(Fundação Francisco Manuel dos Santos, "Desigualdade de distribuição de rendimento e pobreza em Portugal", setembro 2016, coordenação Carlos Farinha Rodrigues)
(O estudo
coordenado por Carlos Farinha Rodrigues para a Fundação Francisco Manuel dos
Santos ocupou uma larga fração do tempo de debate do Quadratura do Círculo de ontem, pena foi que o politicamente correto também passasse
por lá)
O gráfico que abre este post, de autoria da equipa coordenada
pelo Professor Carlos Farinha Rodrigues para a Fundação Francisco Manuel dos
Santos, centrado na análise dos efeitos sociais do ajustamento da Troika, cobrindo
um período entre 2009 e 2014, confirma resultados do trabalho realizado pela
equipa da Faculdade de Economia do Porto liderada pela Professora Maria Pilar
González em que me integrei. No gráfico em causa, é visível que a queda do
rendimento disponível por adulto equivalente foi mais acentuada nos 20% mais pobres
(os dois primeiros decis da distribuição), seguida pela queda observada nos 10%
mais ricos (último decil).
Ou seja, tal como foi
objeto da minha análise neste blogue, foram os grupos mais pobres da população
a experimentar o maior impacto do ajustamento, ao contrário do anunciado pelo
governo de então. O discurso político desse governo ignorou que, tal como Lobo Xavier
corretamente ontem o assinalou, uma coisa são os efeitos dos cortes impostos
pela política de austeridade, outra coisa bem mais importante são os efeitos globais
determinados pela austeridade como um todo que atinge a destruição do sistema produtivo
e provoca danos por via do desemprego. Também como oportunamente o assinalámos,
para além de mais elevadas, as quedas percentuais de rendimento disponível dos
mais pobres são mais socialmente impactantes do que as experimentadas pelos
mais ricos, embora estes últimos tenham tido significado. O estudo da FFMS
surge no tempo exato, ou sejam numa semana que a ideia do imposto sobre a
acumulação de património imobiliário foi corretamente associada à desigualdade
na sociedade portuguesa.
Mas, pela confiança que
tinha nos resultados a que a equipa do trabalho da FEP chegou, esperei ingenuamente
que os resultados do impactante estudo da FFMS despertassem mais discussão
entre os três intervenientes no Quadratura. É que os resultados a que chegámos
e agora os publicados pelo estudo da FFMS suscitariam alguma discussão recorrente
sobre a afirmação recorrente de Pacheco Pereira de que o processo de ajustamento
austeritário impactou marcadamente a classe média. Não perdendo de vista que é
muito problemática a associação que tendemos a fazer entre grupos de rendimento
intermédio e classes médias, os dados da FFMS confirmam a perda de rendimento
dos grupos intermédios de rendimento, mas também sugerem que são
percentualmente mais baixos do que os suportados pelos grupos mais pobres e também
pelos mais ricos. O que justificaria algum debate entre os três intervenientes.
Isso não aconteceu e
todos pareceram convergentes no reconhecimento de que afinal foram os mais pobres
a suportar o fardo. Só espero que isso não sugira que o politicamente correto
também está a passar pelo Quadratura …
Uma última nota, que
vale o que vale. Aqui há uns meses, tive a oportunidade de estar presente num júri
de mestrado no ISEG, a convite do Paulo Trigo Pereira, júri esse presidido pelo
Professor Carlos Farinha Rodrigues. Em conversa pessoal pós provas, dei conta
ao Carlos Farinha Rodrigues do nosso trabalho, da publicação do primeiro artigo
na obra coletiva da OIT na Edward Elgar e do segundo, mais centrado no tema das
classes médias, que aguarda publicação também na Edward Elgar. No dia seguinte,
por questão de amabilidade e de ética de investigação, enviei-lhe os dois
artigos, o já publicado e o que aguarda publicação. Como a nossa investigação não
é invocada, não esperaria que a mesma fosse integrada na bibliografia do
trabalho da FFMS. Mas não teria ficado mal ao seu coordenador a sua integração na
bibliografia, afinal era apenas a retribuição de uma delicadeza da nossa parte.
Que a exposição mediática vos aproveite.
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