(La Vanguardia)
(Em vários anos,
ao longo da vida deste blogue, temos aqui saudado a realização da Diada catalã,
mas nunca como no contexto
de hoje, em que imagino serem possíveis várias Diadas e não necessariamente convergentes
nos seus propósitos…)
Podemos imaginar todos os remoques possíveis à
Diada catalã do 11 de setembro. Mas não podemos ficar indiferentes à manifestação
de identidade que ela representa. Todos os anos. Mais ou menos expressiva e
aguerrida, regra em geral em função da conjuntura política e por conjuntura política
leia-se sobretudo estado da arte das relações com Madrid. A expressão massiva
de rua que a Diada representa, não apenas em Barcelona, mas também noutras zonas
da Catalunha, não pode ser ignorada, nunca cometi esse erro de perceção, pois
seria erro grave fazer vista grossa a tal fenómeno. Mas, à medida que o
independentismo catalão se tornou mais agressivo e diria mesmo irresponsável,
largamente oleado pelo centralismo castelhano que não tem jogo de cintura para trabalhar
com a identidade catalã, hoje é cada vez mais difícil perceber que Diadas estarão
hoje na rua. Certamente que estará a Diada independentista, largamente
interessada em utilizar o fervor do dia para um “calentamiento” da situação política
catalã, cinco dias depois em que foram aprovadas com expedientes pouco democráticos
a lei do referendo de 1 de outubro e a lei de transição que o deve enquadrar do
ponto de vista do fissurado parlamento catalão. Mas haverá também a Diada nacionalista
não independentista, talvez dependente de uma perigosa convicção de
superioridade face a outras regiões espanholas e talvez ainda com esperança na
defesa de uma nação catalã entre uma Espanha (cada vez mais longínqua) de nações.
Estou em crer que haverá também na rua a Diada simplesmente orgulhosa da sua
identidade cultural, tão só interessada em valorizar essa identidade numa Espanha
mais plural. Talvez esta Diada não tenha ainda desistido de vir à rua, desejosa
de contrariar o declive perigoso do independentismo.
A divergência está definitivamente instalada
na Diada deste ano, apesar da expressividade que as grandes manifestações vão seguramente
representar. A fogosa Alcadesa de Barcelona, Ada Colau, na sessão de hoje da
Diada em Santa Coloma de Gramenet, organizada por Catalunya en Comú, acusava a formação Junts pel Si de convocar um referendo que deixa de fora metade da população
da Catalunha. Ada Colau não é propriamente uma agente do PP, do Partido
Socialista Catalão ou do Ciudadanos. Por sua parte, a divisão do Podemos é
franca e aberta. Os municípios dividem-se também na difícil decisão de colocar
ou não a logística eleitoral municipal ao serviço do 1 de outubro. Ou seja, a
fratura que se avizinha é generalizada.
Por isso, talvez nunca como hoje, a força expressiva
da Diada tenha ocultado tanta divergência. O radicalismo independentista, como
todos os radicalismos, corre o sério risco de gerar uma fratura irreversível e
por isso insisto na tese do meu último post, fratura e bloqueio. Puigdemont e
seus pares buscam um mártir. Oxalá Rajoy não caia nessa armadilha.
Sem comentários:
Enviar um comentário