domingo, 4 de setembro de 2016

O PSEUDO REFORMISTA




(O ar dos jovenzinhos PSD em Castelo de Vide, ouvindo a preleção do seu líder, é bem a imagem do vazio do que a oposição tem para oferecer)

O papel que desta vez Passos Coelho trouxe para apoiar a sua intervenção era talvez mais estruturado do que o da Quarteira, mas aquilo que tem para oferecer a um eventual ato eleitoral suscitado por uma possível crise política no acordo parlamentar à esquerda (cada vez mais remoto no tempo próximo) é pouco e assenta num pressuposto que é falso. Passos tem uma ideia de si (ou a alguém a inculcou ou ele próprio o considera) como um político reformista ou, por outras palavras, que a governação PAF por si comandada trouxe ao país importantes reformas estruturais. Não, não trouxe, aliás como a grande maioria dos analistas que se reviram nessa governação acaba por aceitar. Por isso, quando acena com o espantalho que o governo de António Costa está a anular tais reformas assume um argumento falso. A não ser que considere que medidas como a redução de feriados ou a semana de 35 horas constituem decisivas mudanças estruturais. Pode Passos queixar-se de que a governação Costa está a repor coisas que a governação PAF cortou. É verdade. Mas isso não equivale a anular reformas estruturais, simplesmente porque elas não existiram.

Curiosamente, a única medida que poderia ser considerada como o início de trajetória de uma reforma estrutural, a legislação sobre o IRC, aprovada aliás com o acordo de António José Seguro, passa despercebida na arremetida de Passos Coelho. E aliás se ao PAF pode ser assacado algo de relevante é precisamente o contrário de reformas estruturais, por exemplo a inação na gestão do sistema financeiro e dos seus podres.

Por isso, por mais complexa que seja a situação ditada pelos resultados macroeconómicos da governação à esquerda, a verdade é que o falso pressuposto das reformas estruturais anuladas retira solidez e credibilidade aos discursos de antecipação do fracasso em que Passos se deixou enredar. Não sabemos se a governação à esquerda vai facilitar a vida ao pseudo reformista. Porque se não o facilitar, Passos pode estar encurralado, sem saída que se veja para recuperar a confiança do eleitorado para uma maioria absoluta.

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