(As eleições para
a Câmara do Porto correm o risco de se transformar numa ópera bufa, não sendo fácil entender o que pretende o PS
como um todo)
Sorrateiramente e ao de leve,
a contagem decrescente para as eleições para a Câmara Municipal do Porto começa
a empertigar os espíritos concorrentes. Pela aragem que se desprende da
carruagem, o presidente Rui Moreira está numa de construir uma frente política
ainda mais alargada ou então a procurar marcar uma linha de independência mais forte
em relação às forças partidárias. Não me parece fácil consumar uma ou outra das
orientações. Senão vejamos. Comecemos pela tentativa de afirmar uma posição de
maior independência face às forças políticas partidárias mais representativas. A
chamada ao executivo do novo vereador Ricardo Valente pescando nas hostes do
PSD pode ser entendida como um propósito de chamar ao seu projeto competências
inequívocas e neste caso ambiciosas, pois o novo vereador nunca o ocultou na
sua vida académica e profissional. Mas também pode ser vista como um piscar de
olho ao novo PSD distrital, agora sob a chefia de Bragança Fernandes, Presidente
da Câmara Municipal da Maia, que os jornais classificam de próximo de Moreira em
termos de amizade e relacionamento. Mas há uma areia na engrenagem. É que não
sendo visível na ação do executivo de Moreira a influência dos vereadores
independentes, a presença mais marcante no executivo é a de Manuel Pizarro,
vereador eleito pelo PS e que não ser classificado como um independente, antes
próximo de António Costa e da governação atual.
É neste contexto que os jornalistas
se interrogam sobre o significado das arremetidas mais recentes de Moreira
contra Costa (o S. João já lá vai) e na última reunião do Executivo contra Carla
Miranda (quem será a personagem?), vereadora eleita pelo PS sem pelouro atribuído.
Será que a vereadora tirou do sério o presidente com uma daquelas tomadas de
posição que são comuns nos personagens do PS local, descoordenadas com a ação
do seu vereador no Executivo e simplesmente para mostrar que está presente, mesmo
não antecipando o tiro na água que produziu? É possível e não me admiraria. Mas
também admito que o cálculo eleitoral de Moreira passe por um distanciamento
face à governação atual e que nessa orientação haja danos colaterais, estando a
vereadora Carla Miranda no lugar errado à hora errada.
Estou-me nas tintas para
tais pormenores, sobretudo agora que pelos vistos não terei oportunidade como residente
de Vila Nova de Gaia votar em questões metropolitanas, possibilidade que incomodaria
Moreira, com posição agora reforçada pela reserva de Marcelo quanto às eleições
metropolitanas diretas.
Mas do ponto de vista do
Partido Socialista a situação não me agrada, pois gostaria de saber o que pensa
o PS das questões da cidade do Porto, podendo até dar de barato que tais posições
pudessem conduzir a uma plena identificação com o programa eleitoral de Rui
Moreira. Isso é outra questão e teria de passar por uma explicação cabal das razões
que justifiquem um eventual apoio a Moreira. Um projeto de governação consequente
também passa pelo que o PS tem a dizer e a oferecer em Câmaras Municipais
relevantes fora da alçada de Lisboa. Continuo a achar que a menoridade e falta
de expressão de pensamento das federações do PS longe da influência de Lisboa,
e a Norte isso é mais vincado, são também resultado do entendimento que a inteligência
lisboeta e da governação do PS faz das tribos cá do Norte. Tenho a impressão
que acima do Douro isto é visto como um conjunto de índios, com comportamentos
inexplicáveis à luz dos códigos de racionalidade e conduta de quem está próximo
da governação e dos interesses a ela associados. Tenho notado que regularmente
em governos PS existem sempre os chamados intérpretes do comportamento dos tais
índios, em que o centro político confia para decidir em conformidade.
Por isso, embora tenha
as melhores impressões e evidências da ação do vereador Manuel Pizarro, o PS
como tal arrisca-se a sair mal do processo eleitoral no Porto. E isso não me
agrada pois Rui Moreira pode ser uma excelente pessoa e um bom Presidente mas não
sou propriamente um fan do seu clube de pensamento. E o Porto político ganharia
com uma melhor explicitação dos projetos para a Cidade e o PS não deveria ficar
de fora desse escrutínio.
P.S. Do frenesim da
noite de ontem no Porto, na Praça, com um enérgico Sérgio Gpdinho a contracenar
como uma luva com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, para o sossego da noite de
hoje em Seixas-Caminha vai toda uma distância entre uma aglomeração cosmopolita
a abarrotar de turistas e o pequeno aglomerado da ruralidade próxima.
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