(Simplesmente à
boleia de um dos temas da rentrée do Quadratura do Círculo, embora com posições divergentes nessa
matéria)
O Quadratura do Círculo
regressou ao trabalho, em torno ainda morno, aliás como acabou antes de férias.
Não havendo temas que fraturem a conversa entre Pacheco Pereira e Lobo Xavier,
a sensaboria instala-se pois Jorge Coelho raramente se aventura em alguma coisa
que mereça 50 minutos de sofá em alternativa a uma passeata higiénica. Jorge
Coelho está transformado em bom pai de família do debate televisivo e sabe-se
lá porquê os dois restantes intervenientes parecem conviver bem com essa
companhia.
O tema da silly season foi uma das questões
afloradas no debate. Pacheco Pereira a esse propósito focou-se na invasão da
privacidade que o fisco tem vindo a construir e Lobo Xavier zurziu na maneira
desequilibrada como a comunicação social tratou o tema da Caixa Geral de
Depósitos que praticamente todos consideraram uma vitória do governo de António
Costa.
Por silly season entendo eu um período em que, talvez provocadas pelo
excesso de calor sobre as meninges dos políticos, estes intensificam a produção
de dislates, trapalhadas e irremediáveis faltas de bom senso. Ora, por mais que
a canícula tenha apertado, nada se passou de relevante que traduza uma mudança
considerável de tom face ao que estamos habituados. Senão vejamos.
Vejamos o tema das
viagens de secretários de Estado às custas da GALP para o “trabalho político”
de cavalgar por terras de França as proezas da seleção nacional. Que o futebol
já há muito funciona como barómetro da situação global de amortecimento dos
problemas do país, projetando uma imagem de nós próprios que continua a ser
distorcida, acho que ninguém o pode deixar de reconhecer. E as relações entre
exercício de funções públicas e as benesses ou proximidade do setor privado
estão tão encrustadas na classe política mobilizável para a governação que
muitos candidatos a essa mobilização acharão perfeitamente normal uma viagem,
um almoço ou jantar ou outra benesse circunstancial. Já não falo no cálculo
intertemporal dos que passam pela governação a pensar sobretudo (no serviço
público? o quê?) na relação futura com o setor privado que um dia lhes cairá no
sapatinho. A resposta do PS também é conhecida: legisle-se para evitar estes
contrapontos. Por isso, nada de novo de tão silly
nesta estação da canícula.
Vejamos agora o tema da
CGD. Curiosa a análise de Lobo Xavier quando refere a incapacidade do Governo
capitalizar a vitória que constituiu a decisão concretizada no meio de tanta
incompetência circunstancial, sobretudo à cabeça com aquela invenção de
Mourinho Félix que depois de participar numa solução de composição de
administradores para a Caixa incompatível com legislação nacional se apressou a
querer conceber nova legislação para conformar decisão já produzida. Bom, um
tanto silly, mas o secretário de
Estado já há muito mostrou não ser o complemento que Centeno tanto precisaria
para se aguentar. Sim, face ao desplante de uma Maria Luís Albuquerque que é
capaz de manter o mesmo fácies de sempre quando recicla a história da sua própria
incompetência, a CGD é uma grande vitória do Governo. Mas gostaria de estar
mais convencido disso, pois permaneço inseguro quanto ao que o Governo quer
fazer da Caixa, ou mais rigorosamente, o que é a que nova administração tem
para propor e fazer que contribua para o relançamento da economia portuguesa.
Bom, depois temos aquela
joia da retórica política de Passos Coelho na sua intervenção na rentrée da
Quarteira. Cada qual escolhe os lugares da sua rentrée e o PDS lá sabe por que razão
a Quarteira. Mas aquele improviso tosco de Passos nesse evento não é silly season, é o que nos tem para
oferecer. O homem não estudou para mais e não conseguiu ainda explicar aos
portugueses o que mudaria efetivamente com a sua (cruzes credo) governação.
Finalmente, temos a denúncia
de Pacheco Pereira quando aos riscos da liberdade individual perante o big brother fiscal. Sim, os portugueses
prezam pouco a liberdade individual, acomodaram-se com as restrições da mesma.
E o fisco transformou-se numa máquina de punção fiscal perante a evidência de que
a massa principal de cobrança de impostos vem de um conjunto relativamente reduzido
de contribuintes, alguns dos quais os sucessivos governos têm receio de
incomodar, o que é sobretudo válido no universo empresarial do IRC. Mas não associemos
essa deriva à estação política da canícula e das férias, mas antes a um tema
que deveria estar no centro da revisão do pensamento social-democrata.
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