sábado, 24 de setembro de 2016

O RECUO DA GLOBALIZAÇÃO PELAS LENTES DA OCDE




(O tema do recuo da globalização foi aqui devidamente antecipado, e a tendência mantem-se agora com a OCDE a acusar esse registo na qualidade de guardiã do comércio livre, o que mostra estarmos perante um facto estrutural incontornável no pós-crise financeira)

A OCDE veio a jogo para, na qualidade de guardiã do templo do comércio livre, expressar a sua preocupação para com a convergência de uma série ampla de indicadores, todos apontando para a evidência do recuo da globalização, pelo menos da sua dimensão económica de integração das trocas internacionais.

O Interim Economic Outlook de setembro de 2016 e alguns artigos de suporte que o ajudaram a preparar acolhem evidências diversificadas que vêm na linha de dimensões analíticas destacadas neste blogue. Entre tais evidências, o comportamento de recuo ou de encurtamento que as cadeias de valor globais (CVG) estão a atravessar merece uma referência particular. A extensão dessas CVG é seguramente um dos mecanismos chave através dos quais a integração económica mundial se aprofunda. Quanto mais forte é o peso do comércio dos produtos intermédios no comércio mundial mais intenso é o alargamento das CVG e, consequentemente, da dimensão económica da globalização. Ora esse indicador está em recuo, como se as CVG estivessem a encolher. O gráfico que abre este post descreve esse alerta.

Uma outra dimensão do pronunciamento oficial da OCDE suscita mais questões e prende-se com a associação que a organização internacional faz entre o recuo da globalização e os problemas de produtividade que a economia mundial está a experimentar. Uma organização guardiã do templo do comércio livre teria obviamente que forçar essa interpretação. Porém, embora lhe assista todo o direito de alertar para os perigos que pode representar para muitos países o fechamento económico do mundo, a OCDE deveria oferecer um contributo bem mais relevante para questionar os rumos da globalização tal como esta se manifestou no período anterior à crise de 2007-2008. Sem esse outro contributo, os seus alertas sobre o recuo da globalização correm o risco de ser uma simples constatação de uma evidência, ou seja caírem em saco roto.

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