(O ar dos jovenzinhos
PSD em Castelo de Vide, ouvindo a preleção do seu líder, é bem a imagem do vazio do que a oposição
tem para oferecer)
O papel que desta vez
Passos Coelho trouxe para apoiar a sua intervenção era talvez mais estruturado
do que o da Quarteira, mas aquilo que tem para oferecer a um eventual ato
eleitoral suscitado por uma possível crise política no acordo parlamentar à
esquerda (cada vez mais remoto no tempo próximo) é pouco e assenta num
pressuposto que é falso. Passos tem uma ideia de si (ou a alguém a inculcou ou
ele próprio o considera) como um político reformista ou, por outras palavras,
que a governação PAF por si comandada trouxe ao país importantes reformas
estruturais. Não, não trouxe, aliás como a grande maioria dos analistas que se
reviram nessa governação acaba por aceitar. Por isso, quando acena com o
espantalho que o governo de António Costa está a anular tais reformas assume um
argumento falso. A não ser que considere que medidas como a redução de feriados
ou a semana de 35 horas constituem decisivas mudanças estruturais. Pode Passos
queixar-se de que a governação Costa está a repor coisas que a governação PAF
cortou. É verdade. Mas isso não equivale a anular reformas estruturais, simplesmente
porque elas não existiram.
Curiosamente, a única
medida que poderia ser considerada como o início de trajetória de uma reforma
estrutural, a legislação sobre o IRC, aprovada aliás com o acordo de António
José Seguro, passa despercebida na arremetida de Passos Coelho. E aliás se ao
PAF pode ser assacado algo de relevante é precisamente o contrário de reformas
estruturais, por exemplo a inação na gestão do sistema financeiro e dos seus
podres.
Por isso, por mais complexa
que seja a situação ditada pelos resultados macroeconómicos da governação à
esquerda, a verdade é que o falso pressuposto das reformas estruturais anuladas
retira solidez e credibilidade aos discursos de antecipação do fracasso em que
Passos se deixou enredar. Não sabemos se a governação à esquerda vai facilitar
a vida ao pseudo reformista. Porque se não o facilitar, Passos pode estar encurralado,
sem saída que se veja para recuperar a confiança do eleitorado para uma maioria
absoluta.
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