqui), costuma dizer
que os mercados não se enganam e que têm a sua intuição muito própria. Com base
nessa, para ele, inquebrantável certeza, tem forçado a nota para que as
economias do sul se adaptem, ainda que penosamente, a esse ditame de intuição
dos mercados.
Estou curioso se o ministro das Finanças alemão
interpreta do mesmo modo a reação das últimas semanas desses mesmos mercados
precipitando a descida do valor das ações do Deutsche Bank para níveis tais que estão a precipitar vendas
massivas do título (ver gráfico que abre este post), aliás com contágio
evidente para as ações dos bancos europeus cujo valor médio de cotação tem
enfrentado um trambolhão também significativo (ver gráfico abaixo, também com
origem no sempre atento Financial Times).
A queda agora verificada não é precedida apenas pela
singela referência de onde há fumo há fogo. A solidez do balanço do DB a
situações de pressão financeira perde em confronto com outros bancos da
economia global. Para o FMI, o DB é atual e declaradamente um risco em termos
de emprestador na economia mundial e estima-se que a sua carteira de ativos
esteja ameaçada por fortes imparidades e não consta que a proveniência dessas
imparidades venha essencialmente das economias do sul (talvez com exceção da
Grécia). Os alemães trataram, pelo menos em Portugal, se se por ao fresco. Para
complicar a questão, tal como divulguei aqui em tempo oportuno o importante
artigo da New Yorker sobre ligações
perigosas em que o DB se deixou enredar a leste, os maus costumes bancários
parecem ter também passado pela instituição e é conhecida a intenção das
autoridades americanas aplicarem uma multa pesada à instituição.
A partir daqui a história vai ser conhecida. Por um lado,
os responsáveis pelo banco a negarem qualquer processo de resgate a ser
assumido pelo governo alemão. Por outro lado, este último a reafirmar a sua
confiança na solidez da instituição. Bem sei que não é de bom-tom regozijar-se
com o fogo na casa dos outros e neste caso um outro abalo sistémico do sistema
financeiro mundial seria algo de verdadeiramente indesejável para a economia
portuguesa e para a recuperação do nosso bem-estar mundial. Como é óbvio não o
farei. Mas a matéria é relevante para fazer ver aos líderes alemães que o
enquadramento da economia mundial é bem mais preocupante e alarmante do que a
sua convicção impositiva de um modelo às economias endividadas do sul.
A secretária da Senhora Merkel começa a empilhar-se de
casos bicudos que, pela sua complexidade, têm pelo menos a virtude de lhe
roubar tempo para olhar insistentemente para os gráficos que evidenciam a perda
de fogo eleitoral da CDU, alterando a sua posição relativa na aliança de
governo com o SPD.
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