(O tema do recuo
da globalização foi aqui devidamente antecipado, e a tendência mantem-se agora com
a OCDE a acusar esse registo na qualidade de guardiã do comércio livre, o que mostra estarmos perante um facto estrutural
incontornável no pós-crise financeira)
A OCDE veio a jogo para,
na qualidade de guardiã do templo do comércio livre, expressar a sua preocupação
para com a convergência de uma série ampla de indicadores, todos apontando para
a evidência do recuo da globalização, pelo menos da sua dimensão económica de integração
das trocas internacionais.
O Interim Economic Outlook de setembro de 2016 e alguns artigos de
suporte que o ajudaram a preparar acolhem evidências diversificadas que vêm na
linha de dimensões analíticas destacadas neste blogue. Entre tais evidências, o
comportamento de recuo ou de encurtamento que as cadeias de valor globais (CVG)
estão a atravessar merece uma referência particular. A extensão dessas CVG é
seguramente um dos mecanismos chave através dos quais a integração económica
mundial se aprofunda. Quanto mais forte é o peso do comércio dos produtos
intermédios no comércio mundial mais intenso é o alargamento das CVG e,
consequentemente, da dimensão económica da globalização. Ora esse indicador está
em recuo, como se as CVG estivessem a encolher. O gráfico que abre este post descreve esse alerta.
Uma outra dimensão do pronunciamento
oficial da OCDE suscita mais questões e prende-se com a associação que a
organização internacional faz entre o recuo da globalização e os problemas de
produtividade que a economia mundial está a experimentar. Uma organização
guardiã do templo do comércio livre teria obviamente que forçar essa
interpretação. Porém, embora lhe assista todo o direito de alertar para os
perigos que pode representar para muitos países o fechamento económico do mundo,
a OCDE deveria oferecer um contributo bem mais relevante para questionar os
rumos da globalização tal como esta se manifestou no período anterior à crise
de 2007-2008. Sem esse outro contributo, os seus alertas sobre o recuo da
globalização correm o risco de ser uma simples constatação de uma evidência, ou
seja caírem em saco roto.
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